Ele passou os últimos 36 anos no palanque. Foi candidato a governador de São Paulo, a deputado na Constituinte e a presidente. Falava namorando microfones, spots e câmeras.
Quando vencia, discursava três vezes ao dia, de olho na próxima eleição. Na insônia das derrotas, fugia da cama na madrugada, ia até a cozinha, abria a geladeira e, sob a luz fria, fazia seu breve e secreto “comício” — ele descreveu a cena inúmeras vezes em praças públicas.
Lula candidato, de novo, só em 2038. Não se fala sobre isso no PT nem nos partidos adversários, mas o “fato concreto”, como ele dizia, é o seguinte: ao confirmar a validade da Lei da Ficha Limpa para todos, a Justiça Eleitoral declarou o ex-presidente inelegível pelos próximos 20 anos.
Em janeiro, ele foi condenado a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A sentença do tribunal (TRF-4) foi reconhecida em duas instâncias superiores (STJ e Supremo).
Na madrugada de sábado, foi enquadrado na lei (n° 135, de 2010) aprovada no Congresso por unanimidade, celebrada pelo PT e sancionada pelo próprio Lula, sem vetos. Ela determina que a inelegibilidade vai “desde a condenação até o transcurso do prazo de oito anos após o cumprimento da pena” (artigo 1º, inciso I, alínea E).
Resultado: aos 72 anos de idade, Lula não pode se candidatar agora e nem nas próximas cinco eleições presidenciais. Estará fora das urnas até os 92 anos.
É o principal personagem dessa safra de políticos punidos na Operação Lava-Jato com o rigor das novas normas anticorrupção. Há outros na mesma situação, como o ex-governador Sérgio Cabral e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, antigos chefes do MDB do Rio.
Estão inelegíveis até 2040. Cabral já foi sentenciado a mais de um século de prisão. A exemplo de Cunha e Lula, por enquanto, só teve uma sentença confirmada em segunda instância judicial.
Lula candidato foi uma constante na vida política de 81 milhões de brasileiros desde 1989, no primeiro voto direto para presidente depois da ditadura. Hoje, eles compõem a fatia de 56% do eleitorado que vai às urnas em outubro.
No ocaso do caudilho abre-se um novo ciclo na política brasileira.
O Globo