sábado, 2 de fevereiro de 2019

Dezenas de milhares vão às ruas em Caracas contra regime de Maduro

CARACAS
Venezuelanos contrários à ditadura de Nicolás Maduro protestaram neste sábado (2) em Caracas e em outras cidades do país, enquanto apoiadores do regime também fizeram seus próprios atos para marcar os 20 anos da chamada Revolução Bolivariana —em 1999, Hugo Chávez, que morreu em 2013, chegava ao poder pela primeira vez.
O protesto da oposição foi convocado pelo líder Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional que fez juramento como presidente encarregado do país, baseando-se no argumento de que as eleições que deram novo mandato a Maduro foram fraudulentas.
As marchas acontecem no mesmo dia em que, pela primeira vez, um general da ativa, Francisco Yánez, da Aviação (equivalente a Força Aérea), afirmou não reconhecer Maduro e reconhecer Guaidó como líder da Venezuela. O militar publicou vídeo em redes sociais para fazer o anúncio.
"Vamos enviar uma mensagem muito clara em todos os municípios da Venezuela e em cada cidade do mundo, vamos dar uma demonstração de força, de maneira pacífica e organizada", disse Guaidó nas redes sociais no início do ato.  
Dezenas de milhares de manifestantes saíram de cinco diferentes pontos na capital venezuelana e, tocando apitos e cornetas, marcharam em direção ao escritório da União Europeia. 
No local, agradeceram ao apoio de países europeus como Alemanha, Espanha e França, que deram prazo até este domingo (3) para que Maduro faça novas eleições e que estas aconteçam de forma livre —do contrário, reconhecerão Guaidó como mandatário do país.
Em discurso durante o ato, Guaidó anunciou para os próximos dias a chegada de ajuda humanitária em uma ilha não identificada no Caribe e nas fronteiras da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia.
"Hoje anunciamos uma coalizão mundial pela ajuda humanitária e a liberdade na Venezuela. Já temos três pontos de apoio para a ajuda humanitária: Cúcuta (Colômbia) e farão outros dois, um ficará no Brasil e outro em uma ilha do Caribe", afirmou o opositor. 
Segundo ele, entre 250 mil e 300 mil venezuelanos atualmente correm risco de morte —o país passa por uma crise de desabastecimento e faltam remédios e alimentos para a população. 
Guaidó não esclareceu, porém, exatamente como essa ajuda vai funcionar e se ela estará em território venezuelano ou no dos países vizinhos. Ele afirmou apenas que caberá aos militares permitir ou não a entrada do material.
O opositor também convocou duas novas mobilizações contra Maduro. Uma será no próximo dia 12, o Dia da Juventude no país e a outra será na chegada da ajuda humanitária, que ainda não tem data definida. 
“Fechamos janeiro com força, um janeiro que nunca esqueceremos neste país, assim como enfrentaremos um fevereiro que tem que ser decisivo”, disse um afônico Guaidó.   
A estudante Mireanna Fernandez, 20, que participava do protesto em Ciudad Guayana (500 quilômetros a sudoeste de Caracas), disse que antes da proclamação de Guaidó em 23 de janeiro que queria deixar a Venezuela, mas agora tinha esperança de que o governo de Maduro terminasse.

"Eu não tenho qualidade de vida, não posso sair para as ruas, minha universidade está desmoronando, eles fecharam as salas de aula, não há professores", disse ela.
Em outro ponto de Caracas, os apoiadores de Maduro se concentraram na avenida de Bolívar —centenas de integrantes de milícias, funcionários públicos e beneficiários de programas sociais estavam no local.
Durante o ato, Maduro disse que irá propor a Constituinte (formada unicamente por chavistas) a antecipação para este ano da eleição para a Assembleia Nacional (de maioria oposicionista). O pleito está inicialmente marcado para 2020. 
A Constituinte avalia convocar "uma antecipação das eleições parlamentares este mesmo ano (...) Eu estou de acordo e me comprometo com esta decisão", disse Maduro no encerramento da manifestação.
"“Vocês querem eleições? Vocês querem eleições antecipadas? Vamos ter eleições parlamentares!”, disse Maduro no encerramento da manifestação.
A oposição, porém, defende também a convocação de eleições gerais para o cargo de presidente, exatamente porque não reconhece o último pleito, vencido por Maduro —proposta rejeitada pelo ditador. 
Maduro também voltou a acusar Guaidó de estar a serviço dos Estados Unidos. “Nós não fomos ou seremos um país de mendigos. Há alguns que se sentem mendigos do imperialismo e vendem seu país por US$ 20 milhões”, disse ele. 
O ditador anunciou ainda que vai incorporar às Forças Armadas, milhares de milicianos, um corpo civil que segundo o governo é integrado por 1,6 milhão de pessoas e recebe formação militar.
Maduro pediu que todos os membros desse contingente "estejam à disposição, sobretudo jovens, vão aos centros de conscrição (quartéis) para que se incorporem de milicianos a soldados ativos do Exército venezuelano".
Folha de São Paulo