quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Deu no ´Jornal Nacional`: Lava Jato prende Guido Mantega

TV  Globo

Um nome que é símbolo dos governos petistas esteve nesta quinta-feira (22) no centro de um furacão. O homem que comandou a economia por mais de oito anos, em mandatos de Lula e de Dilma Rousseff. O ministro que por mais tempo foi titular da Fazenda num período de democracia no Brasil.

Nesta quinta-feira, num intervalo de horas, o país acompanhou a prisão e a soltura do economista Guido Mantega numa nova etapa da Operação Lava Jato.

Às 6h, policiais federais foram ao prédio onde mora o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, na Zona Oeste de São Paulo. Os agentes ficaram poucos minutos no apartamento do 17º andar.

O ex-ministro foi acusado pelo empresário Eike Batista, em depoimento à Lava Jato, de ter pedido R$ 5 milhões para pagar dívidas de campanha.
“A equipe seguindo sempre o mesmo padrão subiu até o apartamento ao qual estava a empregada que trabalha no apartamento, e um filho de 16 anos do ex-ministro. Naquele momento, nós tomamos conhecimento que ele tinha se deslocado ao Hospital Albert Einstein”, explicou o coordenador da Lava Jato na PF, Igor Romário de Paula.
Guido Mantega tinha ido ao hospital acompanhar a mulher num procedimento cirúrgico.
“Foi feito um contato diretamente com ele para confirmar qual das unidades do Albert Einstein estava em São Paulo”, disse o coordenador.
Quando a Polícia Federal chegou, Mantega já aguardava no estacionamento. Uma foto mostra o ex-ministro saindo a pé, junto com os agentes. Ele foi levado primeiramente para casa, onde a polícia cumpriu busca e apreensão, e em seguida foram para a sede da Polícia Federal.
O advogado de Guido Mantega, José Roberto Batochio, disse que a prisão era desnecessária, e que o ex-ministro se apresentaria se fosse intimado. 
“Ele estava no interior do hospital, nas dependências próximas ao centro cirúrgico, com a mulher dele já semi-anestesiada, sendo encaminhada na maca rodante para a sala cirúrgica. Eu disse: ‘Olha, é melhor o senhor sair daí então porque isso vai gerar um tumulto’. Ele falou: ‘Então, bom, vou sair daqui e vou aguardar os policiais chegarem’”, disse o advogado de Mantega.
A entrevista do advogado foi interrompida por um grupo de manifestantes que gritavam palavras de apoio à Operação Lava Jato.

O PT nacional divulgou uma nota em que o presidente, Rui Falcão, afirmou que a prisão do ex-ministro Guido Mantega é "arbitrária, desumana e desnecessária". A nota diz ainda que a 34ª fase da Operação Lava Jato deveria ser chamar "Operação Boca de Urna, uma vez que acontece às vésperas das eleições municipais".

Na nota, Falcão lembrou que “Mantega é ex-ministro, tem endereço fixo, e nunca se negou a dar esclarecimento, sendo assim midiática a prisão em um hospital”.
Na entrevista coletiva, a força-tarefa da Lava Jato disse que não sabia que a mulher de Mantega estava hospitalizada.
“A equipe hoje se dirigiu à casa, ao apartamento do ex-ministro, acreditando que ele estivesse lá e desconhecia totalmente essa situação envolvendo a esposa dele”, afirmou Igor de Paula.
“Isto é uma triste coincidência, mas infelizmente essas coincidências acontecem e acontecem na vida de todos, inclusive dos réus pobres e dos réus ricos. Infelizmente isto aconteceu, mas a PF agiu com máximo de cuidado possível que as circunstâncias exigiram. Infelizmente, depois de deflagrada uma operação, não é possível voltar atrás no seu cumprimento”, afirmou o procurador da República Carlos Fernando Lima.
Em nota, a Polícia Federal destacou que tanto no local da busca como no hospital, todo o procedimento foi realizado de forma discreta, sem qualquer ocorrência e com integral colaboração do investigado.
Prisão durou sete horas
A prisão de Guido Mantega durou sete horas. No começo da tarde, o juiz Sérgio Moro revogou a prisão temporária do ex-ministro. Moro considerou que, como as buscas já tinham sido cumpridas, não havia mais risco de Mantega interferir na investigação.
No despacho, Sérgio Moro afirmou que "a internação da mulher de Mantega era desconhecida da autoridade policial, do Ministério Público Federal e do próprio Moro". E que "segundo informações colhidas pela autoridade policial, o ato foi praticado com toda discrição, sem ingresso interno no hospital". E concluiu: “Revogo a prisão temporária decretada contra Guido Mantega sem prejuízo das demais medidas e a avaliação de medidas futuras".
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal falaram sobre a prisão de Guido Mantega.

“Coube à Polícia Federal simplesmente cumprir esse mandado judicial. Não cabe ao Poder Executivo, ao Ministério da Justiça, à Polícia Federal discricionariedade para cumprir ou não o mandado”, afirmou Alexandre de Moraes.

“O Código de Processo Penal é muito claro ao permitir que qualquer prisão se efetive em qualquer lugar, observadas as restrições estabelecidas na Constituição quanto à inviolabilidade domiciliar. Observadas as restrições constitucionais quanto à inviolabilidade domiciliar, a prisão pode ser efetivada em qualquer lugar”, disse Celso de Mello.

O ex-ministro Guido Mantega deixou a sede da Polícia Federal no início da tarde e foi direto para a casa dele. Duas horas depois voltou para o hospital.