
O encontro que selaria o voto "Bolsodoria", que vinha sendo cogitado desde a pré-campanha, havia sido confirmado pela assessoria de imprensa do tucano pela manhã e causou mal-estar na equipe de Bolsonaro. A reunião foi articulada pela deputada federal eleita Joice Hasselmann e o deputado estadual eleito Frederico D’Ávila, ex-integrante do PSDB e do governo Geraldo Alckmin. A tentativa de aproximação desagradou integrantes do PSL que se posicionam contra o tucano. Presidente do diretório paulista do PSL, o deputado federal e senador eleito Major Olímpio declarou, nesta semana, apoio ao governador Márcio França (PSB), que tenta a reeleição.
Poucos minutos depois, o presidente do PSL, Gustavo Bebianno, chegou à casa de Paulo Marinho e negou que qualquer encontro tivesse agendado. Ele reafirmou a decisão de não apoiar candidatos nos estados por “estratégia.” Outro que apareceu no local foi o economista Paulo guedes.
- O João Doria é uma pessoa que tem uma posição muito mais à direita do que à esquerda, isso é muito claro. É uma pessoa que toma posição, um sujeito firme, e nós admiramos, mas não vamos nos envolver em questões estaduais - disse Bebianno, reafirmando as recentes declarações de Bolsonaro de que liberou os integrantes do partido para apoios individuais, mas manterá a neutralidade.
João Doria ficou cerca de duas horas na casa de Marinho. Apesar de visivelmente constrangido, ex-prefeito alegou que o presidenciável não compareceu ao encontro por "não se sentir bem fisicamente" e negou que tenha se frustrado:
- Eu compreendi perfeitamente isso. Se ele tivesse vindo aqui para gravar, feito agenda, sem a nossa presença, poderia haver dúvidas que algo que não pudesse ser simpático - disse o tucano, delegando a Joice Hasselmann a missão de explicar.
Além de não ser recebido pessoalmente, Doria confirmou que não falou ao telefone com Bolsonaro. O ex-prefeito rebateu as críticas que esteja tentando "surfar" na popularidade do capitão do exército.
- Eu respondo (a crítica) com a votação que tive em São Paulo. Com seis milhões de votos, eu fui eleito e fui eleito pelo PSDB. Não surfei em onda nenhuma. Isso é improcedente. Fui mais votado que o segundo colocado. Usei o meu capital político e não precisei de ninguém, que fique claro - disse o tucano, afirmando que está "oferecendo apoio, independente de receber".
Questionado por que não foi visitar Bolsonaro em casa, Doria justificou que não foi porque o candidato "está convalescente." Diariamente, o candidato do PSL recebe visitas de políticos e artistas. No mesmo horário em que Doria conversava com jornalistas, Bolsonaro fazia uma transmissão ao vivo pela internet.
Diante da insistência dos jornalistas sobre o motivo pelo qual Doria não foi à casa do presidenciável, a deputada federal eleita Joice Hasselmann interrompeu:
- Ele não foi porque não foi esse o combinado. Falei com ele (Bolsonaro) ao telefone. Nós marcamos de passar aqui onde haveria uma gravação, eu, como candidata do PSL, agora eleita, e também como voz do partido - disse Joice, que não ocupa nenhum cargo de direção do PSL, nem na executiva nacional, nem na estadual. - Eu tenho o cargo de deputada mais votada da história do PSL - reagiu, ao ser indagada sobre seu cargo na legenda.
Articuladora do encontro, Joice negou que o objetivo fosse que Bolsonaro aparecesse ao lado de Doria em vídeo de campanha.
- O Doria veio porque o Jair estaria gravando aqui e, portanto, a gente ia bater um papo, tomar um café, não era nada para gravar nada, nada oficial. Todas as coisas acontecem ao seu tempo. O segundo turno só começou. E vai haver um momento de definição nesse segundo turno. Fiquem tranquilos que vamos escolher o melhor - disse a deputada.
A conversa com jornalistas foi encerrada de modo abrupto. Irritados, o grupo deixou o local às pressas, alegando que pegariam um voo de volta a São Paulo.
Jussara Soares, O Globo