sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Temer fala grosso

IstoE

Na Assembleia da ONU, o presidente faz seu discurso mais contundente. Defende os interesses do País e, sem as amarras ideológicas dos governos anteriores, aborda temas polêmicos do cenário internacional

Temer fala grosso
Mudança de rumo Discurso de Michel Temer na ONU, na terça-feira 20, revelou pragmatismo e busca de investimentos para o País

Ao abrir a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em seu primeiro discurso como presidente efetivo para um colegiado de peso e prestígio internacional, Michel Temer imprimiu novas cores à diplomacia brasileira. Se antes a tinta carregava ideologicamente no vermelho, agora ela pincela uma diversidade de cores. O presidente não se furtou em abordar nenhum tema. Como um pêndulo, perpassou de maneira pragmática por temas palatáveis à direita e à esquerda do espectro político sem fazer distinção, elegendo exclusivamente como norte os interesses do País e a soberania nacional. Defendeu a antiga demanda do Itamaraty de reformar o conselho de segurança da entidade, incluindo o Brasil como membro fixo, cobrou a coexistência pacífica entre Israel e a Palestina, a aceleração de acordos climáticos e uma colaboração internacional para mitigar o drama dos refugiados. Em outra inequívoca demonstração de que não balizará as relações internacionais por convicções de cunho ideológico, defendeu o fim do embargo econômico dos Estados Unidos a Cuba, a despeito das críticas formais do regime dos irmãos Castro à sua posse.

Infantilidade inútil: Numa atitude antidemocrática, delegações de países bolivarianos deixam o plenário da ONU durante pronunciamento de Temer
INFANTILIDADE INÚTIL – Numa atitude antidemocrática, delegações de países bolivarianos deixam o plenário da ONU durante pronunciamento de Temer

Durante a fala do peemedebista, antigos parceiros dos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, representantes do Equador, Nicarágua, Cuba, Bolívia, Costa Rica e Venezuela deixaram a plenária – numa atitude absolutamente inútil. Provavelmente, incomodados com o primeiro recado emitido por Temer em seu pronunciamento: o de que o processo de deposição de Dilma Rousseff observou a liturgia expressa na Constituição. “Tudo transcorreu dentro do mais absoluto respeito à ordem constitucional. Não há democracia sem Estado de direito, sem normas que se apliquem a todos, inclusive aos mais poderosos”, afirmou Temer na terça-feira 20, ignorando solenemente o protesto. O Uruguai, que no início deste ano chegou a fazer declarações contrárias a saída de Dilma, não se misturou à patética revoada dos chefes de Estado dos países vizinhos. Preferiu demonstrar outra postura. Em Nova Iorque, o presidente Tabaré Vázquez participou de um encontro bilateral com Temer.
“Tudo transcorreu no absoluto respeito à ordem constitucional. Não há
democracia sem normas que se apliquem inclusive aos mais poderosos”
A submissão ideológica deu lugar, como deve ser, aos negócios. O evento serviu para a tentativa de captação de investimentos. Tanto no discurso como nas conversas ao pé do ouvido com lideranças e chefes de Estado internacionais, Temer e ministros fizeram questão de vender ao mundo a ideia de que o País atravessa um novo momento, mais propício ao ambiente de estabilidade econômica e de segurança jurídica. “Nossa tarefa, agora, é retomar o crescimento econômico e restituir aos trabalhadores brasileiros milhões de empregos perdidos”, disse o presidente. “A confiança já começa a restabelecer-se e um horizonte mais próspero já começa a desenhar-se. Nosso projeto de desenvolvimento passa, principalmente, por parcerias em investimentos, em comércio, em ciência e tecnologia”, complementou.
Nova prática
Na quarta-feira 21, Temer se esforçou em demonstrar que o novo discurso diplomático está alinhado com a prática. À platéia estrangeira, apresentou um pacote de oportunidades de investimentos. São projetos necessários para, além de gerar empregos, destravar os gargalos de infraestrutura. Ao todo, o governo expôs cerca de 35 propostas de privatizações e concessões de estradas, aeroportos, ferrovias, portos, distribuição e produção de energia, mineração e até da loteria. Espera arrecadar R$ 24 bilhões apenas em 2017. Foi entregue ainda ao secretário-geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, um documento em que o Brasil ratifica o Acordo de Paris. Trata-se de um tratado internacional em que se compromete a adotar uma série de medidas para que o aquecimento global se limite a até 1,5º C acima do período pré-industrial “Mais do que possível, é necessário crescer de forma socialmente equilibrada com respeito ao meio ambiente. O planeta é um só. Não há plano B. Devemos tomar medidas ambiciosas, sob o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, afirmou. Para cumprir o acordo, o País precisará retroagir a emissão de gases de efeitos estufa para mais de 30% dos níveis abaixo dos de 2005, reflorestar uma área de 12 milhões de hectares e elevar para 18% o uso de fontes sustentáveis de energia. Ou seja, precisará ir além da carta de intenções.
O novo tom do Brasil
Em sua estréia perante às Nações Unidas, Michel Temer defende o funcionamento das instituições do País e cobra líderes internacionais. Confira os temas tratados:
– Legalidade do processo de impeachment
– Defesa da coexistência pacifica entre Israel e a Palestina
– Reforma do Conselho de Segurança da ONU
– Cooperação para resolver o problema dos refugiados
– Redução do protecionismo econômico
– Fim do embargo a Cuba
Foto: Bryan Thomas/The New York Times