A posse de Cármen Lúcia na presidência do Supremo Tribunal Federal foi marcada por um paradoxo. A cerimônia teve como pano de fundo a corrupção, mencionada direta ou indiretamente em todos os discursos. E a plateia estava apinhada de convidados de honra cuja honradez está, por assim dizer, sub judice em inquéritos que correm no próprio Supremo.
Ao discursar, Cármen Lúcia inovou. Rendeu homenagens às autoridades presentes, como de praxe. Entretando, antes de se dirigir ao presidente Michel Temer e a um interminável rol de figurões, a ministra cumprimentou o grande ausente do plenário: “o cidadão brasileiro”, autoridade máxima da República. Para ela, quem merece a primeira deferência é “Sua Excelência, o povo”.
Na posse de uma personagem como Cármen Lúcia, foi reconfortante perceber que o Supremo não está alheio ao papel central que exerce no combate à corrupção. Hoje, não se fala em outra coisa no país. A roubalheira é tema de todas as rodinhas de conversa. Impossível mudar de assunto. Pode-se, no máximo, mudar de corrupto.