Catarina Alencastro e Maria Lima - O Globo
O Palácio do Planalto contabiliza na noite desta terça-feira ao menos 60 votos a favor do impeachment, na votação de hoje. O presidente interino, Michel Temer, ao longo do dia, recebeu senadores e conversou com muitos outros pelo telefone a fim de saber qual é o clima no Senado. E, com base nesses relatos, traçou essa estimativa.
Mai cedo, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) afirmou que votará a favor da continuidade do processo. Considerado indeciso até então, o senador ressaltou que sua manifestação de voto se refere ao julgamento de hoje, que deverá tornar Dilma ré, mas ressaltou que o impeachment não vai trazer uma solução para a crise política no Brasil.
Estreando o voto no processo de impeachment como suplente do ex-senador cassado Delcídio Amaral, o senador Pedro Chaves (PSC-MS) disse em seu discurso na tribuna que votará pelo afastamento de Dilma. Ele ressaltou que nenhuma pressão de qualquer lado orienta sua consciência, mas afirmou que não é surdo a opinião pública.
- Com a consciência tranquila, concluo que a presidente Dilma Rousseff cometeu crime de responsabilidade. Voto pelo acolhimento da denúncia - disse Pedro Chaves, que é contraparente do empresário José Carlos Bumlai, preso na Operação Lava-jato.
O debate sobre o parecer do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) favorável ao afastamento definitivo da presidente continua na noite desta terça-feira. O presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, que comanda o processo a partir de hoje, afirmou que só suspenderá a sessão se houver consenso entre os líderes do partido. Lewandowski disse estar disposto a dar continuidade aos trabalhos até o fim, mesmo que dure até amanhã de manhã.
Auxiliares do presidente interino avaliaram que foi "débil" a capacidade de reação da presidente afastada, Dilma Rousseff, desde que Temer assumiu a Presidência, há 86 dias.
Outro fator considerado fundamental para o resultado que se desenha, segundo aliados de Temer, é que Dilma se concentrou em fazer uma defesa política, classificando o processo de impeachment como golpe, em vez de centrar na desconstrução técnica das acusações.
- Dilma não foi capaz de gerar emoção, de causar comoção em torno de sua causa. Nesse tempo em que ficou fora da Presidência, houve uma acomodação com a situação de que ela está fora - avaliou um ministro de Temer.
Finalmente, no Planalto, avaliam que o governo interino conseguiu emplacar algumas medidas e dar sinais positivos para o mercado, o que tem gerado a reversão de alguns indicativos econômicos.
- O governo do Michel é um governo muito resolutivo. A gente está conseguindo sair da depressão e já começamos a subir a montanha - diz um assessor presidencial.
Embora um importante passo do destino de Dilma e Temer esteja sendo decidido hoje, o presidente interino manteve sua agenda normal e, segundo auxiliares, não está acompanhando ininterruptamente os debates do plenário do Senado pela televisão. Pela manhã, ele participou do lançamento do programa de revitalização do rio São Francisco, no Planalto, do qual também participaram três senadores: Otto Alencar (PSD-BA), Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Um integrante do governo conversou com Otto, que é bastante ligado ao ex-ministro de Dilma, Jaques Wagner, e contou que, embora o assunto não tenha sido tratado, sentiu Otto propenso a votar a favor do impeachment.
- Ele estava muito à vontade de participar de uma cerimônia do governo do Michel - avaliou.
Ao longo do dia, Temer recebeu em seu gabinete outros três senadores: Lúcia Vânia (PSB-G), Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Romero Jucá (PMDB-RR).