segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

‘Se a reforma passar, a economia pega pique’, diz Tony Volpon, economista-chefe de banco suíço

Tony Volpon, economista-chefe do UBS Brasil Foto: Aílton de Freitas / Agência O Globo
Tony Volpon, economista-chefe do UBS Brasil Foto: Aílton de Freitas / Agência O Globo

Se a reforma da Previdência for aprovada ainda no primeiro semestre, a economia brasileira poderá crescer entre 2,8% e 3% este ano e ter um “pique” além dos 3% em 2020. A estimativa é do economista-chefe do banco suíço UBS no Brasil, Tony Volpon. Para ele, embora o ex-presidente Michel Temer não tenha conseguido aprovar mudanças na Previdência, os erros na condução de sua proposta no Congresso deixaram um aprendizado para que o governo Jair Bolsonaro não cometa os mesmos deslizes.

Qual é o impacto da aprovação da reforma da Previdência?
Se a proposta for votada no primeiro semestre, entre maio e junho, há um efeito positivo que pode levar o Produto Interno Bruto (PIB) a crescer entre 2,8% e 3%. Se passar, a economia pega um pique e pode acelerar acima de 3% em 2020. O inverso é negativo. Se não passar, é difícil fazer previsão de PIB. 
O senhor acredita que o governo terá força para a aprovação?
O governo vai saber se organizar até maio ou junho para ter coalizão no Congresso. A proposta, como está agora, não passaria. Mas a coalizão tem de ser construída até maio. O presidente Bolsonaro sabe que a aprovação da Previdência é a única chance de ser reeleito. A não aprovação fará o governo cair em uma crise financeira. Hoje, se o governo não tem votos para a aprovação é irrelevante. A base tem que existir em maio.

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Homem e mulher do setor público
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O presidente Michel Temer não conseguiu essa coalizão...
Os erros do governo Temer na condução da reforma da Previdência ajudaram este governo. O debate está mais maduro. Portanto, o ambiente é mais favorável para a aprovação da reforma. Nesse sentido, o legado de Temer foi positivo em relação à Previdência, mesmo tendo sido o presidente mais impopular depois da redemocratização.
Mas o governo terá de negociar com o Congresso. O senhor crê em economia de R$ 1,1 trilhão?
A proposta é mais dura que a anterior. O governo sabia que teria de negociar com o Congresso. Mas será preciso achar um conjunto de mudanças que leve o governo a ter 308 votos para aprovação na Câmara, com uma margem de segurança de 320. O custo disso tem que ser o mínimo possível. O mercado gostava dos R$ 800 bilhões de economia que a primeira proposta de Temer trouxe. Mas não gostou dos R$ 500 bilhões quando o projeto foi desidratado. Acho que tem que ser R$ 800 bilhões ou acima. Nunca abaixo disso.
A reforma permitirá a retomada da confiança do empresário para investir?
Tivemos subinvestimento nos últimos cinco anos. A capacidade ociosa da economia é muito elevada. Mas, quando a demanda vier, será preciso investir. Houve depreciação desse capital na indústria. Lá fora, o investimento tecnológico continuou, e estamos desatualizados. Será preciso investir. A aprovação da reforma trará confiança.
A reforma é crucial para arrumar as contas do governo?
A reforma é “o pagamento da primeira parcela” para estancar o crescimento da dívida pública. O gasto com aposentados consome 58% do Orçamento. Depois, o país precisa voltar a ter superávit primário de 2,5% a 3% do PIB. É muito dinheiro, cerca de R$ 200 bilhões. A reforma ajuda na expansão do país, traz confiança e mais receita ao governo. Temos ainda as concessões e a cessão onerosa. Tudo isso ajuda a fechar a conta do déficit recorrente (sem receitas extras).
João Sorima Neto, O Globo