Como Forest Gump, o presidente Volodymyr Zelensky apareceu acidentalmente na história.
A conversa que escancarou os portões do impeachment – sem que haja nenhuma certeza, no momento, de que venha a ser aprovado – está gravada e vai aparecer a qualquer momento.
O funcionário ainda anônimo que denunciou um ato de abuso de poder, entre outras irregularidades, no pedido de Trump a Zelensky para que investigasse o comportamento suspeito de Joe Biden e seu filho, poucos anos atrás, também vai ter sua identidade revelada a qualquer momento.
Mas Zelensky sabe muito mais, inclusive o que disse o advogado de Trump, Rudolph Giuliani, em contatos menos explícitos com um representante ucraniano.
De muitas maneiras, Volodymyr Zelensky é a Monica Lewinsky de Donald Trump.
Monica acabou tendo que revelar as interações sexuais com Bill Clinton, o vestido com a ejaculação presidencial, o “sexo que não era sexo” segundo o presidente quis alegar por não envolver penetração e outras histórias constrangedoras.
Como dirigente estrangeiro, Zelensky só vai falar o que quiser ou o que interessar a seu país ou sua carreira.
Mas haverá nada menos que seis comissões da Câmara de Representantes vasculhando tudo, tudo, tudo. E os recursos de deputados americanos, com seus batalhões de assessores jurídicos, são quase infinitos.
O público vai ter que se acostumar a sobrenomes impronunciavelmente eslavos e jogos de interesse labirinticamente ucranianos.
Sem contar os russos, mestres da contrainformação e dos jogos de espelhos, pairando por trás de tudo que envolve a Ucrânia.
Zelensky já era um político acidental. Foi eleito numa daquelas reações de povos que, não suportando mais a corrupção e a politicalha, partem para uma opção fora dos parâmetros conhecidos.
Humorista profissional, interpretava um professor de história que vira celebridade e presidente acidental. Existe um filme brasileiro com enredo parecido.
Outro personagem que será trazido ao centro dos acontecimentos é Viktor Shorkin, o chefe da Procuradoria-Geral da Ucrânia cuja cabeça Joe Biden exigiu quando era vice-presidente – e conseguiu.
Existe uma gravação de Biden contanto como forçou o presidente da época, Petro Poroshenko, a demitir Shorkin ou então “o bilhão não ia sair”.
Ou seja, usou exatamente o mesmo método de que Trump agora é acusado: manipular a ajuda americana.
“Eu vou embora daqui a seis horas, se o procurador não for demitido, vocês não terão o dinheiro”, contou Biden, feliz da vida, sobre o episódio ocorrido em 2016.
“Filhos da ****. Ele foi demitido. E colocaram no lugar alguém que na época era sólido.”
Shorkin não era nenhum santo. Encarregado de combater a corrupção terminal, supostamente usava os instrumentos de estado para extorquir milionários enrolados na rede de propinas.
Mas Biden estava cobrando a demissão de um funcionário sujo ou interferindo em favor do patrão de seu filho, Hunter, que apareceu na Ucrânia como assessor jurídico do dono da Burisma, uma grande empresa de gás natural?
Os republicanos não vão ficar sentadinhos enquanto a oposição democrata, que tem maioria na Câmara, desenterra todos os podres que conseguir sobre Trump.
Ao dizer que pediu a Zelensky que investigasse os Biden, pai e filho, Trump teoricamente já cometeu um crime, o de “solicitar ajuda de um governo estrangeiro” para favorecer sua campanha.
Ironicamente, o mesmo de que foi acusado desde antes de assumir, mas envolvendo a Rússia. Acusado sem comprovações, note-se.
No momento, segundo levantamento do site Politico, 200 deputado democratas são a favor do impeachment e 35 são contra ou preferem aguardar o inquérito.
Todos os republicanos são contra.
Donald Trump só sofrerá o impeachment, um fato que nunca aconteceu nos Estados Unidos, se a Câmara apresentar o processo, depois de sucessivas votações, e o Senado, funcionando como um tribunal de justiça, se decidir pela culpa.
Isso só aconteceria se parlamentares republicanos fossem convencidos por fatos ou por realidade política, como aconteceu no caso de Richard Nixon.
Se quiser e considerar conveniente, Volodymyr Zelensky, um ator que lembra um pouco o inglês Mr. Bean, pode até prestar um depoimento voluntário no Congresso dos Estados Unidos.
Dá para acreditar?
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