Os participantes do terceiro debate entre presidenciáveis, levado ao ar neste domingo pela TV Gazeta, enfrentaram uma concorrência desleal. Hospitalizado, Jair Bolsonaro foi o protagonista do programa. Todo o resto (aqui e aqui serviu de pano de fundo para que os demais candidatos exibissem uma ensaiada presença de espírito para lidar com a ausência de corpo do rival esfaqueado.
Bolsonaro foi duplamente beneficiado. Além de ser poupado de ataques, escapou de contraditórios que, nos debates anteriores, realçaram seus pés de barro. Livrou-se de um teceiro constrangimento. Antes do atentado, mandara a assessoria avisar que não compareceria ao debate. Seria castigado com a exposição de um púlpito vazio. Entretanto, a pedido dos rivais, o estrado de onde falaria foi retirado de cena.
A principal vítima da ausência de Bolsonaro foi Geraldo Alckmin. Último colocado do pelotão de candidatos que sonham em provar que são competitivos, ele precisa alvejar Bolsonaro, que lhe rouba votos até em São Paulo. Privado pelas circunstâncias do seu alvo preferencial, Alckmin ainda foi fustigado por Henrique Meirelles por ter atacado a a vítima da facada no horário eleitoral.
De fato, Alckmin reservou 30% de sua vitrine eletrônica para expor pontos fracos de Bolsonaro. Por exemplo: discussões do candidato com mulheres e seu apreço pelas armas. A facada levou Alckmin a retirar os ataques do ar. Mas não deu tempo cancelar a exibição dos vídeos programados para o dia do ataque. Daí a provocação de Meirelles.
“Certamente, o candidato não viu meus spots”, respondeu Alckmin. “Em nenhum momento pregamos violência. O que mostramos foram frases, não ditas por mim, exatamente para dizer que o caminho da violência não vai levar a nenhum lugar melhor. Sou contra qualquer tipo de radicalismo.”
Nenhum outro nome foi tão mencionado no debate quanto o de Bolsonaro. Antes atacado por seu extremismo, o paciente do Hostpital Albert Eisntein foi mencionado num contexto que oscila entre o neutro e o positivo, sempre associado à ideia de que o ataque que sofreu evidencia a necessidade de pacificação política do país.
Marina foi quem melhor aproveitou o mote da reunificação. Usou-o como escada para alcançar as mulheres, que representam 52% do eleitorado: “Esse é o primeiro debate que nós estamos fazendo depois do atentado contra o candidato Jair Bolsonaro”, disse a presidenciável da Rede. Lembrou o assassinato de Marielle Franco e o tiro contra a caravana de Lula. E convidou o eleitorado feminino para se juntar a ela num “grande movimento de unir o Brasil a favor daquilo que interessa: saúde, educação, vida digna para todos, um país próspero, bom de se viver.”
Ao final do debate, restou a sensação de que Bolsonaro vai consolidando sua presença no segundo turno. O capitão tinha 8 segundos no horário eleitoral. Agora, sem sair da cama do hospital, dispõe de uma exposição 24 horas diárias no noticiário. Poupando-o, seus rivais concentram-se na disputa pela outra vaga. Também ausente do debate, o quase-candidato Fernando Haddad entra na briga nesta terça-feira.
Com Blog do Josias, UOL