A alta das bolsas de Nova York, mesmo com novos capítulos da guerra comercial entre Estados Unidos e China, acabou por influenciar o mercado brasileiro. A Bolsa brasileira teve nesta terça-feira, 17, sua terceira alta consecutiva, garantida em grande parte pelo ímpeto comprador dos investidores estrangeiros. No cenário doméstico, também contribuiu a visão menos tensa em relação à eleição presidencial, apesar da expectativa pela pesquisa Ibope, a ser divulgada nesta noite. Assim, o Ibovespa fechou em alta de 1,99%, aos 78.313,96 pontos, maior patamar desde 29 de agosto.
Pela manhã, a China confirmou o que os mercados já esperavam e anunciou tarifas de 5% a 10% sobre US$ 60 bilhões de produtos importados dos Estados Unidos. O anúncio foi uma retaliação à decisão de Washington de impor cobranças extras de 10% sobre US$ 200 bilhões em mercadorias compradas da China, que passarão a 25% em 2019. À tarde, o presidente dos EUA, Donald Trump, defendeu as tarifas impostas sobre a China e disse que este é apenas o começo.
Os novos capítulos da novela comercial protagonizada por EUA e China acabaram por ser minimizados no mercado internacional, diante de avaliações de que as medidas terão impacto limitado e que as negociações podem ainda levar meses antes de uma solução. Com isso, os mercados americanos encontraram espaço para recuperar perdas recentes e oscilaram em alta.
"O dia não deixou de ser um pouco estranho, uma vez que, em um primeiro momento, as notícias envolvendo Estados Unidos e China deveriam provocar reação negativa. Mas ao mesmo tempo, era algo que já estava na mesa há algum tempo", disse Glauco Legat, analista da corretora Spinelli.
Internamente, diz o analista, o mercado manteve o viés um pouco mais otimista baseado na expectativa de que o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) tenha condições de vencer concorrentes considerados não reformistas.
No Brasil, o ganho do Ibovespa foi garantido principalmente pelas blue chips do setor de commodities e da maioria das ações do setor financeiro, com Banco do Brasil à frente (+4,46%). Os papéis da Petrobras seguiram a valorização dos preços do petróleo no mercado internacional e subiram 3,60% (ON) e 4,38% (PN). Vale ON, ação de maior peso na composição do Ibovespa, terminou o dia com ganho de 4,18%.
Com o resultado de hoje, o Ibovespa passa a contabilizar alta de 2,13% em setembro e de 3,01% em 30 dias.
Dólar
Depois de dois dias de queda, o dólar voltou a subir nesta terça-feira, com o mercado de câmbio aguardando a divulgação da próxima pesquisa Ibope. O dólar à vista terminou cotado em R$ 4,1442, com alta de 0,36%. Operadores ressaltam que o dia no mercado externo mostrou um dólar misto e pouco contribuiu para ditar o ritmo dos negócios aqui. A moeda norte-americana caiu ante alguns emergentes, como México, África do Sul e Rússia, mas subiu nos países mais fragilizados, como Argentina e Turquia.
"O mercado passou o dia em compasso de espera pela pesquisa do Ibope", afirma o diretor da corretora Mirae, Pablo Spyer. As mesas de operação vão olhar com lupa o desempenho dos dois primeiros candidatos, os índices de rejeição e os cenários para o segundo turno, ressalta ele. Jair Bolsonaro (PSL), Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT) aparecem nas primeiras colocações nos últimos levantamentos.
Pela manhã, o dólar chegou a subir e bater máxima, a R$ 4,1503, mas desacelerou em seguida e passou a oscilar perto da estabilidade até perto do fechamento, quando voltou a subir. Na mínima do dia, foi a R$ 4,1198.
Uma pesquisa do Bank of America Merrill Lynch divulgada hoje, feita com gestores internacionais, mostra que aumentou a expectativa de que dificilmente o dólar deve terminar o ano abaixo de R$ 3,80 e cresceu a aposta – para 37% dos entrevistados, ante 17% do levantamento anterior – que a moeda deve ficar acima de R$ 4 em dezembro. Em maio, 80% dos investidores previam o real abaixo de R$ 3,80 no fim deste ano.
Ao mesmo tempo, os investidores ouvidos pelo BofA estão divididos sobre o que o Banco Central deveria fazer para lidar com o câmbio mais pressionado: 40% acham que não deveria fazer "nada", enquanto 29% dizem que a autoridade monetária deveria "elevar juros", 15% acreditam que vender swap de forma discricionária é a melhor solução e perto de 8% acham que deveria vender reservas.
Em sabatina hoje, o economista Mauro Benevides Filho, um dos principais assessores econômicos na campanha presidencial de Ciro Gomes (PDT), defendeu a criação de um comitê para definir intervenções no dólar, nos mesmos moldes do que o Comitê de Política Monetária (Copom) faz para os juros. "Estas intervenções precisam ser melhor equacionadas. Não faz sentido um cara, sozinho, definir o rumo do câmbio com US$ 120 bilhões em swaps cambiais", declarou o economista. "O Copom tem uma atuação bem clara e definida, pautada por critérios técnicos. É isso que queremos levar ao câmbio", complementou.
Paula Dias e Altamiro Silva Junior, O Estado de S.Paulo