Estimativas do Ipea apontam para uma alta de 0,38% nos investimentos na passagem do primeiro para o segundo trimestre, enquanto a FGV projeta alta de 0,42%; para economistas, apesar de frágeis, números podem indicar início da retomada da economia
Após dez trimestres consecutivos de retração, a recuperação dos investimentos deve ser a principal boa notícia do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre do ano. Estimativas de dois institutos de pesquisa apontam um avanço na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – o índice que mede os investimentos – próximo a 0,4% em relação ao primeiro trimestre de 2016.
Pelas estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os investimentos aumentaram 0,38% na passagem do primeiro para o segundo trimestre do ano. “Há sinais de que a economia começa a se recuperar depois desse longo período de recessão profunda. Não significa que a crise acabou, mas que a retomada possa estar começando, principalmente nos investimentos, que foi o componente do PIB que mais caiu. As expectativas melhoraram, e os investimentos respondem mais rapidamente a isso”, avaliou o coordenador do Grupo de Conjuntura do Ipea, José Ronaldo de Souza Junior.
O Ipea aponta que o indicador de investimento em construção civil avançou apenas 0,5% entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano, enquanto o consumo aparente de máquinas e equipamentos registrou elevação de 11,72%.
Já o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) calcula que a FBCF tenha avançado 0,42% no segundo trimestre ante o trimestre anterior. Para Claudio Considera, economista responsável pelo Monitor do PIB, apurado pelo Ibre/FGV, o aumento das vendas e importações de máquinas e equipamentos mostra que o País está voltando a captar investimentos, o que pode caracterizar uma retomada da economia.
“Máquinas e equipamentos terem aumentado a venda mostra que o empresário está investindo. Esse é o sinal interessante da história. O impacto direto disso no processo de produção não é tão grande, até melhora o emprego, a demanda para fornecedores aumenta um pouquinho, mas o grande impacto é a volta do investimento”, disse.
Bens de capital. Na avaliação do Ipea, o salto no consumo de máquinas e equipamentos teria sido influenciado pelo bom desempenho da produção doméstica de bens de capital ao longo de todo o segundo trimestre e, particularmente, pelo forte crescimento da importação registrado em junho. Mas, na análise de José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o aumento nas importações de bens de capital está associado ao tempo que esses materiais demoram para chegar no Brasil.
“Não há um sinal tão claro (de recuperação), mas as importações de máquinas não estão desabando como as outras. A justificativa é que os bens de capital você encomenda hoje para entregar um ou dois anos depois”, disse Castro. “Ao contrário do sapato que vende hoje e entrega amanhã.”