
Vai chegando ao seu final esta incrível, enigmática e simbólica semana de setembro de 2016. Ainda bafejada e iluminada pelas palavras de Ulysses Guimarães, que ecoaram, segunda-feira, na cerimônia de posse da ministra Cármen Lúcia, mineira de Montes Claros, no comando da Suprema Corte de Justiça do Brasil.
O pensamento do parlamentar, artífice maior da Constituição de 1988, foi resgatado pelo decano do STF, Celso de Mello - com extrema coragem, senso de oportunidade e rara noção de perspectiva de espaço e de tempo (nos padrões locais). Além de atualidade e força, o ressuscitado discurso mostraria consequências práticas cruciais e severas logo em seguida. Palavras, atos e fatos repercutem ainda, com intensidade, dentro e fora do País.
Espera-se que por bastante tempo ainda. Ao menos, pelo período necessário (uns dois anos mais, quem sabe?) para que a Operação Lava Jato, - conduzida pelo juiz Sérgio Moro, com a ajuda fundamental de agentes da Polícia Federal e da eficiente e incansável equipe de procuradores do Ministério Público Federal, (à frente Deltan Delagnoll e seus slides cercados de flechas, no seu devastador mostruário de Power Point) - possa conseguir completar o exemplar trabalho de profilaxia ética, de combate sem trégua a corruptos e corruptores encastelados nos governos, na política, nos negócios e criminosas armações, onde é quase impossível distinguir o público do privado.
Assim espera “Sua Excelência, o Povo”, sem dúvida, o personagem maior dos últimos seis dias deste vesperal de primavera brasileira. Personagem distinguido e exaltado pela nova ministra presidente do Supremo, em sua fala, depois de assinar o livro de posse: carregada de sentimentos íntimos, citações variadas, singeleza, mineirice (no melhor sentido da expressão), repleta de simbologia, principalmente para os que lidam, estudam ou convivem com os signos da comunicação, da política, do poder e da justiça.
A começar pela quebra do protocolo e pela dispensa das egocêntricas, reverenciais (no pior sentido do termo) e cúmplices festividades de praxe. Com brindes, tapinhas nas costas e atitudes do tipo “deixa como está para ver como é que fica”. Um marco, também, a ser comemorado nesta semana para sempre!.
Diante disso, nunca é demais e vale reproduzir, pela voz de Celso de Mello, as palavras de Ulysses. Em merecido tributo em dose tripla: ao inesquecível parlamentar do MDB (para muitos, personagem encantado, que vive no fundo do mar, depois do trágico acidente de helicóptero que o fez desaparecer); ao mais antigo ministro da Corte Suprema, e acima de tudo e de todos, à sociedade, ao povo brasileiro, grande e principal homenageado na cerimônia solene, da tarde de segunda-feira passada, no Supremo Tribunal Federal:
"A corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos, que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam. Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública".
Seguramente, tão ou mais relevantes, quanto o poderoso e irretocável pensamento em si, foram as reações pessoais e as conseqüências gerais que se seguiriam, em cadeia e aos borbotões de emoções e fatos surpreendentes, já a partir da própria segunda-feira.
Ainda no ambiente da cerimônia – transmitida ao vivo para o País pela TV Justiça (pública) e pelo canal privado Globo News – será impossível, por muito tempo, esquecer o ar de espanto, surpresa ou desconforto, evidente no semblante de alguns convidados, durante o discurso do decano Celso de Melo, escolhido para fazer a saudação à presidente empossada.
Entre os presentes mais focalizados pelas câmeras da TV (tão implacáveis quanto o juiz Sérgio Moro), estavam o presidente da República, Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Renan responde atualmente a 10 inquéritos no STF, entre investigações da Lava Jato, da Zelotes e de vários outros assuntos cavernosos. São indescritíveis as imagens de espanto de Renan, na mesa principal, e de desassossego de Lula, no auditório, na cadeira de ex-presidentes convidados, ao lado de Sarney. Só vendo, para cada um avaliar e tirar conclusões próprias.
Em seguida, na noite de segunda e começo da madrugada de terça-feira, a Câmara aprovou a cassação do ex-todo poderoso presidente da Casa, Eduardo Cunha, por 450 x 10 votos (e nove abstenções). O placar dispensa comentários, o resto é com o juiz da Lava Jato, em Curitiba, para onde Cunha foi mandado para acertar contas com a Justiça. E teve depois o impacto da denúncia contra Lula e a ex-primeira dama Marisa Letícia, seguida da devastadora coletiva do procurador - chefe da força-tarefa, Deltan Delagnol. E o melancólico discurso - resposta de Lula, em São Paulo, entre choro, arroubos de vã valentia, poucas explicações, e aparentemente desesperada convocação do que ainda resta de militância petista e antigas e combalidas for&cc edil;as políticas e sociais auxiliares, para “a resistência nas ruas”. A conferir.
Ah, Bunlai, o pecuarista amigo do peito de Lula, foi condenado a 8 anos de prisão. E a ex-presidente Dilma Rousseff cancelou nesta sexta-feira, pela segunda vez depois do impeachment, sua prometida visita a Salvador, para reiniciar suas atividades políticas e de palanque, ao lado dos petistas Rui Costa (governador) e Jaques Wagner (ex), "dar uma força na campanha da deputada do PC do B e fiel aliada, Alice Portugal - que claudica na tentativa de se eleger prefeita da capital contra ACM Neto(DEM) , além de denunciar o "golpe".
Ufa, que semana!!!