quarta-feira, 1 de junho de 2016

Consumo das famílias acumula queda de 6,3% em um ano


- Paulo Fridman / Bloomberg

 
— Pelo lado da oferta, a indústria teve o maior declínio. Pelo lado da demanda, a demanda interna teve impacto negativo no PIB, com queda no consumo das famílias e do investimento. A maior influência veio do consumo das famílias — afirmou Claudia Dionisio, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.

Rebeca Palis destacou também que, para a queda menos acentuada, de 0,3% do PIB, na passagem de trimestre, foi determinante a estabilização, na mesma comparação, da queda do consumo das famílias, que representa 60% do total da atividade econômica. Houve desaceleração porque indicadores que influenciam diretamente o consumo, como inflação e juros, se mantiveram no mesmo patamar na passagem do ano.

O primeiro trimestre de 2016 apresentou taxa de investimento — que é a relação entre a FBCF e o PIB — de 16,9%. Em igual período de 2015, a taxa tinha sido de 19,5%. Já a taxa de poupança foi de 14,3%, também inferior ao resultado registrado no primeiro trimestre de 2015, de 16,2%.

IMPACTO POSITIVO DO SETOR EXTERNO

O setor externo teve contribuição positiva para o desempenho do PIB no primeiro trimestre, na comparação com o quarto. As exportações de bens e serviços tiveram expansão de 6,5%, enquanto as importações recuaram 5,6%.

Frente ao primeiro trimestre de 2015, as exportações tiveram alta de 13%, enquanto as importações registraram perda de 21,7%. Segundo o IBGE, os dois resultados foram influenciados pela desvalorização cambial de 37% e pelo desempenho da atividade econômica no período.

Na comparação anual, os destaques nas exportações foram a agropecuária — tanto soja quanto milho —, petróleo e derivados, metalurgia e veículos automotores. Pelo lado das importações, o destaque negativo ficou com máquinas e tratores — um indicador de investimentos fracos. Mas também se destacaram siderurgia, veículos automotores, eletroeletrônicos, extrativa mineral e serviços de transporte e viagem.

— A gente está vendo aqui uma contribuição positiva do setor externo. Esse comportamento já vem ocorrendo desde o primeiro trimestre de 2015 — afirmou Claudia.


O PIB EM RELAÇÃO AO MESMO TRIMESTRE DO ANO ANTERIOR

VARIAÇÃO EM %

-6-5-4-3-2-101234561º TRI20142º TRI20143º TRI20144º TRI20141º TRI20152º TRI20153º TRI20154º TRI20151º TRI20163.2-0.8-1.1-0.7-2.0-3.0-4.5-5.9-5.4
Fonte: IBGE | Última atualização: 01/06/2016 às 10:46:06


Em relação ao último trimestre do ano passado, na indústria, a maior queda se deu na extrativa mineral, com retração de 1,1%. A indústria de transformação apresentou resultado negativo pelo sexto trimestre consecutivo, de 0,3%. A construção caiu 1%.

Na comparação com o quarto trimestre, a produção e distribuição de eletricidade foi o destaque positivo entre os segmentos pelo lado da produção, com alta de 1,9%. Isso ocorreu, segundo Claudia Dionísio, porque houve desligamento de usinas térmicas, o que reduziu o custo para produção de energeia.

— Houve melhora no quadro hidrológico, com mais chuvas, e o próprio desempenho da economia fez com que o consumo ficasse menor, especialmente na indústria.

Nos serviços, as maiores quedas foram do comércio (-1%), da intermediação financeira e seguros (-0,8%) e de informação (-0,7%). Transporte, armazenagem e correio teve variação negativa de 0,4%, enquanto outros serviços (0,1%), administração, saúde e educação pública (0,1%) e atividades imobiliárias (0,0%) mantiveram-se praticamente estáveis.


QUEDA FRENTE AO 1º TRI DE 2015

Quando comparado a igual período do ano anterior, a queda de 3,7% da atividade agropecuária pode ser explicada pela baixa na produtividade de safras relevantes no primeiro trimestre.

Pesou na queda de 7,3% da indústria, a de transformação (-10,5%). A construção recuou 6,2% e a extrativa mineral caiu 9,6%, puxada pela queda da extração de minérios ferrosos e de petróleo e gás. A atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana registrou expansão de 4,2%, influenciada pelo desligamento de termelétricas no terceiro trimestre de 2015 e no primeiro trimestre de 2016.


O PIB FRENTE AO TRIMESTRE ANTERIOR

VARIAÇÃO EM %

-2.0-1.5-1.0-0.50.00.51.01.52.01º TRI20142º TRI20143º TRI20144º TRI20141º TRI20152º TRI20153º TRI20154º TRI20151º TRI20160.4-1.2-0.00.2-1.2-2.0-1.6-1.3-0.28
Fonte: IBGE | Última atualização: 01/06/2016 às 10:46:06


— Na comparação anual, a indústria foi afetada negativamente principalmente pelo recuo da produção de bens de capital e de bens de consumo duráveis. Todas as categorias da indústria tiveram queda, mas essas recuaram mais. São duas atividades diretamente relacionadas ao investimento, que já vem caindo a níveis bastante altos há muitos trimestres — explicou Claudia.

A queda de 3,7% da atividade de serviços em um ano foi puxada pela contração de 10,7% do comércio e de 7,4% de transporte, armazenagem e correio, devido à queda do transporte e armazenamento de carga. Também caíram serviços de informação (-5%), outros serviços (-3,4%), intermediação financeira e seguros (-1,8%) e a administração, saúde e educação pública (-0,8%). As atividades imobiliárias ficaram estáveis.

CONSUMO DO GOVERNO

Segundo o IBGE, a alta de 1,1% do consumo do governo é explicada por um corte menor nos cortes de despesas públicas, após quatro trimestres de reduções mais intensas. Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, os gastos do governo caíram 1,4%, recuo menos intenso que o de 2,9% registrado no quarto trimestre, também frente ao mesmo período do ano anterior.

— Estava havendo uma redução, que continuou no primeiro trimestre, mas como ela foi menor, comparando com o trimestre imediatamente anterior, dá essa subida. O governo estava fazendo uma contenção da despesa de consumo. Essa contenção continuou, mas ela foi menor do que ocorrido no trimestre anterior, que tinha sido a mais forte desde o início da série histórica. Durante o ano passado todo, o governo restringiu as despesas de consumo em relação ao ano anterior — explicou Rebeca, do IBGE.

IMPOSTOS PUXAM PIB PARA BAIXO

Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o resultado foi influenciado não só pelo desempenho dos setores da economia, mas também da arrecadação de impostos.

Nos três primeiros meses do ano, o chamado valor adicionado do PIB recuou 4,6%. Esse tombo foi ampliado por uma queda de 10,4% no volume de impostos sobre produtos.

— Para a queda desses impostos, foi importante a queda do IPI e do imposto de importação, em volume. Isso está bem relacionado com a importação que teve a maior queda da série histórica (21,7%). Isso contribuiu para o número negativo — explicou Claudia Dionísio.

REVISÕES

O IBGE divulgou a revisão dos resultados do PIB com ajuste sazonal, ou seja, frente ao trimestre imediatamente anterior. No quarto trimestre, a queda passou de -1,4% para -1,3%. Já no terceiro trimestre o recuo, que tinha sido de 1,7%, ficou em 1,6%. No segundo trimestre, por sua vez, a perda passou de 2,1% para 2%. Por fim, a retração do primeiro trimestre do ano passado, que tinha sido estimada inicialmente em 0,8%, foi maior, de 1,2%.

No ano passado, a atividade econômica registrou queda de 3,8%, a mais profunda recessão desde 1990. Para este ano, a expectativa é de um tombo de proporções semelhantes, 3,81%, de acordo com o mais recente boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central. Os analistas esperam alta de 0,55% em 2017, segundo o relatório.

No início do mês, o BC estimou que a economia encolheu 1,44% no primeiro trimestre, segundo o IBC-Br, considerado uma espécie de “PIB do BC”. O número surpreendeu analistas, que, na ocasião, projetavam queda de 1,32%. Embora antecipe o dado oficial, o indicador usa metodologia diferente da utilizada no PIB calculado pelo IBGE.

Ao registrar mais uma queda, a economia brasileira completa uma série de oito tombos seguidos. Segundo o Comitê da Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da Fundação Getulio Vargas, a mais longa recessão já registrada no Brasil ocorreu entre o terceiro trimestre de 1989 e o primeiro trimestre de 1992, quando o PIB recuou por 11 trimestres consecutivos, acumulando baixa de 7,7%.