quarta-feira, 12 de setembro de 2018

‘Fazer política não é crime. Crime é roubar’, diz Eduardo Paes


O candidato do DEM ao governo do Estado do Rio, Eduardo Paes 10/09/2018 - Leo Martins / Agência O Globo


Depois de dois mandatos à frente da prefeitura do Rio, Eduardo Paes saiu do MDB e, agora, disputa o governo do Estado pelo DEM. O candidato apresenta propostas como a reestruturação das finanças públicas e a celebração de parcerias público privadas. Mas condiciona a retomada dos investimentos a mudanças efetivas também na área de segurança pública. Eleito prefeito com apoio do ex-governador Sérgio Cabral, Paes nega que soubesse do envolvimento do antigo aliado com o esquema de corrupção na administração estadual.

Nesta entrevista, Paes também fala sobre as acusações de que teria recebido caixa dois da Odebrecht no exterior, feitas por um delator da Lava-Jato. E afirma que nunca soube que seu ex-secretário de Obras Alexandre Pinto recebia propina, conforme denúncia do Ministério Público.

Em delação premiada, o ex-superintendente da Odebrecht Leandro Azevedo disse que acertou com o senhor um pagamento de US$ 5,7 milhões no exterior via caixa 2. O que tem a dizer sobre isso?
Ele não disse que acertou nada disso comigo. As investigações vão mostrar que não tenho conta no exterior. Se ouvir a delação inteira, o chefe dele (Benedicto Junior) deixa muito claro que eu nunca pedi nada para mim. O sujeito pode ter as expectativas que quiser. Não quer dizer que vá atender a elas.

Outro delator que citou seu nome foi o ex-marqueteiro Renato Pereira. Ele disse que houve direcionamento de licitações para a área de comunicação e pagamento de caixa 2 pelo empresário Jacob Barata Filho...
De jeito algum. A comissão de licitação da área de comunicação era formada por jornalistas. Também não houve pedido de dinheiro à Fetranspor. O problema é que tem essas pessoas que ficam desesperadas por coisas que cometeram e contam histórias. Compete a elas provar.

Mas a sua administração também foi envolvida na Lava-Jato por denúncias de que seu ex-secretário de Obras Alexandre Pinto recebeu propina...
Se soubesse tinha mandado o secretário embora. Inclusive eu perguntava para os diretores de empresas se alguém da prefeitura pedia dinheiro.

E a denúncia de que o Rio comprou a Olimpíada? O senhor não sabia?
Eu entrei na fase final da candidatura (em 2009). Torço para que a investigação não confirme essa denúncia. Eu morro de vergonha. Se for, lamentável que tenha sido dessa maneira. Não precisava disso. Mas não pode ser uma coisa que desconstrua tudo o que se fez.

A sua coligação é formada por 12 partidos, inclusive alguns investigados na Lava-Jato como o MDB, que já foi seu partido. Como explicar isso para o eleitor e como será sua relação com a Alerj caso vença a disputa em outubro?
Em 2012, cheguei a ter 20 partidos na minha aliança. Eu e o deputado estadual Comte Bittencourt (seu vice) é que somos os candidatos da chapa. Quem manda sou eu. Fazer política não é crime. Crime é roubar. Minha relação com a Alerj será semelhante à que tive com a Câmara do Rio quando fui prefeito. Não teve vereador designando secretários.

Mas os partidos indicavam secretários e os vereadores administradores regionais...

Secretarias mais importantes como Educação, Saúde e Fazenda eram indicações minhas, técnicas. Ter quadros políticos, indicados por partidos em secretarias, não é problema. Quanto às indicações dos vereadores, os administradores sequer tinham autonomia para autorizar gastos.

Não faltaram críticas mais contundentes de sua parte sobre o ex-presidente Lula e o ex-governador Sérgio Cabral, com quem conviveu e estão presos?
Ninguém vai me ver comemorar a prisão de pessoas que convivi, sejam ex-presidente ou ex-governador. Não comemoro nem tripudio. Nem se atingir adversários, como o ex-governador Anthony Garotinho. Respondo pelos meus atos. Se fizeram algo de errado, têm que pagar pelos seus atos.

Sua saída do MDB foi para ter uma candidatura mais competitiva?
Era importante a saída do MDB para mostrar à população que não tinha nada com aquilo que acontecia.

Chama atenção que, até agora, o senhor não fez uma agenda junto com Geraldo Alckmin, do PSDB, seu aliado.
Estou fazendo minha candidatura para governo do Estado. Não para uma campanha nacional. O Estado do Rio é minha nação. Quero ter uma boa relação independentemente de quem for presidente. Tenho maior respeito pelo Alckmin. Como governador, teve ótimos resultados, por exemplo, na Segurança Pública, registrando um quarto do número de homicídios em comparação ao Rio.

Se for eleito, o que pode ser modificado na política de Segurança Pública?
‘Não quero fazer criticas à pessoa do Pezão. Ele teve uma conjuntura muito desfavorável. Acredito muito na integridade dele. Mas infelizmente o governo é muito ruim’
- EDUARDO PAESCandidato do DEM ao governo do Rio
Falta uma política de Segurança Pública. As UPPs nunca foram um projeto de segurança. O projeto terá que ser revisto e a manutenção de cada unidade será estudada, caso a caso. Vamos ter que atuar com mais inteligência, porque estão morrendo muitos policiais e inocentes. Tem que ter mais policiamento ostensivo, orientado por uma estratégia que envolva inteligência e análise das manchas criminais. A intervenção acaba, mas pretendo procurar o presidente eleito para que as Forças Armadas continuem a auxiliar na segurança do Estado. Elas têm capacidade de planejamento e pessoal para ajudar no combate ao crime e retomada de territórios.

Pretende manter o Plano de Recuperação Fiscal? Qual será sua estratégia para tirar o Estado da crise e para os benefícios fiscais?
O plano foi uma salvação para o Estado em uma conjuntura de momento. Mas precisa ser repactuado e ter as condições discutidas. Não será um rompimento unilateral. Isso ajudará na recuperação da saúde financeira do estado, junto com outras medidas como melhorar a arrecadação, sem que haja aumento da carga tributária. As políticas de incentivos serão mantidas porque vamos respeitar contratos. Mas tem um monte de gente se aproveitando de contrapartidas sem gerar emprego no Rio, se aproveitando de brechas.

Essa recuperação da capacidade de investimento seria imediata?
Não no primeiro ano. Foi assim na prefeitura. Em 2009, quando assumi como prefeito, minha capacidade de investimento era praticamente nula. O que pode ser feito em 2019 é mudar duas curvas: Segurança Pública e Finanças. Feito isso, cria-se um círculo virtuoso. O estado do Rio tem um espaço enorme para realizar parcerias público privadas e concessões. Nos últimos anos, o estado não fez uma única PPP. Em parceria com os municípios seria possível, já no primeiro ano, fechar PPPs envolvendo projetos para ampliar o tratamento de esgotos da Baixada, gerando empregos. Não vamos privatizar a Cedae.

O senhor anuncia propostas para melhorar o atendimento na Saúde. Mas, na prefeitura, ocorreram problemas de má gestão em seu mandato. Também fala em mudar o Sistema Regulação de Leitos do Estado. Na prefeitura, o Sisreg também teve problemas.
Vamos distinguir o que aconteceu no Estado com o que a prefeitura enfrentou. O estado teve dirigentes presos. Na prefeitura, pode ter havido problema com diretores de OSs, mas não com gestores públicos. Uma das dificuldades é entender que, em contratos de gestão, como os mantidos com OSs, não se leva em conta o custo por item mas, sim, o custo final. E os problemas no Sisreg não foram para beneficiar ninguém. A gente ampliou enormemente a atenção básica e isso aumentou a demanda por exames.

O senhor tem um discurso crítico em relação ao Estado. Então o senhor acha que o governo Pezão é ruim?
Óbvio. Infelizmente. Não quero fazer criticas à pessoa do Pezão. Ele também teve uma conjuntura muito desfavorável. Acredito muito na integridade dele e gosto dele como ser humano. Mas infelizmente o governo é muito ruim. Mas quero olhar para frente.


Luiz Ernesto Magalhães, Maiá Menezes e Thiago Prado, O Globo