terça-feira, 29 de setembro de 2020

Lava Jato denuncia ex-diretores da Dersa por propina nas gestões de Serra e Alckmin parceiros de FHC

Plataforma da estação Sumaré do Metrô, na linha 2 (Verde). 

Foto: Werther Santana / Estadão


Em seu último dia nos moldes atuais, a força-tarefa da Lava Jato de São Paulo denunciou na manhã desta terça-feira (29) ex-diretores da Dersa (estatal paulista de rodovias) sob acusação de lavagem de dinheiro de propina.

Os valores, segundo a acusação, foram pagos para favorecer empreiteiras em obras tocadas nas gestões dos ex-governadores tucanos José Serra e Geraldo Alckmin, parceiros de FHC.

São denunciados os ex-diretores de engenharia Mário Rodrigues Júnior e, pela quinta vez na Lava Jato paulista, Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto.

A acusação do Ministério Público Federal aponta suspeita de ocultação de recursos ilícitos pagos pela Galvão Engenharia para fazer parte do cartel de construtoras que atuou em obras como o Rodoanel Sul e o Sistema Viário Metropolitano de São Paulo.

As quantias foram enviadas para contas na Suíça e são estimados em US$ 10,8 milhões —mais de R$ 60 milhões, no câmbio desta terça.

Mário Rodrigues Júnior e Paulo Preto, diz a Procuradoria, mantiveram dinheiro no exterior por meio de empresas registradas em paraísos fiscais. O recebimento da propina teria acontecido entre 2005 e 2009 e os valores permaneceram fora do Brasil até, ao menos, 2017.

Além deles, são denunciados o ex-executivo da Galvão Engenharia José Rubens Goulart Pereira e seu irmão Cristiano Goulart Pereira. A acusação afirma que Cristiano atuava como representante dos ex-diretores da Dersa na movimentação das contas fora do Brasil.

Segundo a acusação, Cristiano, Mário Rodrigues e Paulo Vieira tinham contas no banco Bordier & Cie, abertas em nome de empresas geridas pela mesma pessoa jurídica.

Também foi denunciada a então mulher de Mário Rodrigues, Andrea Bucciarelli Pedrazzoli​, sob acusação de receber parte dos valores transferidos a ele.

A investigação usa como base delações premiadas de ex-executivos da Galvão Engenharia e da Odebrecht, e também analisou documentos bancários enviados pela Suíça que apontam as movimentações financeiras descritas pelos procuradores.

Procurado, o advogado de Paulo Vieira de Souza, Alessandro Silvério, disse que se manifestará nos autos.

Já os advogados Daniel Bialski e Juliana Bignardi, que defendem Mário Rodrigues Júnior e Andrea Bucciarelli Pedrazzoli, disseram que até o momento não tiveram acesso aos autos.

“Não temos conhecimento sobre os fatos até porque, em momento algum, Mário foi convocado a prestar esclarecimentos na Polícia Federal ou no Ministério Público", diz Bialski, em nota.

"Recebemos com espanto a notícia desta denúncia, veiculada pela grande mídia, que, ao que nos parece, dá conta de mais uma infundada acusação. Temos convicção que esta virá a ser arquivada, assim como outras já foram, uma vez que Mário sempre se pautou pela ética e probidade enquanto era funcionário da Dersa e durante toda sua vida pública”

A reportagem não conseguiu localizar os advogados dos demais acusados.

Paulo Preto também já foi alvo de uma ação civil do Ministério Público Federal sob acusação de improbidade. Ele foi condenado duas vezes, mas uma dessas condenações foi anulada por um ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça). O MPF recorre.

​A nova denúncia é assinada por quatro membros da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, que pediram desligamento e a partir desta quarta (30) já não atuam mais na operação, e também pela procuradora Viviane Martinez, que passa a ficar à frente das investigações.

Em uma segunda denúncia, apresentada no final da tarde, a Lava Jato paulista acusou executivos de grandes empreiteiras de formarem cartel entre 1998 e 2014 com o objetivo de fraudar licitações em obras de transporte público em diversas capitais do país.

De acordo com a denúncia, o cartel atuou nos processos licitatórios das linhas 2-verde, 4-amarela e 5-lilás do Metrô de São Paulo, além do monotrilho Expresso Tiradentes (que liga bairros da zona leste da capital) e a linha 17-ouro (zona sul).

Também afetou as linhas 3 e 4 do Rio de Janeiro e a construção ou expansão de ramais em Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba e Porto Alegre

Com informações de José Marques, Folha de São Paulo