
Um alerta contra a polarização e um clima de despedida. Com Jair Bolsonar o (PSL) e Fernando Haddad (PT) distantes dos outros candidatos nas pesquisas de intenção de voto, especialistas acreditam que odebate desta quinta-feira não deve causar grandes mudanças no cenário atual que aponta para uma divisão cada vez mais profunda entrepetistas e antipetistas .
Segundo dois especialistas ouvidos pelo GLOBO, os principais candidatos de terceira via, Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede) transformaram sua última oportunidade de falar com os eleitores em uma espécie de ato contra o segundo turno entre o PT e o deputado federal Jair Bolsonaro. No entanto, com o clima de polarização, os dois não acreditam que o chamado terá apelo entre os eleitores.
— Era visível principalmente na Marina, no Meirelles e no Geraldo um descontentamento por não terem deslanchado. Estavam lá, mas abatidos, pedindo votos, mas incrédulos de que possa dar certo — disse Roberto Gondo, professor de Comunicação Política do Mackenzie.
Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, a novidade foi uma postura mais incisiva de Fernando Haddad. Teixeira, no entanto, afirmou que ausência de Jair Bolsonaro limitou qualquer potencial de impacto do encontro.
— Quando não há o primeiro colocado, o segundo vira alvo. O primeiro colocado é atacado mas sem que o ataque tenha muito impacto, porque, para a população, a réplica importa — diz.
O professor da FGV, no entanto, advertiu que as próximas pesquisas poderão apontar quais os efeitos da escolha de Bolsonaro em faltar ao debate por razões médicas ao mesmo tempo em que concedeu entrevistas e fazia transmissões ao vivo nas redes sociais.
— Não sei como a população vai avaliar o fato dele ter aparecido em outro canal e ao mesmo tempo depois de ter dito que não poderia debater — disse.
Para Gondo, Ciro Gomes teve o melhor desempenho. O professor do Mackenzie, contudo, minimizou as chances de um realinhamento dos eleitores que querem fugir do cenário entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.
O especialista, no entanto, acredita que o debate teve um caráter mais leve do que o esperado, com os candidatos vendo suas chances de chegar ao segundo turno se apequenando, já que tanto Ciro Gomes como Geraldo Alckmin permanecem estáveis nas pesquisas.
— Eles já começaram a se despedir, agradecer, um debate realmente final. Foi um debate leve. Isso você não via em 2014, que foi um debate pesado, tenso, em que Marina e Aécio ainda tinham chances — diz.
Gondo não afastou a hipótese de uma vitória no primeiro turno de Jair Bolsonaro, embora ainda acredite que a maior chance é a de um segundo turno entre o candidato do PSL e o petista caso eleitores de centro optem por "acabar logo com isso".
Apesar da possível derrota eleitoral, o professor não faz críticas às estratégias dos candidatos. Do ponto de vista dos marqueteiros, diz, essa foi uma das campanhas mais bem orquestradas, com poucos erros cometidos. A eventual derrota de candidatos como Ciro Gomes e Geraldo Alckmin, disse, não será por causa de erros estratégicos, mas pelo momento de polarização do país.
— A mensagem que eles tinham que dar era essa. O problema é que temos um descontentamento da nação que transcende políticas públicas. As pessoas não estão interessadas, dos dois lados, em ver o que vão fazer ou se vão ter condições de aplicar o que dizem — diz.
Dimitrius Dantas, O Globo