segunda-feira, 12 de setembro de 2016

As empreiteiras já sabem o que Lula quer ganhar no Natal: a casa e um casaco de João Doria

Com Blog do Augusto Nunes - Veja  

No sermão da missa negra, o Supremo Pregador  jurou que só ganhou da OAS e da Odebrecht  dois cisnes e dois barquinhos





Lula foge de entrevistas de verdade desde dezembro de 2005, quando foi confrontado no programa Roda Viva com perguntas sobre o escândalo do Mensalão ─ e forçado a comentar a descoberta de que o antigo templo das vestais do PT se tornara um bordel infestado de delinquentes loucos por dinheiro. Faz quase 11 anos que só conversa com entrevistadores domesticados, blogueiros estatizados e correspondentes estrangeiros que confirmam o que disse Tom Jobim: o Brasil não é para amadores.
Lula foge de multidões sem medo desde a cerimônia de abertura do Pan-2007, quando descobriu no Maracanã o que é uma vaia de assombrar Nelson Rodrigues. De lá para cá, o palanque ambulante só desanda na discurseira diante de plateias amestradas, que aprenderam a sublinhar com aplausos até o ponto que encerra a frase sem pé nem cabeça, fingir que ninguém notou o extermínio de mais um plural e cair na gargalhada no meio da piada sempre grosseira e grisalha.
Na sexta-feira, durante o evento promovido pelo PT na Quadra dos Bancários para tentar abrandar o raquitismo da candidatura de Fernando Haddad, ficou claro que os comícios para milhares de militantes também são coisa do passado. Foram trocados por missas negras frequentadas por devotos atraídos pelos sermões que Lula improvisa. E todos ouvem a palavra do Mestre a seus discípulos com aquela expressão abobalhada de quem está vendo uma aparicão de Nossa Senhora.
Os fiéis contemplaram com salvas de palmas até os disparos verbais que, endereçados aos adversários, acertam o pé do orador e as testas da turma na sacristia. A taxa de entusiasmo cresceu com os tiros pela culatra que povoaram o Sermão da Quadra dos Bancários. E chegou ao clímax quando o Supremo Pregador ergueu com duas frases o imponente monumento à vigarice abaixo reproduzido:
“Imagina o povo que foi induzido pela imprensa a não gostar de mim porque a minha mulher comprou um cisne para o meu filho e vai votar no Doria que mora numa casa que vale 10 milhões de cisnes. Só aquele casaco dele daria para comprar os dois cisnes da Marisa e os dois barquinhos que ela tem”.
É por causa da imprensa, portanto, que o supercampeão das urnas acabou reduzido a um cabo eleitoral capaz de destruir sozinho qualquer candidatura: 73% dos entrevistados pelo Datafolha não votariam de jeito nenhum em alguém apoiado por Lula. A queda não teria acontecido se o povo soubesse a verdade. Marisa Letícia nada mais fez que presentear um filho marmanjo com um pedalinho em forma de cisne que navega no sítio que o ex-presidente possui mas não é dele em Atibaia.
Mais: como a casa de João Dória, na avaliação do PT, vale 50 milhões de reais, basta dividir a quantia por 10 milhões de pedalinhos para saber que o brinquedo custou apenas 5 reais ─ menos que um saquinho de pipoca tamanho mínimo. Na segunda frase, os cisnes já são dois. Mas continuam baratos, garante o sitiante sem escritura. O dinheiro que Doria gasta num casaco bastaria para comprar a dupla de pedalinhos e mais dois barcos.
Por que Lula não recita essa tapeação num depoimento em Curitiba? O juiz Sérgio Moro talvez acredite que a reforma do sítio, custeada pela OAS e a Odebrecht, foi uma invencionice da imprensa. Embora tenham sido premiadas pelo presidente amigo com obras bilionárias, as empreiteiras doaram ao benfeitor dois pedalinhos e dois barquinhos. Quando saírem da cadeia, Marcelo Odebrecht e Leo Pinheiro têm o dever de provar que não são tão ingratos. Nem tão sovinas.
Para tanto, basta usar uma parte das respectivas fortunas para concretizar o sonho de Lula. Ele só quer ganhar a residência de João Doria. Ficaria mais feliz ainda se junto com a casa viesse um casaco.