segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Ronaldo Caiado prevê sentimento de alívio depois do impeachment de Dilma 'trambique'

Sonia Racy - O Estado de São Paulo


FOTO: ANDRE DUSEK/ESTADÃO
FOTO: ANDRE DUSEK/ESTADÃO
Senador do DEM adverte, porém, que o governo Temer definitivo, depois de Dilma, não será ‘uma caixinha de bondades’ e avisa que não basta melhorar a economia. Sem reformas estruturais, ‘a fatura chega rapidamente’.
Veterano adversário do PT, presente a cada minuto nos debates do impeachment no Congresso, o senador Ronaldo Caiado prevê um “sentimento de alívio” no País com o afastamento da presidente Dilma – que, a esta altura, ele já considera inevitável. Mas ele acredita que, com Temer em definitivo no poder, não vai adiantar melhorar a economia se não se fizerem as reformas estruturais. Nesta entrevista aGabriel Manzano, ele também avisa: se o partido pensar em seu nome para 2018, não vê por que recusar o convite.
Há uma sensação de “página virada” entre os defensores do impeachment, uma certeza na vitória e no afastamento da presidente Dilma. É essa, também, a sua impressão?
Não temos dúvidas de que temos votos suficientes. E vemos o afastamento definitivo de Dilma com um sentimento de alívio. Depois dela podemos voltar a acreditar em um governo capaz de corrigir as falhas graves montadas nos governos dela e de Lula – entre os quais o aparelhamento do Estado, a indicação de gente sem qualificação para postos públicos, o envolvimento de estatais em negociatas, a corrupção generalizada. Esperamos um governo com coragem para recompor o País.
Mas os 100 dias iniciais de Temer não foram fáceis. Ele negociou e recuou diante de obstáculos enormes. Muitos atribuem tal fato à interinidade. Acredita que, passando o impeachment, isso muda?
Eu enxergo uma melhora. Não vou aqui ficar desenhando uma solução para tudo. Até porque tenho criticado o governo pelas concessões feitas, por atender a pressões não republicanas, como recriar ministérios, ceder à pressão de corporações. São pontos de fragilidade. Mas o fato é que com a lei eleitoral que temos e os métodos de se fazer política no País não há economia que sobreviva. Se isso não for mudado, não adianta recuperar a economia, que pode ser de novo destruída em um futuro governo. Então, um presidente não vai, neste momento, abrir nenhuma caixinha de bondades. A fatura chega rapidamente. O que resta é dizer: agora, cabe a cada um dar a sua contribuição.
Seu partido, o DEM, forma um bloco com PSDB e PPS, com metas comuns. A aliança se manterá com Temer eventualmente assumindo como presidente e todos já pensando em 2018?
Vamos identificar bem os pontos. Há uma convergência nas ideias sobre economia, lei trabalhista, um sentimento próximo sobre reforma política… A dúvida é sobre se cada partido depois vai pensar em uma candidatura própria: Se é isso, a resposta é sim. Isso é uma postura normal. Até porque, se há hoje um partido que, pelo que passou, pode postular a Presidência, é o DEM. Foi o partido que mais sofreu no período Lula. Fomos cobrados, retalhados, somos sobreviventes.
O sr. se refere às ações do hoje ministro Gilberto Kassab, que tirou muitos deputados de seu partido para criar o PSD?
Não foi só o Kassab, houve uma participação direta da presidente Dilma e do ex-ministro Antonio Palocci. Os três elaboraram o plano de formação desse partido, sob ordens de Lula, para extirpar o DEM.
Neste ano e meio do governo Dilma 2, o avanço da Operação Lava Jato impôs ao PT e ao lulismo seguidas derrotas: perderam poder, cargos, lideranças, eleitores. Como acha que isso vai afetar o cenário eleitoral?
O ponto principal, me parece, é que eles perderam o que é fundamental na política – a confiabilidade da população. Eles aparelharam a gestão mantendo um discurso de ética mas procurando manter o poder. O cidadão  brasileiro percebeu o caos que se formou. Inflação, 12 milhões de desempregados, o desmonte  e a corrupção que vêm à luz todos os dias. A sociedade brasileira hoje está sabendo a diferença entre o discurso e a vida pregressa de cada um. Imagino que muito mais gente vai ficar atenta para ver quem é bom gestor.
O sr. já foi até mencionado, por um ministro de Temer, como possível candidato à Presidência em 2018. Vai aceitar?
Não é assim que as coisas se resolvem. Tem de haver logicamente uma reunião da executiva nacional, a consulta a partidos aliados, uma aliança ampliada. Daí por diante, acho que quem for indicado não renunciará a essa demanda, não vai recusar esse convite, que é algo extremamente gratificante. O partido não deixará de estar presente, de participar desse grande debate.