Embora estejam em níveis diferentes, dados do FMI mostram que escalada da dívida do País é semelhante à da Grécia antes do colapso
LONDRES - O drama das contas públicas vivido pelo Brasil tem algumas semelhanças com a crise grega. O recente crescimento da dívida brasileira – que aumentou cerca de um quinto em dois anos – lembra o registrado pela Grécia no início da deterioração que culminou no colapso do país. Mas, apesar dessas semelhanças, o endividamento brasileiro ainda é equivalente a menos da metade do grego.
Para ganhar apoio no ajuste das contas públicas, o ministro interino do Planejamento, Dyogo Oliveira, adotou um tom dramático ao falar no Congresso, na semana passada. Se os gastos não forem contidos, ele argumentou que o País poderá seguir o caminho da Grécia.
Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) revelam que, de fato, há semelhanças na trajetória das dívidas brasileira e grega. A dívida bruta da Grécia ficou relativamente estacionada na década de 90 e início dos anos 2000, ao redor de 90% do Produto Interno Bruto (PIB). Com o estouro da crise financeira, porém, o indicador começou a subir: passou de 102,8% do PIB em 2007 para 126,1% em 2009. Ou seja, aumentou um quinto em dois anos.
No Brasil, a dívida bruta calculada pelo critério do FMI passou de 60,3% do PIB em 2013 para 73,6% no ano passado. A exemplo do drama grego, o indicador brasileiro também subiu cerca de um quinto em dois anos.
No entanto, esse aumento observado na Grécia foi apenas o prelúdio do colapso: a dívida bruta continuou a escalada até atingir 145% do PIB em 2010 e 171% em 2011.
Nas contas do FMI, o Brasil não deve seguir o mesmo caminho. Nas atuais condições, a instituição prevê que a dívida bruta continuará crescendo, mas sem descontrole. O Fundo trabalha com dívida bruta de 80,4% do PIB em 2017, 86% em 2019 e 91% do PIB em 2021. Piora, mas não parece o caminho grego. A diferença maior, porém, ainda é o tamanho da dívida. Enquanto a grega está em 178% do PIB, o indicador brasileiro gira em torno de 75%, segundo os critérios do FMI.
Alerta. A comparação entre a situação fiscal do Brasil e da Grécia é tema antigo entre economistas. O ex-presidente do BC Gustavo Franco já traçava semelhanças entre os dois países em 2011. No ano passado, ele voltou a abordar o tema em artigo escrito para o Estado.
Durante um debate promovido pelo jornal, em 2015, o economista Samuel Pessôa refutou a comparação com a Grécia, mas de forma desfavorável ao Brasil. “Em alguma dimensão, nós já somos a Grécia”, disse. “A dívida grega é muito maior do que a nossa, (mas) o custo de financiamento é muito mais barato. O que importa é quanto custa rolar a dívida.”