Geraldo Alckmin (PSDB) patina no primeiro turno, mas bate todos os adversários no segundo, exceto Marina Silva (Rede). Jair Bolsonaro (PSL) é o oposto: campeão no primeiro turno sem Lula, perde de todos os outros no segundo, exceto Fernando Haddad (PT), que nem candidato é. Isso atinge a percepção de que Alckmin é fraco e Bolsonaro é forte, o único “anti-PT”.
Segundo o Datafolha, Alckmin cresceu de cinco a seis pontos entre abril e agosto nos cenários de segundo turno, registrando linha ascendente contra todos os adversários, inclusive Bolsonaro. Em abril, os dois tinham empate de 33% num eventual confronto direto. Hoje, Alckmin tem 38% contra 33% de Bolsonaro.
Mesmo em relação a Marina, a única que venceria Alckmin se o segundo turno fosse hoje, a tendência é favorável a Alckmin. A diferença era de 44% a 27% em abril e passou a ser de 41% a 33% agora. Ela caiu, ele subiu.
Alckmin também derrotaria Ciro Gomes (PDT), de 37% a 31%, e teria mais do que o dobro do que Haddad. Em abril, o tucano tinha 37% contra 21% do petista. Agora, 43% a 20%, com a ressalva de que Haddad ainda faz uma meia campanha e vai crescer bastante a partir da propaganda eleitoral na TV, que começa dia 1.º de setembro, com Lula de candidato e Haddad de “vice”, lado a lado. E vai continuar crescendo quando Lula for impugnado e ele assumir de fato a candidatura.
Ainda assim, os dados do segundo turno mostram algo muito importante para a análise da eleição e para a estratégia das campanhas: Bolsonaro pode ser o “anti-PT” no primeiro turno, mas Alckmin é mais “anti-PT” no segundo. Isto é.... se chegar lá. No cenário com Haddad (4%), ele fica com modestos 9% no primeiro turno.
Ao longo de toda essa longa eleição, Alckmin enfrentou o fogo amigo de João Doria, a competição desigual com Luciano Huck, as manifestações erráticas de Fernando Henrique Cardoso e o ataque frontal de Alvaro Dias, que tira seus 3% do Sul, um ex-reduto tucano que desconta em Alckmin a irritação com as revelações sobre Aécio Neves.
Nada disso, porém, tem sido tão deletério para a campanha do tucano quanto a massificação de que “Alckmin não tem chance”, “Alckmin não cresce”, “Alckmin não ganha do PT”. Há mais de um ano ele sofre a pressão desgastante de crescer e demonstrar força, e a frustração de expectativas se retroalimenta. O resultado do segundo turno no Datafolha ajuda a quebrar esse círculo vicioso da candidatura?
Nesta fase, antes da TV, só é possível concluir que a impugnação de Lula é questão de tempo; Bolsonaro é campeão de votos, mas também de rejeição (37%); Ciro Gomes perdeu vigor; Marina chegou ao segundo lugar isolado sem Lula; Haddad vai crescer muito no rastro de Lula; Alckmin tem mais condições de bater o PT na reta final que Bolsonaro e os demais.
O tempo da Justiça Eleitoral conta a favor de Lula e da cronologia do PT, que aposta suas fichas na capacidade da TV para transferir as intenções de voto de Lula para Haddad. Hoje, quase metade dos eleitores de Lula nem sabe quem é esse tal de Haddad, mas com a TV, o excesso de exibição na mídia e o trabalho da militância, logo, logo, vai saber.
Hoje, Marina Silva e Ciro Gomes dobram de votos quando Lula não está nas pesquisas. Ela vai de 8% para 16%, e ele, de 5% para 10%. Até o “inimigo” Alckmin abocanha três pontos (de 6% para 9%). Isso vai se manter quando o Nordeste captar que Haddad é Lula?
Haddad precisa muito de exibição, enquanto Bolsonaro tenta se esconder para fugir de perguntas que não sabe ou não tem como responder. E ele tem pouco tempo de monólogo na TV, mas Alckmin tem um latifúndio e os dois vão guerrear pelo selo “anti-PT” e “antiesquerdas”.
O Estado de São Paulo