O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar o presidente da França, Emmanuel Macron, retomou uma retórica desafiante em relação à Alemanha no pagamento do Fundo Amazônia e sugeriu que o dinheiro para reflorestamento tenha sido desviado por Organizações Não-Governamentais (ONGs).
Em entrevista ao programa Frente a Frente, da TV Rede Vida, gravada logo após seu discurso na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente disse que ele e sua equipe planejaram um pronunciamento "contundente, mas não agressivo" após "semanas de muito ataque ao Brasil". Na ONU, Bolsonaro atacou o socialismo e o que ele classificou como “ambientalismo radical” e “indigenismo ultrapassado”.
"Eu até desafio quem tem doado dinheiro para nós ao longo de tanto tempo que me mostrem uma árvore só plantada por ONGs que pegam (sic) metade desse recurso", disse Bolsonaro, após ser perguntado se tinha a intenção de retomar relações com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com Macron. Ele não citou organizações nem casos específicos para exemplificar desvios.
"Esse problema todo começou quando eu falei que não aceitei US$ 20 milhões. Não aceitei e eu disse que eles estavam comprando a Amazônia a prestação, e é uma realidade", contou. Bolsonaro também disse que o presidente francês "potencializou" as críticas ao Brasil, e que isso teria ocorrido após Macron enfrentar "uma rejeição nunca vista na França" e resolver "tomar para si a agenda ambiental".
O presidente voltou a defender a permissão para que índios explorem as terras indígenas com garimpos, agricultura e turismo. Bolsonaro rebateu críticas à política ambiental do seu governo e ressaltou que as queimadas estão abaixo da média histórica. Em outro momento da entrevista, no entanto, ele ressaltou que o governo brasileiro não pode controlar focos de incêndio em todo o território da Amazônia.
"O tamanho da nossa Amazônia é maior do que a Europa Ocidental, não tem como manter o controle", disse.
Repercussão do discurso de Bolsonaro na ONU
Venezuela
Ao ser perguntado sobre a possibilidade de intervenção militar na Venezuela, o presidente descartou qualquer iniciativa e indicou que espera que as sanções econômicas do governo dos Estados Unidos surtam efeito no regime de Nicolás Maduro. Bolsonaro disse que as Forças Armadas tiveram seu potencial "diminuído" em governos anteriores e que um conflito no país vizinho seria desastroso,
"No Brasil, você sabe que as nossas Forças Armadas, o seu potencial foi bastante diminuído ao longo das últimas décadas. E, pela topografia da Venezuela, qualquer intervenção militar ali, de qualquer país, seria um 'Vietnã'", disse o presdiente.
Ele também comentou a indicação do próprio filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para a Embaixada de Washington. O presidente diz que o cargo de embaixador pode servir como "cartão de visitas" e que, uma vez que é seu filho, Eduardo teria mais facilidade para ser atendido por Trump.
"Não procede a questão do nepotismo. Até o Supremo (Tribunal Federal) tem uma decisão nesse sentido", defendeu.
O Estado de S.Paulo