quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Alexandre Schwartsman: "Crescimento que nos espera dificilmente será vigoroso"


Folha de São Paulo


Observamos os primeiros sinais de recuperação da atividade econômica. Depois de oito trimestres consecutivos de contração, a produção industrial finalmente deu sinal de vida, ao crescer 1,2% no segundo trimestre do ano na comparação com o primeiro, já descontando os movimentos sazonais do período.

Vale comemorar, pois, entre os praticamente 22 trimestres em que o país esteve sob o governo de Dilma Rousseff, houve crescimento da indústria em apenas 7, já contando a observação mais recente, um recorde negativo de pelo menos 25 anos. 

Ainda assim, mesmo com a modesta recuperação, a produção se encontra 18% abaixo de seu pico, no começo de 2011.

Antes, porém, que comece a choradeira da "crise global", noto que no mesmo período, segundo os dados do Birô de Análise de Política Econômica (CPB) na Holanda, a produção industrial mundial não caiu em nenhum trimestre. Ao contrário, registra nada menos do que 29 trimestres de expansão contínua desde o começo de 2009, a mais longa (embora não a mais rápida) da série iniciada em 1991.

Resta, contudo, saber se essa módica retomada é prenúncio de recuperação à frente ou apenas um rebote natural depois de período tão longo de queda. Hoje me inclino para a primeira alternativa, observando, entretanto, que o crescimento que nos espera no futuro próximo dificilmente será vigoroso.

A começar porque o consumo, principal componente da demanda interna, permanece anestesiado. As vendas no varejo caem a um ritmo menor, mas não tornaram a crescer, nem poderiam, diante da queda da renda e do emprego, que se somam a um endividamento familiar ainda elevado para nossos padrões.

Da mesma forma, em que pese alguma melhora na produção de máquinas e equipamentos, a construção civil também segue em queda. Essa combinação indica que a retomada industrial dificilmente pode ser atribuída ao investimento, já que a construção é o seu principal componente.

Resta, portanto, o setor externo como motor da expansão industrial. Em parte como resposta ao aumento das exportações de produtos manufaturados (em quantidade), mas principalmente em razão da recuperação de parcela do mercado que havia sido perdida para as importações.

No entanto, a história mostra que o setor externo pode atenuar o impulso negativo da demanda interna e, ocasionalmente, produzir algum crescimento. 

Não consegue, porém, sustentar a indústria nacional por períodos muito longos, muito menos a um ritmo vigoroso. A razão é simples: mesmo considerando que a indústria é bem mais exposta ao comércio exterior do que a economia como um todo, o peso do comércio é pequeno ante a produção, insuficiente para impulsioná-la de forma persistente e rápida.

Posto de outra forma, é bem possível que o PIB volte a crescer na segunda metade do ano, seguindo de forma defasada a produção industrial. Todavia, na contramão das experiências de saída das últimas recessões (em 2000, 2004 e 2010), é pouco provável que a expansão seja forte o suficiente para recuperar rapidamente o terreno perdido de 2014 para cá.

Essa é a herança dos defensores da Nova Matriz Econômica, que agora buscam se refugiar por trás de novos rótulos ("neodesenvolvimentismo", ou coisa que o valha). Lembrem-se dela quando esbarrarem nas propostas desse pessoal.