terça-feira, 29 de outubro de 2019

Risco-país vai ao menor patamar desde maio de 2013

O cenário de queda de juros, aprovação da reforma da Previdência e trégua na guerra comercial levou o risco-país do Brasil a uma mínima em mais de seis anos nesta terça-feira (29). Após 15 quedas consecutivas, o Credit Default Swap (CDS) de cinco anos —derivativo que mede o custo de proteção contra um calote da dívida soberana brasileira— foi a 117 pontos, menor patamar desde 13 de maio de 2013. 
O período antecedeu os protestos de junho de 2013 que marcaram o início da turbulência política no Brasil. Foi também a época que marcou início da piora da economia brasileira e levou a uma recessão.
 Gráfico das recentes flutuações dos índices de mercado no pregão da Bolsa de Valores de Sao Paulo
Risco-país do Brasil vai ao menor valor desde maio de 2013 - Diego Padgurschi /Folhapress
A melhora do CDS ganhou força após o Senado concluir, no último dia 23, a tramitação da reforma da Previdência no Congresso.
Somado aos temas locais, sinais de progresso nas negociações tarifárias entre Estados Unidos e China, menor chance de um Brexit desordenado e expectativas de mais cortes de juros nos Estados Unidos também ajudaram a diminuir a percepção de risco, o que reduziu prêmios na dívida brasileira e colaborou para a queda do CDS.
 
Por ser um derivativo de crédito que protege o risco de calote da dívida soberana, o CDS funciona como um termômetro para a aposta do mercado financeiro no país. Com o avanço da reforma da Previdência, investidores veem uma melhora na saúde fiscal do Brasil e, em consequência, na capacidade do Estado de pagar as contas.
A máxima do risco-país foi em 2015, quando o contrato de cinco anos chegou a 494 pontos. À época, a economia brasileira entrou em recessão técnica com a queda do PIB e a agência de risco Standard & Poor’s (S&P) retirou o selo de bom pagador do Brasil. Desde então, avaliação de investimento caiu mais três vezes, o que indica aumento risco de calote. 
Com a volta do índice a níveis baixos, investidores esperam que as agências de crédito elevem a avaliação do país. Segundo as agências, no entanto, a mudança na nota de crédito depende de um crescimento econômico mais robusto.
Também nesta sessão, o dólar voltou a fechar acima de R$ 4 nesta terça-feira (29) após perder o patamar na véspera. O movimento reflete a realização de lucros e cautela de investidores antes das decisões sobre as taxas de juros brasileira e americana, divulgadas ambas na quarta (30). O Ibovespa seguiu a mesma tendência e perdeu os 108 mil pontos.
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No exterior, o viés foi negativo, com dúvidas do mercado quanto ao acordo comercial entre China e Estados Unidos e quanto a um possível corte de juros do Fed, o banco central americano.
Segundo a Reuters, a fase um do acordo provisório entre chineses e americanos pode não ser concluído a tempo para assinatura na cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) que vai acontecer no Chile entre 16 e 17 de novembro, como esperado pelo mercado.
"Se não for assinado no Chile, isso não significa que desmoronará. Significa apenas que não está pronto. Nosso objetivo é assiná-lo na Apec. Mas às vezes os textos não ficam prontos. Mas está sendo feito um bom progresso e esperamos assinar o acordo no Chile", disse uma autoridade do governo americano à agência de notícias.
Quanto ao Fed, a maioria dos investidores espera um corte de 0,25 ponto percentual no juro americano, que atualmente está entre 1,75% e 2%. Mas há quem aposte na manutenção.
"Não há consenso sobre o que deveria ser feito, no entanto, as últimas atas do Fed dão a entender que a política expansionista deve continuar", afirma Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Nas duas últimas reuniões do BC americano, o órgão cortou a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual. 
Além da decisão sobre juros, na quarta será divulgada a primeira leitura do PIB americano do terceiro trimestre e a expectativa é de desaceleração no crescimento da economia.
Com receio ao que virá na quarta e sob efeito de balanços corporativos mistos, os índices da Bolsa de Nova York fecharam em queda. Um dia após bater sua máxima histórica, o S&P 500 caiu 0,13%. Nasdaq recuou 0,6% e Dow Jones fechou estável.
"Investidores estão menos favoráveis a risco hoje. Com uma agenda doméstica fraca, acabamos refletindo o exterior no mercado brasileiro", diz Abertman. 
O Ibovespa cedeu 0,67%, a 107.452, com o cenário externo mais negativo e realização de lucros após o recorde da véspera, quando o índice fechou pela primeira vez acima dos 108 mil pontos. O giro financeiro foi de R$ 15 bilhões, abaixo da média diária para o ano.
O dólar ganhou força frente aos principais pares emergentes nesta terça (29) e subiu 0,25% em relação ao real, a R$ 4,003.
Nesta quarta (30), o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central brasileiro divulga a sua decisão sobre a taxa básica de juros. Todos os 47 economistas e corretoras consultados pela Bloomberg estimam uma queda de 0,5 ponto percentual na Selic, que iria para a mínima histórica de 5% ao ano. 


Júlia Moura, Reuters