sábado, 2 de fevereiro de 2019

"Cleptocracia chavista aumentou em 40% a taxa de mortalidade infantil", editorial de O Globo

A taxa de mortalidade infantil aumentou 40% entre 2008 e 2016 na Venezuela, de acordo com estudo divulgado esta semana pela revista científica britânica “The Lancet Global Health”.
Em 2008, registravam-se 15 mortes a cada mil nascimentos. Em 2016, a taxa havia aumentado para 21,1 óbitos por grupo de mil recém-nascidos, informa a pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos Demográficos das universidades de Paris-I Panthéon-Sorbonne, Católica Andrés Bello e Central de Venezuela.
Durante 58 anos seguidos, contados a partir de 1950, a Venezuela experimentou um significativo declínio da mortalidade infantil. Esse ciclo de progresso foi interrompido pela degradação social, política e econômica imposta pelo regime ditatorial comandado por Hugo Chávez até a morte, em 2013, e desde então por Nicolás Maduro.
A crise humanitária tem outras expressões, como o efeito da fome disseminada entre a maioria empobrecida dos 32 milhões de venezuelanos — a perda média de peso foi de 11 quilos por habitante, segundo outras pesquisas.
Na origem desse quadro de miséria no país, que é dono de uma das maiores reservas mundiais de petróleo, está um conglomerado civil-militar de cleptocratas. Saquearam o Tesouro nacional e o caixa das empresas públicas, como a petroleira PDVSA. Destruíram a economia e exauriram as reservas cambiais.
Agora, sob pressão mundial, tentam manobras na perspectiva de perda de poder. O Banco Central chavista, por exemplo, terminou a semana tentando vender ouro, com oferta de comissões a executivos de até 300 mil euros por transação fechada. São negócios pequenos se comparados aos da PDVSA, que está em busca de compradores para os 500 mil barris/dia de petróleo que destina ao mercado americano, única fonte externa de receita que possuía o regime chavista.
As sanções fecharam esse guichê. O Departamento do Tesouro americano emitiu uma advertência expressa às empresas estrangeiras: todas as transações que envolvam, direta ou indiretamente, o sistema financeiro, corretoras ou pessoas dos Estados Unidos devem ser encerradas ou liquidadas antes do dia 28 de abril, um domingo.
É a data marcada para início da asfixia da cleptocracia. Até lá, a ONU negocia a abertura de “corredores” para ajuda humanitária. Se Maduro tiver a sensatez da renúncia, eleições livres e justas podem acontecer no segundo semestre. Importante é dar espaço a uma saída negociada.