A visão de que o pior passou para a atividade econômica se aproxima do consenso.
Em que pese a queda acumulada de 7% no PIB desde o início da recessão, no primeiro trimestre de 2014, surgem sinais de estabilização —ao que parece, a economia parou de piorar.
Sobrevive a incerteza, contudo, quanto à velocidade da retomada e ao tempo necessário para que cessem as demissões e a perda de renda das famílias. Até agora as boas notícias se concentram na rápida ascensão dos indicadores de confiança, em particular na indústria, que já retoma a produção.
Após 11 trimestres seguidos em queda, os últimos resultados do PIB trazem algum alento. Houve crescimento da produção de 1,2% no segundo trimestre, concentrada no segmento de máquinas e equipamentos, que subiu 6,6%.
É normal que a indústria anteceda os movimentos do restante da economia. É um setor rápido em responder às variações de expectativas, além de sua longa cadeia de produção afetar vários segmentos.
Por enquanto, a reativação se concentra na substituição de importações, que ficaram menos competitivas com a desvalorização do real nos últimos anos. Além disso, empresas nacionais conseguiram reduzir custos e estoques, primeiro passo para ativar a produção.
Verdade que a indústria vem perdendo espaço na economia. Seu peso no PIB, segundo o IBGE, caiu de 28,5% (em 2005) a 20,4%, neste primeiro trimestre, o que restringe seu estímulo a outros setores.
O lado mais negativo diz respeito a outros obstáculos que custarão a ser removidos. O emprego tende a ser o último a reagir. As demissões ainda prosseguem em ritmo acelerado —foram fechadas 91 mil vagas formais em junho.
Outros fundamentos do consumo, além de renda, seguem piorando. O crédito passa por período de ressaca após o aumento acelerado em anos recentes. Bancos públicos enfrentam alta inadimplência, enquanto os privados relutam em aumentar desembolsos.
Apesar das dificuldades, há razões para discreto otimismo. A rapidez e a profundidade da recessão dos últimos dois anos decorreram da completa paralisia das decisões de consumo e investimento, algo difícil de explicar sem recorrer ao agravamento da crise política.
O efeito inverso pode se dar agora. A mera redução da incerteza traz mudança substancial de humor e, mesmo com barreiras estruturais, a retomada pode despontar.
Não seria impossível um crescimento superior a 2% em 2017, o que contribuiria para reforçar a arrecadação, facilitando o esforço de ajuste nas contas públicas.
Um novo ciclo se abriria, e espera-se que possa ser mais virtuoso.