O Ibovespa fechou em alta nesta quinta-feira (20) depois de chegar a perder os 100 mil pontos no início da sessão. O principal driver da sessão foi a expectativa de que a Câmara dos Deputados reverta a decisão tomada pelo Senado ontem de derrubar o veto do presidente Jair Bolsonaro ao reajuste de servidores.
A oposição pediu pelo adiamento da sessão, tática comumente utilizada pelo grupo que não tem maioria. Além disso, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), que preside a sessão, e o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), disseram à equipe de análise da XP Política que, pelas suas contas, o veto será votado e mantido nesta tarde.
Mais cedo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu o veto de Bolsonaro ao lado de lideranças do Centrão. “Estamos trabalhando para que a gente consiga na tarde de hoje manter o veto. Não tem nada contra o servidor”, destacou Maia.
Na véspera, a decisão do Senado de ressuscitar o reajuste a servidores gerou reações bastante adversas de Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes. O presidente da República disse que a derrubada geraria um prejuízo de R$ 120 bilhões e tornaria o País ingovernável, enquanto Guedes afirmou que usar dinheiro da Saúde para aumentar salário de servidor era um crime.
Segundo Gabriel Fonseca, analista da XP Investimentos, as falas de Maia ajudaram a melhorar o humor do mercado, pois sinalizam que a decisão dos senadores pode ser derrubada na Câmara hoje.
O veto foi negociado ainda no primeiro semestre com o Congresso. O governo garantiria um pacote de R$ 120 bilhões de socorro financeiro a estados e municípios em troca do congelamento dos salários. No entanto, o então líder do governo na Câmara, major Vitor Hugo (PSL-GO), aproveitou apoio do presidente Jair Bolsonaro para negociar uma brecha para garantir reajuste para algumas categorias.
Essa brecha, no entanto, foi vetada por Bolsonaro após intervenção de Guedes, que alertou ao presidente do impacto fiscal que teria a medida.
O Ibovespa subiu hoje 0,61%, aos 101.467 pontos com volume financeiro negociado de R$ 28,35 bilhões.
Enquanto isso, o dólar comercial reduziu alta e fechou com valorização de 0,43%, cotado a R$ 5,5526 na compra e R$ 5,554 na venda. Foi o maior patamar de fechamento do câmbio desde 22 de maio, quando encerrou a sessão em R$ 5,5739. Já o dólar futuro para setembro tem leve queda de 0,29%, a R$ 5,544 no after-market.
Foram realizados dois leilões de dólar à vista hoje. No primeiro, o Banco Central vendeu US$ 590 milhões, e no segundo foram mais US$ 550 milhões, totalizando US$ 1,14 bilhão. Foram os primeiros leilões da moeda no mercado spot em quase dois meses.
No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu dois pontos-base, a 2,78%, o DI para janeiro de 2023 recuou nove pontos, a 3,96% e o DI para janeiro de 2025 teve queda de 13 pontos-base a 5,79%.
No exterior, os índices dos EUA registraram alta com as ações de grandes empresas de tecnologia ofuscando o aumento nos pedidos de seguro-desemprego no país, que chegaram a 1,1 milhão na semana passada depois de ficarem em 923 mil na semana anterior.
Apesar disso, os conflitos geopolíticos são outra fonte de preocupação. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, alertou que Rússia e China não violem às sanções impostas ao Irã.
Soma-se ao cenário de maior aversão ao risco o avanço do novo coronavírus em várias partes do mundo, em particular na Coreia do Sul, e a decisão do Banco do Povo da China (PBoC, o BC chinês) decidir manter inalteradas suas taxas de juros de referência para empréstimos de curto e longo prazos pelo quarto mês seguido, em 3,85% e 4,65%, respectivamente.
Auxílio emergencial
O ministro da Economia, Paulo Guedes, indicou nesta quarta-feira a extensão do auxílio emergencial, mas a um valor menor do que os R$ 600 atualmente pagos. Ao lado do presidente Jair Bolsonaro, disse que havia uma confiança mútua entre ambos.
Segundo a agência Reuters, o governo estuda uma medida provisória (MP) que manteria o auxílio para além de agosto, mas em um valor menor. Se o atual decreto for prorrogado, o benefício não pode sofrer alteração de valor.
Na quarta-feira, Bolsonaro afirmou que estava em busca de um novo valor pelo auxílio, sinalizando que R$ 200, valor defendido pelo governo no início da pandemia do coronavírus, seriam insuficientes, mas que a manutenção em R$ 600 era inviável.
Radar corporativo
Questionada pela CVM, a Sabesp divulgou um fato relevante para explicar o plano de capitalização da empresa anunciado pelo governador de São Paulo, João Doria. A companhia alegou que não tomou conhecimento sobre o plano de reorganização societária.
Segundo o fato relevante, a companhia buscou maiores informações com o seu controlador, o estado de São Paulo, e foi informada que não há decisão sobre um processo de capitalização porque o grupo de trabalho do Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização, instituído em 24/04/2019, não concluiu suas atividades.
E o fundo de investimentos de Abu Dhabi Mubadala está propondo injetar capital na produtora de etanol Atvos, mas apenas se os credores aceitarem menores pagamentos em uma reestruturação da dívida, segundo a agência Reuters.
A Atvos tem uma dívida em torno de R$ 15 bilhões. Nessa semana, a empresa teve o seu plano de reestruturação confirmado por um juiz do Estado de São Paulo, evitando a falência da empresa.
A companhia, antes conhecida como Odebrecht Agroindustrial, comprometeu-se a reduzir pela metade o nível de endividamento. A Atvos só começará a pagar credores em 2022, conseguindo fôlego para sobreviver, de acordo com o plano.
(Com Bloomberg e Agência Estado)
Ricardo Bomfim, InfoMoney