sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Governo vai dividido para a eleição no Congresso

As eleições que vão definir nesta sexta-feira, 1.º, os novos presidentes da Câmara e do Senado revelam mais um capítulo das divergências entre a equipe econômica e a Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro. A equipe econômica vê no desfecho do confronto no Senado a oportunidade de isolar o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e abrir um canal direto de negociação com líderes do Congresso, contornando problemas que ainda existem em torno de pontos polêmicos da proposta de reforma da Previdência.
Onyx e Guedes
Os ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Paulo Guedes (Economia) 
Foto: Fotos Romério Cunha/VPR e Wilton Júnior/Estadão
Embora o discurso oficial do Palácio do Planalto seja de distância em relação à disputa no Congresso, interlocutores do ministro da Economia, Paulo Guedes, não escondem, nos bastidores, a preferência pela candidatura de Renan Calheiros (MDB-AL) ao comando do Senado, contrariando boa parte do núcleo político do governo e o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Renan conseguiu a indicação para ser candidato do MDB após vencer uma queda de braço na bancada com a colega Simone Tebet.
Logo depois disso, o senador recebeu um telefonema de Bolsonaro, que o cumprimentou e o convidou para uma conversa nesta quarta-feira, 30. No Twitter, o presidente disse que ligou para todos os oito concorrentes no Senado. “(...) Procuramos diplomaticamente fazer contato com os candidatos desejando-lhes boa sorte. O eleito será importantíssimo para a democracia e o futuro do Brasil”, escreveu Bolsonaro, que está internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde foi submetido a uma cirurgia para reconstrução do trânsito intestinal.
Anteriormente, a informação que circulava era de que a ligação tinha sido apenas para Renan. Contrariado, Onyx deixou transparecer mais um desentendimento com o senador e, também pelo Twitter, avisou que Bolsonaro telefonara para todos os concorrentes. Na mensagem, grafou o nome de Renan com “m”.
Na prática, a maior preocupação do Planalto é com a eleição no Senado porque, na Câmara, a frente de apoio ao atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se consolidou de tal forma que, mesmo sem a simpatia de Onyx, o governo acabou avalizando a tentativa de reeleição do deputado do DEM. A equipe econômica também quer novo mandato para Maia, visto como um político confiável. Ele é o favorito na eleição desta sexta-feira, que tem outros seis candidatos.
Em troca de cargos na Mesa Diretora da Câmara e da presidência de comissões importantes, como a de Constituição e Justiça, até mesmo o PSL, partido de Bolsonaro, anunciou a adesão ao projeto de Maia.
Na disputa pelo comando do Senado, porém, Onyx trabalha por Davi Alcolumbre (DEM-AP), que é considerado um político governista, mas, no diagnóstico de auxiliares de Guedes, pode enfrentar mais obstáculos para compor uma ampla coalizão pró-reforma da Previdência. Para a Casa Civil, no entanto, Alcolumbre ganhou força e tem chances de vencer Renan se a eleição for com voto aberto. 
Moro, por sua vez, avalia que Renan – investigado pela Lava Jato – poderá ser um empecilho para a aprovação do pacote de medidas de combate à corrupção que ele apresentará ao Congresso neste mês. 
Estado apurou que, na visão do ministro da Justiça, qualquer outro nome seria melhor para presidir o Senado. Esta não é, no entanto, a avaliação do Ministério da Economia. Renan e Guedes jantaram recentemente, conforme mostrou a Coluna do Estadão, e conversaram sobre um novo modelo de governabilidade que Bolsonaro deseja impor, sem barganhas políticas e com a necessidade de desvinculação do Orçamento. 
“O novo Renan é menos estatizante, mais liberal e defende todas as reformas, além de um princípio: o fim de todos os privilégios”, disse o senador ao Estado.
Caso Coaf. Disposto a presidir o Senado pela quinta vez, Renan também fez acenos ao governo ao defender o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que assume o mandato nesta sexta-feira em meio a intenso desgaste político após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) descobrir movimentação considerada “atípica” de recursos na conta dele e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. “Conselho de Ética é coisa excepcionalíssima”, destacou Renan. “Legislativo não é lugar para botar juiz.”
Auxiliar de Onyx no Planalto, o ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-PR) disse que o governo não colocará a “digital” na disputa do Congresso. “Eu trabalho para que Davi Alcolumbre seja presidente do Senado porque não estou nomeado, mas a determinação é para evitar qualquer atrito, já que temos quatro anos pela frente.”

Apesar de enxergar Renan como um aliado do PT, o Planalto não quer tê-lo como inimigo, uma vez que o resultado da disputa é imprevisível. O governo começará a testar sua base de apoio no Congresso nos próximos dias, com o envio de medidas na área econômica antes mesmo da proposta de reforma da Previdência. 

Vera Rosa, Tânia Monteiro, Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli, O Estado de S.Paulo