A Polícia Federal instaurou um novo inquérito para dar continuidade à investigação sobre o ataque a faca de Adelio Bispo ao candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL). O primeiro será encerrado até o fim de semana por causa do prazo mais curto devido ao fato de Bispo estar preso. Na Justiça Federal, investigações com réu preso podem durar no máximo 30 dias.
Como o Estado mostrou no sábado, 22, até o momento, após ouvir mais de 30 pessoas, quebrar os sigilos financeiro, telefônico e telemático de Adelio Bispo, o delegado federal Rodrigo Morais e sua equipe não encontraram nenhum indício de que o autor da facada tenha agido a mando de outra pessoa ou em grupo.
O segundo inquérito vai herdar do primeiro todas as informações colhidas. Além das quebras de sigilo e depoimentos, a PF vai analisar todo o sistema de câmera da cidade de Juiz de Fora (MG), onde ocorreu o ataque, para traçar todos deslocamentos de Bispo desde sua chegada na cidade.
O objetivo da nova apuração, segundo relatou um investigador, é fazer uma devassa nos últimos dois anos da vida de Bispo e mapear qualquer relação dele com outras pessoas que possam indicar a participação de mais pessoas no ataque.
Embora vá se debruçar sobre todas as informações coletadas novamente nessa segunda investigação, a PF já descartou varias das hipóteses levantadas, principalmente, por apoiadores de Bolsonaro.
Todas pessoas indicadas por seguidores do candidato nas redes sociais como sendo “ajudantes” de Bispo foram investigadas e não foram encontradas indícios mínimos de participação na ação. Entre essas pessoas, como revelou o Estado, foram ouvidas três mulheres com o nome Aryanne Campos.
Segundo os apoiadores de Bolsonaro, a mulher com esse nome teria passado a faca para Bispo. A versão foi completamente descartada investigação.
Arma. A faca utilizada passou por uma perícia que encontrou DNA de Bolsonaro na lâmina, o que prova que ela foi utilizada no crime.
Os investigadores descobriram que a escolha da faca como arma para o crime é explicada pelo fato de Bispo ter trabalhado como açougueiro e em uma restaurante de comida japonesa.
A PF também esmiuçou todas as transações financeiras de Bispo. Não foi encontrado nenhuma movimentação suspeita. O único depósito em espécie anormal teve origem em uma causa trabalhista. O cartão internacional que ele tinha nunca havia sido utilizado e foi enviado pelo banco sem a solicitação de Bispo.
Os equipamentos eletrônicos – celulares e notebook – também foram analisados. Dois dos quatro celulares estavam desativados e os outros não continham, pela apuração feita até agora, informações sobre contato com outras pessoas para a prática do crime. O notebook encontrado com ele estava quebrado e não era utilizado há cerca de um ano.
Crime político. Como mostrou o Estado, Bispo será enquadrado pela PF no artigo 20 da Lei de Segurança Nacional.
Esse artigo prevê a punição para quem cometer “atentado pessoal” por “inconformismo político”. Segundo a investigação da PF, foram as divergências políticas entre Bispo e Bolsonaro que levaram o ex-açougueiro a atacar o candidato.
Fabio Serapião, O Estado de São Paulo