sexta-feira, 5 de outubro de 2018

'Washington Post' deixa coluna em branco em apoio a jornalista saudita desaparecido

Jamal Khashoggi não foi mais visto desde que entrou no consulado do país árabe na Turquia na terça-feira


WASHINGTON - O jornal "Washington Post" deixou nesta sexta-feira um espaço em branco no lugar da coluna de seu colaborador saudita Jamal Khashoggi, de 59 anos. O jornalista — que é um crítico feroz do regime do príncipe saudita Mohammed bin Salman — não foi mais visto após entrar na última terça-feira no consulado do país em Istambul, na Turquia, segundo sua noiva.
O jornal americano afirmou estar preocupado com o destino de Khashoggi — a Arábia Saudita disse que ele já saiu do consulado, mas o governo da Turquia afirma que ainda está lá dentro —, e seus editores pediram ao príncipe Salman que receba em paz "as críticas construtivas de patriotas como ele". Num editorial, conclamaram o governo da Arábia Saudita a fazer "tudo o que estiver ao seu alcance" para deixar o jornalista exercer sua profissão.
Desde a ascensão do príncipe Salman ao poder na Arábia Saudita — o primeiro na linha de sucessão ao trono ocupado por seu pai, o rei Salman —, o jornalista decidiu se exilar nos Estados Unidos aós sua coluna ser cortada do jornal saudita onde trabalhava. Khashoggi teria sido avisado para cessar as críticas às políticas do príncipe. E vários de seus amigos foram presos.
Ele entrou no consulado em Istambul na última terça-feira, pela manhã. Seu objetivo era obter  documentos oficiais para finalizar seu divórcio, de modo a poder se casar com sua noiva turca, Hatice. Deixou seu celular com ela e pediu que ligasse para um conselheiro do presidente turco Tayyip Erdogan caso não retornasse.
A noiva o esperou do lado de fora por cerca de 12 horas. Como ele não saía, ela decidiu chamar a polícia. Khashoggi não foi mais visto, segundo a mulher e as autoridades turcas.

EUA pedem informações sobre paradeiro

Na quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlüt Çavuşoğlu, convocou o embaixador da Arábia Saudita para pedir esclarecimentos sobre o desaparecimento do jornalista. No mesmo dia, a agência de imprensa estatal do país árabe disse que seu consulado estava trabalhando com as autoridades turcas para investigar o desaparecimento do jornalista "depois que ele saiu do prédio".
Manifestantes protestam contra desaparecimento de Khashoggi em frente ao consulado saudita em Istambul Foto: OSMAN ORSAL / REUTERS
Manifestantes protestam contra desaparecimento de Khashoggi em frente ao consulado saudita em Istambul Foto: OSMAN ORSAL / REUTERS

O Departamento de Estado dos EUA pediu informações sobre o paradeiro de Khashoggi, dizendo temer por sua segurança.
O desaparecimento do jornalista pode complicar mais os laços já estremecidos entre Riad e Ancara.
Desde junho de 2017, quando a Turquia ficou ao lado do Qatar numa disputa regional, suas relações ficaram tensas com a Arábia Saudita e outros Estados árabes do Golfo — que cortaram relações comerciais e diplomáticas com o Qatar devido a supostas ligações com o terrorismo, o que Doha nega.
A Turquia também trabalhou com o Irã, arqui-rival da Arábia Saudita no Oriente Médio, para tentar reduzir os combates no Norte da Síria.

O Globo, com agências internacionais