Senador do DEM adverte, porém, que o governo Temer definitivo, depois de Dilma, não será ‘uma caixinha de bondades’ e avisa que não basta melhorar a economia. Sem reformas estruturais, ‘a fatura chega rapidamente’.
Veterano adversário do PT, presente a cada minuto nos debates do impeachment no Congresso, o senador Ronaldo Caiado prevê um “sentimento de alívio” no País com o afastamento da presidente Dilma – que, a esta altura, ele já considera inevitável. Mas ele acredita que, com Temer em definitivo no poder, não vai adiantar melhorar a economia se não se fizerem as reformas estruturais. Nesta entrevista aGabriel Manzano, ele também avisa: se o partido pensar em seu nome para 2018, não vê por que recusar o convite.
Há uma sensação de “página virada” entre os defensores do impeachment, uma certeza na vitória e no afastamento da presidente Dilma. É essa, também, a sua impressão?
Não temos dúvidas de que temos votos suficientes. E vemos o afastamento definitivo de Dilma com um sentimento de alívio. Depois dela podemos voltar a acreditar em um governo capaz de corrigir as falhas graves montadas nos governos dela e de Lula – entre os quais o aparelhamento do Estado, a indicação de gente sem qualificação para postos públicos, o envolvimento de estatais em negociatas, a corrupção generalizada. Esperamos um governo com coragem para recompor o País.
Não temos dúvidas de que temos votos suficientes. E vemos o afastamento definitivo de Dilma com um sentimento de alívio. Depois dela podemos voltar a acreditar em um governo capaz de corrigir as falhas graves montadas nos governos dela e de Lula – entre os quais o aparelhamento do Estado, a indicação de gente sem qualificação para postos públicos, o envolvimento de estatais em negociatas, a corrupção generalizada. Esperamos um governo com coragem para recompor o País.
Mas os 100 dias iniciais de Temer não foram fáceis. Ele negociou e recuou diante de obstáculos enormes. Muitos atribuem tal fato à interinidade. Acredita que, passando o impeachment, isso muda?
Eu enxergo uma melhora. Não vou aqui ficar desenhando uma solução para tudo. Até porque tenho criticado o governo pelas concessões feitas, por atender a pressões não republicanas, como recriar ministérios, ceder à pressão de corporações. São pontos de fragilidade. Mas o fato é que com a lei eleitoral que temos e os métodos de se fazer política no País não há economia que sobreviva. Se isso não for mudado, não adianta recuperar a economia, que pode ser de novo destruída em um futuro governo. Então, um presidente não vai, neste momento, abrir nenhuma caixinha de bondades. A fatura chega rapidamente. O que resta é dizer: agora, cabe a cada um dar a sua contribuição.
Eu enxergo uma melhora. Não vou aqui ficar desenhando uma solução para tudo. Até porque tenho criticado o governo pelas concessões feitas, por atender a pressões não republicanas, como recriar ministérios, ceder à pressão de corporações. São pontos de fragilidade. Mas o fato é que com a lei eleitoral que temos e os métodos de se fazer política no País não há economia que sobreviva. Se isso não for mudado, não adianta recuperar a economia, que pode ser de novo destruída em um futuro governo. Então, um presidente não vai, neste momento, abrir nenhuma caixinha de bondades. A fatura chega rapidamente. O que resta é dizer: agora, cabe a cada um dar a sua contribuição.
Seu partido, o DEM, forma um bloco com PSDB e PPS, com metas comuns. A aliança se manterá com Temer eventualmente assumindo como presidente e todos já pensando em 2018?
Vamos identificar bem os pontos. Há uma convergência nas ideias sobre economia, lei trabalhista, um sentimento próximo sobre reforma política… A dúvida é sobre se cada partido depois vai pensar em uma candidatura própria: Se é isso, a resposta é sim. Isso é uma postura normal. Até porque, se há hoje um partido que, pelo que passou, pode postular a Presidência, é o DEM. Foi o partido que mais sofreu no período Lula. Fomos cobrados, retalhados, somos sobreviventes.
Vamos identificar bem os pontos. Há uma convergência nas ideias sobre economia, lei trabalhista, um sentimento próximo sobre reforma política… A dúvida é sobre se cada partido depois vai pensar em uma candidatura própria: Se é isso, a resposta é sim. Isso é uma postura normal. Até porque, se há hoje um partido que, pelo que passou, pode postular a Presidência, é o DEM. Foi o partido que mais sofreu no período Lula. Fomos cobrados, retalhados, somos sobreviventes.
O sr. se refere às ações do hoje ministro Gilberto Kassab, que tirou muitos deputados de seu partido para criar o PSD?
Não foi só o Kassab, houve uma participação direta da presidente Dilma e do ex-ministro Antonio Palocci. Os três elaboraram o plano de formação desse partido, sob ordens de Lula, para extirpar o DEM.
Não foi só o Kassab, houve uma participação direta da presidente Dilma e do ex-ministro Antonio Palocci. Os três elaboraram o plano de formação desse partido, sob ordens de Lula, para extirpar o DEM.
Neste ano e meio do governo Dilma 2, o avanço da Operação Lava Jato impôs ao PT e ao lulismo seguidas derrotas: perderam poder, cargos, lideranças, eleitores. Como acha que isso vai afetar o cenário eleitoral?
O ponto principal, me parece, é que eles perderam o que é fundamental na política – a confiabilidade da população. Eles aparelharam a gestão mantendo um discurso de ética mas procurando manter o poder. O cidadão brasileiro percebeu o caos que se formou. Inflação, 12 milhões de desempregados, o desmonte e a corrupção que vêm à luz todos os dias. A sociedade brasileira hoje está sabendo a diferença entre o discurso e a vida pregressa de cada um. Imagino que muito mais gente vai ficar atenta para ver quem é bom gestor.
O ponto principal, me parece, é que eles perderam o que é fundamental na política – a confiabilidade da população. Eles aparelharam a gestão mantendo um discurso de ética mas procurando manter o poder. O cidadão brasileiro percebeu o caos que se formou. Inflação, 12 milhões de desempregados, o desmonte e a corrupção que vêm à luz todos os dias. A sociedade brasileira hoje está sabendo a diferença entre o discurso e a vida pregressa de cada um. Imagino que muito mais gente vai ficar atenta para ver quem é bom gestor.
O sr. já foi até mencionado, por um ministro de Temer, como possível candidato à Presidência em 2018. Vai aceitar?
Não é assim que as coisas se resolvem. Tem de haver logicamente uma reunião da executiva nacional, a consulta a partidos aliados, uma aliança ampliada. Daí por diante, acho que quem for indicado não renunciará a essa demanda, não vai recusar esse convite, que é algo extremamente gratificante. O partido não deixará de estar presente, de participar desse grande debate.
Não é assim que as coisas se resolvem. Tem de haver logicamente uma reunião da executiva nacional, a consulta a partidos aliados, uma aliança ampliada. Daí por diante, acho que quem for indicado não renunciará a essa demanda, não vai recusar esse convite, que é algo extremamente gratificante. O partido não deixará de estar presente, de participar desse grande debate.