quinta-feira, 20 de agosto de 2020

"100 mil: quantos morreram de covid-19?", questiona Guilherme Fiuza

Como já alertaram médicos em várias partes do mundo, possivelmente a maioria das mortes atribuídas à covid-19 não foi causada pelo coronavírus


Amarca de 100 mil mortos por coronavírus no Brasil trouxe um símbolo forte para o drama. Suscitou também o acirramento das discussões sobre as responsabilidades e as culpas no enfrentamento da epidemia. Mas não desfez alguns mistérios que a cercam. Especialmente a queda brusca do registro de mortes por outras doenças importantes.

É bastante misteriosa a dificuldade, que já atravessa mais de quatro meses, de determinar quantas pessoas morreram de covid-19 e quantas tinham covid-19 ao morrer. É uma diferença crucial para compreender a letalidade da epidemia — especialmente por suas características de contágio fácil e rápido. Quantas das 100 mil mortes foram provocadas realmente pelo coronavírus?

Não se vê essa discriminação nem em estimativas — pelo menos não discutidas publicamente pelas autoridades médicas. Mas os dados do registro civil sobre óbitos de pneumonia, infarto, AVC, insuficiência respiratória, septicemia e outras causas importantes trazem indícios de confusão estatística, se comparados com os do ano passado.

Só de pneumonia, no período equivalente ao da pandemia, em 2019 houve cerca de 30 mil mortes a mais do que em 2020. Não há na série histórica oscilações dessa amplitude. O que aconteceu?

Como explicar o desaparecimento de mais de 70 mil mortes numa estatística que jamais oscilou dessa forma?


Aconteceu provavelmente o que a lógica sempre indicou: pessoas que morreram de pneumonia e portavam coronavírus foram para a estatística da covid. E não estamos falando dos casos em que o novo vírus agravou o quadro de pneumonia e levou à morte quem não iria morrer naquele momento. Esses casos não reduziriam a estatística de óbitos por pneumonia.

Se há alguma explicação complementar para o fenômeno do declínio súbito e extraordinário de mortos por pneumonia de 2019 para 2020, ela também terá de dar conta da queda brusca de mortos por infarto: 9.458 (de 41.709 em 2019 para 32.251 em 2020 — no período entre 16 de março e 10 de agosto). Também seria preciso encontrar a explicação para a redução em nada menos que 16.837 óbitos de septicemia do ano passado para este ano (de 71.480 para 54.643 no mesmo período).

O solavanco estatístico também se dá nos casos de acidente vascular cerebral. Em 2019, no período referido, 41.362 pessoas morreram de AVC, enquanto em 2020 esse total caiu para 35.886 — 5.476 óbitos a menos. Já por insuficiência respiratória foram 4.588 mortes a menos — 41.795 em 2019 contra 37.237 em 2020.

Considerando as 34.355 mortes a menos por pneumonia — de 98.438 em 2019 para 64.083 em 2020 —, só essas cinco enfermidades causaram menos 70.684 mortes de um ano para o outro, exatamente no período da ocorrência da covid-19. Como explicar o desaparecimento de mais de 70 mil mortes numa estatística que tem certa constância e jamais oscilou dessa forma?

 

Como já alertaram médicos em várias partes do mundo — especialmente Itália e Grã-Bretanha, onde as estatísticas estão sendo revistas —, possivelmente a maioria das mortes atribuídas à covid-19 não foi causada por ela. Organismos comprometidos por outras doenças graves e já em processo final de falência passaram a portar também o coronavírus, pela facilidade e rapidez do contágio, e não morreram por causa dele.

Não se trata de referência ao grupo de pessoas com vulnerabilidades que teriam mais tempo de vida


Essa evidência precisa ser tratada com transparência e objetividade por especialistas e autoridades — não para minimizar o problema, mas para conhecê-lo o melhor possível. Isso não está acontecendo de forma geral — e é parte dos mistérios que rondam o flagelo da covid.

Se quiser de fato cuidar da saúde da população e não erguer tabus, o Brasil deveria olhar para o registro de 100 mil óbitos atribuídos à covid sem deixar de se perguntar sobre as cerca de 70 mil mortes a menos apenas nas doenças supracitadas — que não incluem câncer e outras causas letais provavelmente com muitos casos do mesmo tipo: organismos já em falência irreversível contraíram o novo vírus e foram para a estatística de óbitos por covid-19, sem que esta tenha sido a causa da morte.

Nem estamos falando aqui das diversas denúncias de atestados fraudados. Isso é problema da polícia. E também não se trata de referência ao grupo de pessoas com vulnerabilidades ou comorbidades que teriam mais tempo de vida e morreram por complicações deflagradas pelo coronavírus: esses são os grupos de risco (que nas regiões mais atingidas, como Itália e Estados Unidos, representam perto de 90% das vítimas).

A pergunta que parece proibida é simples, e precisa ser repetida: dos 100 mil registrados, quantos realmente morreram de covid-19 no Brasil?

A resposta é fundamental para que a sociedade funcione com os cuidados necessários, correspondentes ao problema real e aos riscos concretos, e não vire refém do medo de viver.

Sobre contaminação por coronavírus, lockdown e a confusão envolvendo estatísticas, leia também dois artigos do economista libertário Jeffrey Tucker:

Revista Oeste