sábado, 25 de julho de 2020

"O retorno às aulas, haverá tempo para ensinar?", por Claiton Appel - Jornalista

E aí, haverá tempo para ensinar algum conteúdo estabelecido em programas escolares?
É importante ver o lado de todos os envolvidos, com sensibilidade, respeito e principalmente, com responsabilidade.
No momento que governantes decidiram parar as aulas, fizeram à sua maneira, sem pensar nas consequências. Não pensaram em pais, professores e muito menos nos alunos. Não houve uma conversa com os envolvidos no processo educativo.
Não foi perguntado aos professores, coordenadores e diretores de que forma poderiam ser realizadas as atividades, caso houvesse a necessidade de parar. Não, não houve um contato com as escolas. Simplesmente pararam.
Precisava parar porque havia e ainda há um vírus que ameaça à saúde de todos, claro que entendemos. Todos sabiam e sabem da importância da quarentena. Claro, que tiveram os contra e os a favor. Mas isso, nesse assunto do retorno às aulas já não importa mais. Se for da vontade dos governantes, as aulas vão reiniciar.
Mas, é aí que os convido a analisar a situação. Pois está sendo muito fácil querer agradar uns, ajudar e atender as necessidades de outros, porém, o que se percebe é a ausência de preocupação com o todo. Ou seja, pais precisam que seus filhos voltem a estudar porque precisam trabalhar; é a lei, toda criança tem que estar na escola; já não há mais tempo a perder...
Alunos precisam voltar, afinal já estamos quase no final do terceiro bimestre ou trimestre e os alunos precisam terminar os livros, tem que realizar as provas para alcançarem suas médias, têm que cumprir o calendário escolar; tem que cumprir o ano letivo. Muito bem! Acredito que todos concordam com todas essas razões para que retornemos às aulas.
Acontece que é muito fácil para os governadores e prefeitos enfiarem essas necessidades goela abaixo porque, nós, o povo, permitimos. Ficamos inertes às ordens governamentais, e deixamos de olhar o outro que está bem próximo e tem suas razões para querer ou não querer voltar. Explico:
1. Em uma escola temos diretor, coordenador, administrativos e professores, sendo os professores que estarão mais próximos dos alunos;
2. Ao chegar na escola, os alunos vão ter que manter a distância desde a hora da entrada até a saída;
3. Antes de entrar, cada aluno precisará passar pelos cuidados: álcool em gel, verificação de temperatura, luvas, máscaras, dentre outros cuidados...Pensem no tempo que será tomado para verificação dessas etapas em cada aluno;
4. Pronto, tudo verificado. Ótimo, vamos para a sala de aula. Distanciamento; menino querendo ir ao banheiro, beber água, conversar com o colega, levantar para apontar um lápis...
5. E o professor? Esse verifica temperatura, cuida se o aluno está com máscara, leva menino ao banheiro, leva para beber água, cuida para menino não levantar, não se aproximar do colega, não se aproximar do professor, e não isso, e não aquilo e as horas passam...Agora vamos estudar, peguem os cadernos...Triiiiimmmm..sinal tocou. É hora da saída.
Começa tudo de novo: máscaras, luvas, temperatura, álcool em gel e isso, e aquilo e nada foi feito no que se refere ao ensino dos conteúdos programáticos.
Ah, mas os professores conseguem resolver. São preparados para isso. A professora do meu filho é ótima, vai saber lidar com a situação. Tudo muito fácil quando não sou eu quem estarei no lugar dos professores. Então, mais alguma coisa que seja preciso citar para se pensar se realmente vale à pena voltar o no letivo em sala de aula?
Sim, tem motivos sim. Cada um que trabalha na escola tem esposo/esposa filhos, pai, mãe, irmão, avós, tios que estão em casa esperando esse profissional e correm risco de serem contaminados. O professor estará na linha de frente. Não tem importância, não é? Afinal todos precisam dar sua contribuição para que as aulas voltem ao normal.
Sem contar que as secretarias de educação estarão, nem que seja para fiscalizar, trabalhando! Aí quem nunca apareceu em uma escola para sequer saber se tudo está bem, irá aparecer para “mostrar trabalho”, sendo vigilante para ver se tudo está sendo feito conforme às ordens da Secretaria de Educação.
A questão aqui não é o medo do vírus, e sim a qualidade dos resultados dos estudos deste ano de 2020. E continuaremos na “vibe”: “professores fingem que ensinam e alunos fingem que aprendem”.
Ao final, quem for podre que se quebre, o que importa é “obedecer às ordens do governante”.
Pense! Reflita! O Ensino já vem ruim há décadas. É hora de pararmos para reorganizar, cobrar e também fazermos nossa parte, corrigirmos nossos erros e deixarmos o melhor para nossas crianças.

Claiton Appel

Jornalista. Diretor da Ordem dos Jornalistas do Brasil.b