
O volume crescente de tráfego de bicicletas aumentou o congestionamento na passarela da Ponte do Brooklyn (Richard Perry para The New York Times)
Winnie HU - Folha de São Paulo
Peter Cardillo não consegue apreciar as vistas panorâmicas nas caminhadas que faz de Wall Street até sua casa, atravessando a Ponte do Brooklyn. Ele fica preocupado, tentando se manter inteiro.
Algumas semanas atrás, ele contornou turistas que bloqueavam o caminho e quase foi atropelado por uma bicicleta. Disse ao ciclista para ir mais devagar. Este culpou Cardillo por cruzar sua faixa.
“É muito perigoso”, disse Cardillo, 70, que é economista-chefe de marketing na empresa First Standard Financial, enquanto se unia às massas que se deslocavam lentamente em direção ao Brooklyn em uma tarde recente. “Estou sempre olhando para os lados, porque nunca sei quando vou ser atingido por uma bicicleta.”
O passeio elevado de madeira e concreto é tão congestionado quanto as seis pistas para veículos que passam abaixo. Lá em cima, os caminhos para pedestres e bicicletas, que em alguns lugares têm largura quase insuficiente para o tráfego em dois sentidos, são estreitadas ainda mais pelas hordas de turistas que posam para selfies, artistas de rua que se apresentam por alguns trocados e vendedores de água, sorvete e mangas frescas fatiadas. Em um dia de semana típico, 10 mil pedestres e 3.500 ciclistas transitam por ali.
Agora, depois das crescentes reclamações, a Prefeitura de Nova York quer fazer algo para solucionar o quebra-cabeça do que eles chamam de “Times Square no céu”. Isso poderá ser — se a travessia aguentar — a construção de um novo caminho para aliviar o congestionamento, tão intenso que algumas pessoas simplesmente evitam passar pela Ponte do Brooklyn.
“Decidimos que chegou a hora”, disse Polly Trottenberg, comissária de Transportes da cidade, enquanto atravessava a ponte lotada recentemente. “Queremos pensar de maneira profunda e consciente sobre a próxima evolução da ponte.”
Um estudo de engenharia de sete meses da firma de consultoria Aecom vai avaliar quanto peso a ponte pode suportar e considerar opções de expansão, como alargar o passeio existente com a construção de deques sobre os suportes que passam acima das pistas de carros, segundo autoridades municipais.
Qualquer expansão do passeio será complicada, disse Trottenberg.
A Ponte do Brooklyn, que foi inaugurada em 1883, na verdade recebia muito mais gente todos os dias quando bondes e ônibus a utilizavam. Hoje o tráfego é limitado a veículos de passageiros e pedestres e ciclistas no passeio elevado. O passeio, ou “promenade”, que fazia parte da ponte original, se estreita de 5 metros no ponto mais largo para apenas 3 metros em alguns lugares.
Em média, 1.917 pessoas por hora atravessaram a ponte nos horários de pico em 2015, ou mais que o triplo das 511 pessoas em 2008. O tráfego de bicicletas também cresceu, atingindo a média de 358 ciclistas por hora nos horários de pico em dias úteis em 2015, comparado com 185 em 2008.
Em uma tarde de sexta-feira recente, pedestres cruzavam a ciclovia enquanto tiravam fotos ou observavam a paisagem. Os ciclistas tinham de manobrar com cuidado para evitar choques com eles ou com o sistema de cabos que corre na lateral da ponte para sustentá-la.
“Estava lotado”, disse Koen du Maine, 21, um estudante secundarista da Holanda, depois de cruzar a ponte de bicicleta até Manhattan. “É preciso tomar cuidado. Sempre há pessoas na ciclovia.”
Ele acrescentou que é mais fácil pedalar em seu país, porque as faixas de pedestres e de bicicletas são separadas por barreiras e muitas vezes ocupam níveis diferentes.
Matt McCroskey, 37, um ator que vive no Brooklyn, disse que relutou em pedalar pela ponte, mas está reconsiderando depois que ganhou uma bicicleta de um amigo. “Geralmente está superlotada de gente, e pedalar não é uma experiência muito agradável”, disse ele.
Trottenberg, que se tornou comissária de Transportes em 2014, sempre passa pela ponte do Brooklyn e leva todos os que a visitam em um passeio por lá. Depois de se mudar de um subúrbio de Washington de volta para Nova York com seu marido, Mark Zuckerman, Trottenberg lembrou que eles começaram a caminhar e pedalar pela ponte quando vêm de sua nova casa em Cobble Hill, no Brooklyn.
Pouco depois, Zuckerman lhe disse: “Você tem de arrumar um jeito de ampliar a passarela”.
“Estou tentando”, respondeu ela.
Agora Trottenberg está cumprindo sua palavra.