A eleição geral deste ano terá o maior percentual de candidatos inéditos desde o pleito de 2006. Considerando todos os cargos em disputa, a taxa de postulantes novatos é de 42,8%.
Nas três eleições anteriores, candidatos que apareceram nas urnas pela primeira vez representaram 39,7% (2014), 41,1% (2010) e 38,8% (2006).
O maior percentual de candidatos inéditos é registrado em meio ao clamor por renovação na política. A decepção com governantes, acentuada pelas revelações da Operação Lava Jato, levou à criação de movimentos para estimular a oxigenação dos quadros.
O levantamento, feito pela Folha com base em dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), indica que mais pessoas que nunca haviam se candidatado resolveram entrar na disputa eleitoral em 2018.
Para determinar se um candidato é novo, foi considerada como parâmetro a eleição de 1994. Foi classificado como estreante, portanto, o candidato que não havia concorrido em nenhuma eleição (incluindo municipal) desde 1994.
Não foi possível retroceder mais anos por uma fragilidade das informações do TSE.
Historicamente, em eleições gerais, os maiores percentuais de novos postulantes ocorrem na disputa para deputado estadual e federal —a tendência se confirma desta vez.
Em 2018, 44,5% dos candidatos às Assembleias e 40% dos que almejam a Câmara dos Deputados são novatos.
O maior salto de renovação, entretanto, foi registrado na corrida ao Planalto: 15,4% dos presidenciáveis são novos, ante nenhum no pleito de 2014.
O aumento é puxado por Guilherme Boulos, 36 (PSOL) e João Amoêdo, 56 (Novo). Dos 13 presidenciáveis, os dois disputam cargo eletivo pela primeira vez. Em 2014, todos já haviam concorrido antes.
O partido de Amoêdo encabeça ainda a lista de legendas com maior taxa de inéditos (88%). Registrado em 2015, o Novo estreou em eleições em 2016. Seus filiados são em geral liberais neófitos na política.
Depois do Novo aparecem o PCO (Partido da Causa Operária), com 77%, e o PSL (Partido Social Liberal). Com 59% de candidatos novos, o PSL recebeu novos membros após a entrada no presidenciável Jair Bolsonaro, em março.
Uma das pessoas que se filiaram à legenda do capitão reformado foi a advogada Janaina Paschoal, 44, que agora disputa uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo.
É a estreia em urnas da professora, conhecida por ser coautora do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). “Eu decidi não me omitir”, disse ao se lançar.
No marxista PCO, dos 12 candidatos registrados pela sigla para governos estaduais, 8 nunca disputaram antes.
Na outra ponta, os partidos que mais têm candidatos repetentes são MDB (74% dos nomes já concorreram antes), PSDB (72%) e PT (68%).
Dentro do PSDB, a jornalista Sandra Freitas, 52, faz parte da minoria de novatos. A ex-apresentadora de TV, moradora de Vila Velha (ES), está na fatia de 28% dos tucanos que são estreantes em eleições.
“Pensei: por que continuar de braços cruzados? Se a política não for para mim, é para quem?”, diz ela, que vinha se sentindo “enojada” com a “má vontade dos políticos para resolver os problemas”.
Sandra, que foi contemplada pelo RenovaBR (entidade que bancou a formação de novas lideranças no primeiro semestre), afirma não se identificar com nenhuma legenda. Embora “desgastado”, o PSDB foi para ela a melhor opção.
“Eu concordo com os princípios do partido. Mas o determinante foi conseguir uma carta de independência”, diz Sandra, que, caso se eleja deputada estadual, não será obrigada a obedecer a todas as orientações da sigla.
Entre os inéditos na eleição deste ano, as mulheres são minoria: elas representam 39%, e os homens, 61%. A participação feminina, no entanto, é maior do que entre os candidatos já experientes. Os “velhos” se dividem em 25% de mulheres e 75% de homens.
Outra característica dos novatos é que são, na média, também mais jovens: 45 anos; os repetentes, 50.
“Não acho que a idade seja um mérito em si. Todo mundo já foi jovem, né?”, afirma Kim Kataguiri, 22, líder do MBL (Movimento Brasil Livre) e candidato a deputado federal em São Paulo pelo DEM.
“Sou contra o discurso da renovação pela renovação. Não basta só trocar os 513 [deputados]. Você pode mudar para jovens e continuar com o mesmo tipo de prática.”
Kataguiri diz que resolveu se candidatar porque poderá ter mais força como parlamentar do que influenciando votações de fora para dentro. “Também poderei apresentar minhas próprias propostas.”
Para a doutora em ciência política Lara Mesquita, especializada em partidos e eleições, o aumento de novatos pode estar relacionado à onda de movimentos que pregam oxigenação na esfera pública.
“Esse apelo por renovação é o grande chamariz para pessoas que nunca participaram”, diz a pesquisadora do Cepesp/FGV (Centro de Política e Economia do Setor Público).
Lara pondera, no entanto, que o número de novatos está próximo do verificado em eleições recentes e que a chegada de candidatos virgens “não necessariamente se traduzirá num aumento de renovação”.
Ela cita como razões a dificuldade de financiamento dos nomes inéditos, agravada pelas novas regras, e o alto número de detentores de mandato que se apresentam nas urnas novamente. “Quem tenta reeleição foi priorizado pelo partido na divisão do dinheiro.”