sábado, 4 de agosto de 2018

"A Petrobras se recupera", por Miriam Leitão

A Petrobras teve o seu maior lucro trimestral desde 2011, justamente no período em que o país viveu a crise provocada pela greve decretada contra a política de preços da estatal. Vale a pergunta: foram as vendas do diesel e da gasolina que turbinaram o resultado da empresa? O balanço no trimestre revela que os derivados de fato ajudaram, mas não foram o único fator. Os ganhos da área de exploração e produção foram o dobro da área de abastecimento. A companhia pagou R$ 75 bilhões ao governo no primeiro semestre.
O que o balanço da empresa revela é que a Petrobras está conseguindo se recuperar do período em que foi usada politicamente, seja para fazer os planos do governo, seja para ser loteada entre os nomeados dos partidos aliados. Se o lucro foi recorde para o trimestre em sete anos, o pagamento de tributos, royalties e participações também saltou 28% nos seis primeiros meses de 2018, em relação a 2017, e chegou a esses R$ 75 bi. Isso ajudou a aliviar a crise fiscal dos governos federal, estadual e municipal.
O endividamento caiu ao menor nível desde 2012 e a estimativa da companhia é atingir ainda este ano a meta de alavancagem de apenas 2,5 anos de dívida sobre a geração de caixa. Por enquanto, ela ainda é a empresa mais endividada do mundo, porque assim foi deixada pelo governo do PT. Mas a atual administração conseguirá reduzir a um patamar abaixo de três anos, considerado o limite para empresas saudáveis financeiramente.
— A dívida caiu, e o mais importante é que está bem administrada. Alongou os prazos e diminuiu o patamar de juros. Mas continua alta, o que exige continuar com muita disciplina de capital — disse Adriano Pires, do CBIE.
O aumento do lucro é uma combinação de fatores. Na média, o petróleo do tipo brent ficou 36% mais caro no primeiro semestre deste ano e o dólar subiu em 8% sobre o real, em relação a 2017. Como o petróleo é cotado internacionalmente, o principal produto da empresa se valorizou duplamente. A Petrobras também reduziu gastos operacionais, pelas parcerias que fez com outras petrolíferas, e diminuiu despesas financeiras, como resultado da redução da dívida.
Olhando para os números do segundo trimestre, justamente o período da greve, o ganho com os derivados deu um salto. A venda de combustíveis aumentou 6% e a de diesel subiu 15%. Com isso, o lucro dessa diretoria da empresa disparou 72%, de R$ 3 bilhões para R$ 5,2 bi, e a Petrobras ainda tem a receber do governo, por causa do subsídio ao combustível no mês de junho, algo em torno de R$ 1 bilhão, pelas contas do CBIE. Mas os ganhos na área de exploração e produção, na qual a Petrobras tem as melhores margens, foram o dobro, R$ 11,5 bilhões. Ou seja, a venda de derivados melhorou o caixa, mas a companhia arrecadou mais com petróleo bruto.
Quando a análise é feita para os seis primeiros meses do ano, a influência dos derivados diminui. A Petrobras teve lucro de R$ 17 bilhões no período, com ganhos de R$ 23,1 bilhões na área de exploração e produção, duas vezes mais do que o registrado em 2017. Já a diretoria de abastecimento lucrou R$ 8,3 bi, com aumento de 10%.
O bom resultado fez as ações da empresa subirem 3,4% na bolsa ontem. No ano, a recuperação é de 31%, o que significa um aumento de valor de mercado de R$ 75 bilhões. Desde o pior momento, em 11 fevereiro de 2016, quando chegou a valer R$ 67,7 bilhões, a Petrobras teve um ganho em valor de mercado de R$ 223 bilhões, atualmente ela vale R$ 291 bi. A ação preferencial, que é a mais negociada, valorizou 400% de lá para cá , segundo Einar Rivero, da Economática.
A Petrobras continua no centro do debate político, com alguns candidatos à Presidência criticando a sua política de preços. Seja qual for a decisão do próximo governo, é preciso ficar claro que o caminho da intervenção nos combustíveis e do uso político da empresa é desastroso. A estatal começa a se reerguer de um longo e penoso caminho que a levou, entre outros flagelos, a ser o centro do maior escândalo de corrupção do país. A petrolífera precisa ter competição em certas áreas estratégicas como refino e gás natural. Precisa também estar associada às grandes empresas do mundo, como tem sido possível através dos leilões e concessões de áreas de exploração. Que o próximo presidente aprenda com os erros recentes cometidos na Petrobras.
O Globo