sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A avassaladora ascensão tucana

Mesmo longe do poder, o PSDB elege o maior número de prefeitos e passa a governar um em cada quatro brasileiros. Desafio, agora, é pacificar o partido para 2018


A avassaladora ascensão tucana
UNIÃO É A PALAVRA DE ORDEM Aécio Neves (ao centro), Geraldo Alckmin (à esq.) e Fernando Henrique Cardoso (à dir.) juntos. Os tucanos esperam que a cena se repita em 2018
Perceptível desde o primeiro turno da disputa municipal, a ascensão tucana frente ao declínio petista se consolidou com a votação no domingo 30 e deu ao PSDB uma franca vantagem na corrida por 2018. O partido foi o que mais elegeu prefeitos no segundo turno e conquistou 14 das cidades disputadas. Já o PT, que tentava vencer em sete prefeituras, não elegeu nenhum candidato, resultado proporcional ao mar de lama de corrupção em que se afundou após a Operação Lava Jato. A partir de 2017, um em cada quatro brasileiros será governado por prefeitos do PSDB. Ao todo, a sigla venceu em 28 das 92 cidades do País com mais de 200 mil eleitores e somará 24% da população brasileira sob sua administração – um total de 36 milhões, a maior concentração dentre todos os partidos. O maior desafio, agora, é manter unificada a legenda para a disputa presidencial.
Com a retumbante vitória nas urnas, as principais lideranças tucanas saíram fortalecidas para daqui a dois anos. O senador Aécio Neves (MG) segue como um nome forte para a disputa. Além de ser o presidente nacional do partido, Aécio parte com um recall da eleição anterior de 51 milhões de votos. Já o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não bastasse ter conseguido eleger o seu afilhado político João Doria (PSDB) no primeiro turno em São Paulo, verá seus aliados administrarem quase todas as 20 maiores cidades do Estado. O chanceler José Serra, por sua vez, é um eterno candidato à Presidência, em que pese a acusação de ter recebido R$ 23 milhões por meio de caixa dois. Aproveitando o bom momento, outro importante quadro da sigla se insinua no páreo. Trata-se do governador de Goiás, Marconi Perillo. Já temos ótimos quadros como Aécio, Alckmin, Serra e até Tasso Jereissatti. Havendo prévias, vou avaliar me lançar também”, afirmou Perillo.
Nos bastidores, a corrida por 2018 já começou. Aécio e Serra estão empenhados em conter o avanço de Alckmin. O único consenso é pela realização de prévias para a escolha do candidato. Mesmo assim, há divergências quanto ao universo de eleitores. Os paulistas querem abrir para todos os filiados, enquanto os tucanos ligados a Aécio preferem limitar a votação a parlamentares e dirigentes.
De todo o modo, os louros eleitorais beneficiam a todos, independentemente de quem será o candidato ao Planalto daqui a dois anos. As principais conquistas do PSDB no segundo turno foram em Porto Alegre, Manaus e Belém. Nelson Marchezan Júnior foi o primeiro prefeito tucano eleito na história da capital gaúcha, cidade de forte tradição de esquerda. Até então atrás nas pesquisas, o afilhado político de Aécio ganhou fôlego na reta final do primeiro turno. Sua estratégia foi a adoção de um incisivo discurso em nome do reequilíbrio fiscal. O deputado federal se beneficiou da situação calamitosa hoje vivida pelo Rio Grande do Sul para atacar o candidato derrotado no segundo turno, Sebastião Melo, do mesmo partido que o governador Ivo Sartori (PMDB). Deu certo.
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Já existe consenso em torno da realização de prévias para a escolha do
candidato ao Planalto. Mas há divergências quanto ao universo de eleitores
Triunfos de norte a sul
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Em Belém, o atual prefeito tucano Zenaldo Coutinho conseguiu vencer índices de pelo menos 40% de rejeição identificadas em pesquisas locais e, numa disputa acirrada, ganhou do adversário. O ex-prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), que por duas vezes administrou a prefeitura da capital paraense pelo Partido dos Trabalhadores, teve 48% dos votos contra 52% do tucano. Em Manaus, o ex-senador Arthur Virgílio Neto também conseguiu a reeleição e com 56% dos votos derrotou Marcelo Ramos (PR).
Em seu berço político, o ABCD paulista, o Partido dos Trabalhadores não conseguiu emplacar nenhum prefeito. Deu lugar, então, aos aliados de Alckmin com a promessa de que uma maior interlocução com a administração estadual abriria as portas para investimentos. Os tucanos Paulo Serra, Orlando Morando e José Auricchio Jr. assumirão, respectivamente, os municípios de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Já Diadema seguirá com o atual prefeito, Lauro Michels (PV), também aliado do governador do Estado. Outro exemplo da influência bem-sucedida do governador paulista foi em Ribeirão Preto, onde o deputado federal Duarte Nogueira (PSDB) foi eleito no segundo turno contra Ricardo Silva (PDT).
“Havendo prévias, vou avaliar me lançar para 2018” Marconi Perillo, governador de Goiás
“Havendo prévias, vou avaliar me lançar para 2018” Marconi Perillo, governador de Goiás
Com a nova proporção populacional sob sua gestão, o PSDB também administrará as maiores receitas municipais do País e somará um orçamento de R$ 158,5 bilhões anuais. Como, geralmente, o desempenho eleitoral das siglas na corrida municipal está diretamente ligado aos resultados da disputa presidencial que ocorre dois anos depois, a avassaladora ascensão tucana prenuncia bons auspícios para 2018.