sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

'Negacionismo lulista', por Artur Piva

 

Ilustração: Revista Oeste/Shutterstock


Ao ignorar os resultados positivos alcançados pelo governo Bolsonaro e a herança perversa deixada por Dilma Rousseff, Lula mostra que não aprendeu nada desde que deixou o poder


Quem lê o relatório final do Gabinete de Transição de Lula chega à conclusão de que o Brasil está à beira de um colapso. Das cem páginas produzidas pelas mil pessoas que compuseram a peça, 46 são usadas exclusivamente para afirmar que o governo Bolsonaro deixou uma “herança perversa”. O negacionismo matemático da equipe coordenada por Geraldo Alckmin ignora de forma proposital a série de resultados positivos alcançados nos últimos quatro anos em quase todas as áreas.

Lula fez o mesmo em seu primeiro mandato, quando inventou outra mentira: a “herança maldita” de Fernando Henrique Cardoso. Em janeiro de 2003, caiu no colo do petista um país com a inflação sob controle, modernizado pelo início da privatização de mamutes estatais e vigiado pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Lula também sabe que o Brasil deste fim de dezembro é infinitamente melhor que a terra arrasada deixada por Dilma Rousseff.

Negacionismo econômico

No plano econômico, por exemplo, o relatório ignora o enfrentamento à pandemia de covid-19 e as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia e critica Bolsonaro por entregar o país com uma média de 1,5% de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O texto também omite que, em 2015 e 2016, últimos anos de Dilma no poder, a economia nacional registrou queda anual de pouco mais de 3%.

A peça esconde ainda que a petista deixou a Presidência com um legado de desemprego em massa e descontrole inflacionário. O cenário é muito diferente do atual: pela primeira vez na história, para um ciclo de 12 meses, o Brasil tem uma inflação menor que a de países como Estados Unidos e Alemanha — referências mundiais de desempenho econômico.

Esse negacionismo matemático omite as perspectivas de crescimento do PIB brasileiro, em linha com o desempenho global e chinês e acima da estimativa para nações desenvolvidas. As projeções são feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e revelam que o Brasil, a China e a economia mundial vão encerrar o ano com cerca de 3% de crescimento, enquanto os norte-americanos e os alemães devem ter metade desse desempenho.

A situação atual é oposta ao resultado deixado por Dilma. No fim de 2016, o mesmo FMI previa retração na economia brasileira e crescimento econômico para a China, a Alemanha, os EUA e o mundo.

Mesmo enfrentando a pior crise sanitária da história e uma situação geopolítica desfavorável, o Brasil governado por Bolsonaro gerou quase 5 milhões de vagas formais de trabalho. Somando os trabalhadores informais e autônomos, o resultado chega a cerca de 100 milhões de empregos, um recorde.

As relações com o mercado externo ajudaram a impulsionar esses empregos. A receita com as exportações entre janeiro e novembro passou de US$ 300 bilhões — valor nunca atingido antes.

O grupo de transição do PT, no entanto, preferiu destacar a diminuição da participação da indústria de transformação na pauta de exportações. Os negacionistas de Lula escondem, contudo, que o faturamento apenas desse segmento com o mercado externo em 2022 corresponde à receita de todo o comércio internacional em 2016. Os dois valores são próximos de US$ 170 bilhões e US$ 180 bilhões, respectivamente.

Mudança de paradigma

Os números positivos do atual governo mostram um setor privado — grande gerador de riqueza e emprego — mais disposto a investir. A tendência se reflete, por exemplo, no setor de infraestrutura — o que também é ignorado pela equipe de transição.

“Na infraestrutura logística, os principais retrocessos a serem revertidos pelo novo governo são a brutal queda do investimento público e a falta de mecanismos de governança dos programas de investimentos estratégicos”, escrevem os petistas. Essa afirmação despreza os quase R$ 120 bilhões em contratos firmados com a iniciativa privada só para a infraestrutura de transporte nos quatro últimos anos.

Durante a campanha eleitoral deste ano, Lula chamou o agronegócio brasileiro de fascista. Seguindo a mesma trilha aberta pelo chefe, o gabinete de transição fechou os olhos para os resultados extraordinários de um setor que dá exemplo para o mundo

Segundo o governo federal, R$ 20 bilhões desse montante foram empregados para a conclusão de 364 obras. Por volta de 6 mil quilômetros de rodovias passaram por intervenções, entre pavimentação, duplicação e recapeamento. Das concessões realizadas pelo governo, existem cem ativos para serem construídos. A lista inclui estruturas de diversos tipos, como 32 novas ferrovias. A mudança de paradigma criada e aplicada entre 2019 e 2022 colocou o setor privado como o grande investidor.

A estratégia resultou num cenário favorável para que grandes empresas pudessem oferecer soluções mais ágeis para problemas que assolam o país desde sempre. Entre elas, o saneamento básico. O Marco Legal para esse setor, aprovado pelo governo federal em 2020, abriu caminho, por exemplo, para o governo de Alagoas atrair investimentos bilionários em concessões da rede de abastecimento de água e coleta de esgoto do Estado.

“O êxito no leilão, que levantou R$ 4,5 bilhões, é o resultado de uma agenda que vai transformar Alagoas em uma terra melhor, primeiramente, para quem vive lá e para quem nos visita”, disse na época o então governador, Renan Filho, futuro Ministro das Cidades de Lula. O relatório da equipe de transição, entretanto, ignora a nova realidade e afirma que “houve uma redução de 99,5% na previsão orçamentária para saneamento, em 2023, o que deve afetar obras em andamento, o início de obras aprovadas e/ou licitadas pela Caixa, e a retomada de obras paralisadas nos últimos anos”.

A negação pela negação

Durante a campanha eleitoral deste ano, Lula chamou o agronegócio brasileiro de fascista. Seguindo a mesma trilha aberta pelo chefe, o gabinete de transição fechou os olhos para os resultados extraordinários de um setor que dá exemplo para o mundo. Uma das expressões usadas no relatório é “queda na oferta de alimentos saudáveis”.

O agronegócio brasileiro encerra 2022 com safra recorde de grãos, tendo como carros-chefes a soja e o milho. O Brasil é ainda o maior exportador mundial de itens como café, açúcar, suco de laranja, além de carne bovina e de frango.

Em visita ao país em abril deste ano, Ngozi Okonjo-Iweala, diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), fez questão de destacar a importância dos produtos agrícolas locais. Ela salientou ainda que o agronegócio brasileiro tem papel fundamental na segurança alimentar global.

“Sei que o mundo não sobrevive sem a agricultura brasileira”, disse Ngozi. “Precisamos pensar nos desafios futuros, não só do Brasil, mas do mundo todo. Estou animada sobre o que o Brasil tem a dizer quanto à área ambiental e às tecnologias produtivas com potencial de descarbonização.”

O resultado não pode ser transitório

Apesar do que afirma o relatório da equipe de transição, os números mostram que o governo Bolsonaro, embora tenha conduzido o país em um dos períodos mais hostis da economia global, conseguiu estabelecer uma economia mais livre, mais aberta e menos dependente do Estado. Ministros como Paulo Guedes (Economia), Tereza Cristina (Agricultura) e Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) conquistaram resultados sólidos, que permitiram o início de um novo ciclo de prosperidade.

A gestão feita nos últimos quatro anos soube aproveitar as realizações de governos anteriores e acertar o passo nos pontos que precisavam ser mudados. O próximo governo receberá mais uma vez de mão beijada uma herança bendita. Mas o desprezo de Lula pelos fatos mostra que o petista não aprendeu nada desde que deixou o poder.

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