Nancy Pelosi ter se rendido à
pressão da bancada democrata
foi um ato de fraqueza, não de força
O anúncio de Nancy Pelosi de que a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, que ela preside, irá considerar formalmente o impeachment do presidente Donald Trump mergulhou o país em uma crise constitucional.
Trump divulgou com inteligência a transcrição de sua conversa em 25 de julho com o presidente ucraniano Volodimir Zelenski. Isso põe em causa a afirmação de Pelosi (feita após a divulgação da transcrição, mas antes que ela a lesse) de que Trump "pediu a um governo estrangeiro que o ajudasse em sua campanha política às custas de nossa segurança nacional". Mas não espere que o ato de transparência do presidente detenha os democratas que querem vê-lo afastado do cargo.
O presidente não será forçado a sair da Casa Branca, mesmo que Pelosi consiga 218 votos para o impeachment. Em vez disso, provavelmente veríamos uma repetição do que aconteceu com Bill Clinton: a Câmara aprova o impeachment e o Senado fica muito aquém da maioria de dois terços necessária para removê-lo.
A deputada Alexandria Ocasio-Cortez afirma entusiasmada que tentar o impeachment "coloca o partido em uma nova direção". Pode ser verdade, mas outros democratas provavelmente serão feridos durante esse tiroteio político, alguns deles perigosamente.
Não há dúvida de que Trump deveria ter deixado a questão do trabalho de Joe Biden na Ucrânia para o secretário de Justiça, Bill Barr, que está conduzindo uma investigação sobre a intersecção da Ucrânia com as eleições de 2016.
No entanto, os americanos perguntarão por que Biden aparentemente estava cego para a possível impropriedade quando, em 2015 e 2016, pressionou o governo ucraniano para intensificar os esforços anticorrupção enquanto seu filho Hunter trabalhava para a Burisma, holding com sede em Kiev, de propriedade de Mikola Zlochevski.
Hunter Biden se conectou à empresa em 2014, quando promotores ucranianos a investigavam por possível lavagem de dinheiro e corrupção oficial.
Esta última veio da época em que Zlochevski era o ministro encarregado de distribuir licenças para extração de gás natural, muitas das quais acabaram indo para empresas controladas pela Burisma. Zlochevski e a Burisma nunca foram acusados de nenhum crime e negam todas as irregularidades.
A Burisma colocou Hunter Biden e outro americano, Devon Archer (um amigo do então secretário de Estado John Kerry), em seu conselho. O The Wall Street Journal relata que o jovem Biden faturou até US$ 50 mil por mês durante seus cinco anos na Burisma, apesar de não ter experiência em gás natural ou em Ucrânia.
Mesmo assim, o governo Obama deixou o vice-presidente Biden dar palestras aos ucranianos sobre corrupção. O conhecimento crescente dessa situação, que certamente surgirá durante qualquer inquérito de impeachment, poderia condenar as esperanças presidenciais de Biden.
A senadora Elizabeth Warren e o deputado Adam Schiff também poderão se arrepender de comentários recentes. No sábado, Warren pediu o impeachment de Trump por ter "solicitado a outro governo estrangeiro que atacasse nosso sistema eleitoral". Em um email de captação de fundos na terça (24), Schiff acusou o presidente de ter "pressionado um líder estrangeiro a inventar sujeira sobre um de seus adversários políticos".
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Ambas as afirmações são irresponsáveis. E também hipócritas: em 2016, a campanha presidencial de Hillary Clinton canalizou dinheiro por um escritório de advocacia para pagar uma empresa de pesquisa de oposição, a Fusion GPS, que contratou um ex-agente de inteligência britânico para contatar pessoas em Moscou —ex-agentes de inteligência russos— e pedir para sujarem Donald Trump. O resultado foi o agora desacreditado "dossiê russo".
Nem Warren, nem Schiff, nem qualquer outro líder democrata criticaram Clinton por "solicitar a outro governo estrangeiro que atacasse nosso sistema eleitoral" ou por convidar a inteligência russa para "inventar sujeira sobre seu adversário político".
Pelosi sabe que o impeachment é impopular entre os eleitores, especialmente nos 43 distritos republicanos que viraram democratas em 2018.
Ela sabe que o impeachment abafará todas as outras pautas, deixando os democratas sem um histórico de realizações até o final do ano. Ela percebe que as baixas democratas mais prováveis nas urnas serão moderadas, não democratas de distritos seguros e de esquerda, levando Pelosi a presidir uma bancada mais indisciplinada, mesmo que ela mantenha a maioria da Câmara.
Mesmo assim, Pelosi anunciou uma investigação de impeachment, apesar de não ter os 218 votos de que as iniciativas anteriores de impeachment precisavam para prosseguir formalmente. Esse foi um ato de fraqueza —render-se à pressão interna da bancada democrata na Câmara— e não de força.
Os democratas da Câmara estão em alta hoje, parabenizando-se por sua nova cruzada. Logo perceberão a triste verdade de que o impeachment é uma questão perdedora —e que sofrerão baixas políticas por seguir esse caminho.
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
The Wall Street Journal