BRUNO VILLAS BÔAS
GUSTAVO PATU
Folha de São Paulo
GUSTAVO PATU
Folha de São Paulo
Com o cenário político conturbado e sem perspectiva para a retomada da atividade econômica, os investimentos pesaram sobre o resultado da economia no primeiro trimestre, mostram dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira (1º).
Os investimentos recuaram 2,7% no primeiro trimestre frente ao três meses anteriores —o décimo trimestre consecutivo de queda nessa comparação, um recorde na série histórica da pesquisa do IBGE, iniciada em 1996.
Apesar de bastante negativo, o resultado veio um pouco melhor do que o esperado pelos economistas consultados pelo Valor Data, que previam uma redução de 3,7% nos investimentos neste primeiro trimestre.
Quando comparando aos três primeiros meses do ano passado, a baixa deste primeiro trimestre foi de 17,5%, o pior resultado para o primeiro trimestre na série histórica da pesquisa do IBGE.
PIB DO BRASIL |
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Resultados do 1º tri.2016 |
PIB do Brasil cai 0,3% no 1º tri |
Consumo das famílias cai pelo 5º tri |
Investimentos caem 2,7% no trimestre |
Entenda como é feito o cálculo do PIB |
Os investimentos são um dos componentes mais sensíveis ao ciclo econômico.
Incertezas sobre o futuro (como câmbio, juros, inflação, demanda) levam empresários a adiar decisões de ampliar fábricas, comprar máquinas e modernizar.
Desta forma, o tombo foi comandando por uma combinação de menor importação e produção de bens de capitais (máquinas e equipamentos para setores como indústria e agropecuária), além da queda do setor de construção civil.
Fora a iniciativa privada, o governo e estatais federais também tiveram um papel decisivo para a queda dos investimentos. Trata-se neste caso dos efeitos do ajuste fiscal e dos cortes no plano de negócios da Petrobras.
Os investimentos registram agora uma queda de 15,9% no acumulado de quatro trimestres (período de 12 meses).
Já a taxa de investimento foi de 16,9% do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre deste ano.
RETOMADA
Um dos fatores importantes para a retomada dos investimentos é a volta da confiança dos empresários. Em março, o Índice de Confiança da Indústria medido pela FGV atingiu o nível mais alto desde março de 2015, mas o cenário segue de incertezas.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem defendido nos últimos dias que as medidas de redução dos gastos públicos anunciadas pelo governo podem recuperar a confiança dos empresários e os investimentos.
Segundo Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, a mudança de governo pode contribuir para melhorar as perspectivas, já que no governo Dilma havia "dificuldade para governar e ausência de agenda econômica".
Vale lembrar que o resultado do PIB do primeiro trimestre é anterior aoafastamento da presidente Dilma Rousseff, em 12 de maio deste ano.
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"Mas a discussão é que, mesmo que isso ajude, o empresário para investir precisa primeiro renegociar dívidas e pagar as contas. Empresas estão passando por uma séria crise financeira. Há também muita ociosidade a ser preenchida", disse a economista.
Para ela, os investimentos podem voltar a crescer em algum momento no próximo ano, mas o quadro ainda seria de muitas incertezas.
"Se não houver sucesso do governo em trazer de volta a confiança, se houver boas intenções mas pouca medida concreta, se as pessoas começaram a questionar se o governo Temer vai até o final, podemos vamos ver outra pernada na economia", disse.