Ele tinha certeza de que existiam investigações ultrassecretas destinadas a apanhá-los.
Essa teria sido uma das motivações mais fortes da investigação capitaneada por Alexandre de Moraes, no malfadado “Inquérito do Fim do Mundo”.
De acordo com extensa matéria publicada na Revista Crusoé, o inquérito foi o instrumento utilizado para mapear em que medida a Lava Jato estaria buscando elementos desabonadores contra os ministros do STF.
Nesse sentido, o texto da revista é esclarecedor:
“Documentos sigilosos do inquérito mostram que, logo após vir a público o documento em que Marcelo Odebrecht dizia ser Dias Toffoli o ‘amigo do amigo de meu pai’, os encarregados do inquérito, por ordem de Alexandre, iniciaram uma corrida. Queriam descobrir o que mais tinha sobre Toffoli no material em poder da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, que havia tido acesso a e-mails até então inéditos trocados por executivos da Odebrecht. A medida, ao menos em tese, não guardava relação com o objetivo do inquérito, que nas palavras do próprio Toffoli, na portaria que o instaurou, deveria apurar fatos e infrações relacionadas a ‘notícias fraudulentas (fake news), denunciações caluniosas, ameaças e infrações revestidas de animus calumniandi, diffamandi e injuriandi, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros e familiares’.”
E prossegue a reportagem:
“Exatamente em 12 de abril de 2019, o dia da publicação da reportagem de capa de Crusoé que viria a ser censurada, nos autos do inquérito do fim do mundo o desembargador Cesar Mecchi Morales, magistrado a serviço do gabinete de Alexandre, despachou para Curitiba um ofício em que pedia ao delegado Filipe Pace, da Lava Jato, que remetesse para o STF uma cópia do inquérito onde estaria a mensagem relacionada a Toffoli. No documento, o magistrado dava ao delegado o prazo de 48 horas para enviar o material relacionado à investigação, ‘com todos os anexos, inclusive os sigilosos e termos de delação’. ‘Para preservar o caráter sigiloso do inquérito, solicito que a resposta seja encaminhada diretamente a este gabinete’, emendava o texto do despacho, enviado ao QG da Polícia Federal na capital paranaense.”
“Era sexta-feira, e aquele era um primeiro movimento do gabinete de Alexandre de Moraes para saber, por meio do polêmico inquérito, até que ponto ia a investigação e se dela poderiam constar fatos comprometedores em relação a Toffoli.”
Em suma, a revista Crusoé acusa Dias Toffoli com o auxílio providencial de Alexandre de Moraes, de ter atuado “em causa própria”,
Ou seja, após a descoberta de menções a Toffoli em e-mails da Odebrecht, o “inquérito do fim do mundo” foi usado para apurar secretamente se a Lava Jato tinha ministros do STF na mira, especialmente o seu então presidente.
Noutras palavras e de acordo com a reportagem da revista, o mesmo STF que apura uma 'imaginária' interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal, tem atuação direta nas entranhas do Poder Judiciário e órgãos auxiliares, em ‘causa própria’ de seus membros.
Isso tudo é gravíssimo.
Jornal da Cidade