Na Assembleia da ONU, o presidente faz seu discurso mais contundente. Defende os interesses do País e, sem as amarras ideológicas dos governos anteriores, aborda temas polêmicos do cenário internacional
Ao abrir a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em seu primeiro discurso como presidente efetivo para um colegiado de peso e prestígio internacional, Michel Temer imprimiu novas cores à diplomacia brasileira. Se antes a tinta carregava ideologicamente no vermelho, agora ela pincela uma diversidade de cores. O presidente não se furtou em abordar nenhum tema. Como um pêndulo, perpassou de maneira pragmática por temas palatáveis à direita e à esquerda do espectro político sem fazer distinção, elegendo exclusivamente como norte os interesses do País e a soberania nacional. Defendeu a antiga demanda do Itamaraty de reformar o conselho de segurança da entidade, incluindo o Brasil como membro fixo, cobrou a coexistência pacífica entre Israel e a Palestina, a aceleração de acordos climáticos e uma colaboração internacional para mitigar o drama dos refugiados. Em outra inequívoca demonstração de que não balizará as relações internacionais por convicções de cunho ideológico, defendeu o fim do embargo econômico dos Estados Unidos a Cuba, a despeito das críticas formais do regime dos irmãos Castro à sua posse.
Durante a fala do peemedebista, antigos parceiros dos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, representantes do Equador, Nicarágua, Cuba, Bolívia, Costa Rica e Venezuela deixaram a plenária – numa atitude absolutamente inútil. Provavelmente, incomodados com o primeiro recado emitido por Temer em seu pronunciamento: o de que o processo de deposição de Dilma Rousseff observou a liturgia expressa na Constituição. “Tudo transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional. Não há democracia sem Estado de direito, sem normas que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos”, afirmou Temer na terça-feira 20, ignorando solenemente o protesto. O Uruguai, que no início deste ano chegou a fazer declarações contrárias a saída de Dilma, não se misturou à patética revoada dos chefes de Estado dos países vizinhos. Preferiu demonstrar outra postura. Em Nova Iorque, o presidente Tabaré Vázquez participou de um encontro bilateral com Temer.
“Tudo transcorreu no absoluto respeito à ordem constitucional. Não há
democracia sem normas que se apliquem inclusive aos mais poderosos”
A submissão ideológica deu lugar, como deve ser, aos negócios. O evento serviu para a tentativa de captação de investimentos. Tanto no discurso como nas conversas ao pé do ouvido com lideranças e chefes de Estado internacionais, Temer e ministros fizeram questão de vender ao mundo a ideia de que o País atravessa um novo momento, mais propício ao ambiente de estabilidade econômica e de segurança jurídica. “Nossa tarefa, agora, é retomar o crescimento econômico e restituir aos trabalhadores brasileiros milhões de empregos perdidos”, disse o presidente. “A confiança já começa a restabelecer-se e um horizonte mais próspero já começa a desenhar-se. Nosso projeto de desenvolvimento passa, principalmente, por parcerias em investimentos, em comércio, em ciência e tecnologia”, complementou.
Nova prática
Na quarta-feira 21, Temer se esforçou em demonstrar que o novo discurso diplomático está alinhado com a prática. À platéia estrangeira, apresentou um pacote de oportunidades de investimentos. São projetos necessários para, além de gerar empregos, destravar os gargalos de infraestrutura. Ao todo, o governo expôs cerca de 35 propostas de privatizações e concessões de estradas, aeroportos, ferrovias, portos, distribuição e produção de energia, mineração e até da loteria. Espera arrecadar R$ 24 bilhões apenas em 2017. Foi entregue ainda ao secretário-geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, um documento em que o Brasil ratifica o Acordo de Paris. Trata-se de um tratado internacional em que se compromete a adotar uma série de medidas para que o aquecimento global se limite a até 1,5º C acima do período pré-industrial “Mais do que possível, é necessário crescer de forma socialmente equilibrada com respeito ao meio ambiente. O planeta é um só. Não há plano B. Devemos tomar medidas ambiciosas, sob o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, afirmou. Para cumprir o acordo, o País precisará retroagir a emissão de gases de efeitos estufa para mais de 30% dos níveis abaixo dos de 2005, reflorestar uma área de 12 milhões de hectares e elevar para 18% o uso de fontes sustentáveis de energia. Ou seja, precisará ir além da carta de intenções.
O novo tom do Brasil
Em sua estréia perante às Nações Unidas, Michel Temer defende o funcionamento das instituições do País e cobra líderes internacionais. Confira os temas tratados:
– Legalidade do processo de impeachment
– Defesa da coexistência pacifica entre Israel e a Palestina
– Reforma do Conselho de Segurança da ONU
– Cooperação para resolver o problema dos refugiados
– Redução do protecionismo econômico
– Fim do embargo a Cuba
– Defesa da coexistência pacifica entre Israel e a Palestina
– Reforma do Conselho de Segurança da ONU
– Cooperação para resolver o problema dos refugiados
– Redução do protecionismo econômico
– Fim do embargo a Cuba
Foto: Bryan Thomas/The New York Times