terça-feira, 19 de abril de 2016

Governo avalia ser inevitável que senadores aceitem processo da Câmara


O Congresso Nacional: votação do impeachment


Simone Iglesias e Jeferson Ribeiro - O Globo


 Apesar do otimismo com a tramitação do pedido de impeachment no Senado, que a presidente Dilma Rousseff procurou demonstrar ontem, integrantes do governo avaliam como muito difícil a tarefa de impedir a aceitação do processo na comissão especial no Senado. Caso a comissão aceite a ação, isso levará ao afastamento imediato de Dilma do Planalto por até 180 dias.

Se esse diagnóstico se confirmar, o Palácio do Planalto concentrará os seus esforços no julgamento do processo de cassação, que exige ainda mais votos dos senadores. Para o acolhimento, é necessária maioria simples dos senadores presentes em plenário. Já para para rejeitar o processo de cassação, basta que Dilma tenha 28 votos dos 81 senadores.

Para conseguir uma virada no processo iniciado na Câmara, o Planalto aposta na “melhor qualificação” dos senadores e no maior equilíbrio que deverá ser proporcionado pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e, se o processo for aberto, do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. O presidente do STF é o responsável por conduzir o processo, a partir do momento em que ele for aberto e a presidente, afastada do cargo:

— Os senadores são menos suscetíveis a pressões. São mais qualificados. A presidente também acredita no equilíbrio de Renan. Ele não fará as manobras de Eduardo Cunha — disse um interlocutor palaciano, referindo-se ao presidente da Câmara.

Mas os auxiliares da presidente preveem dificuldades. Com Dilma afastada do cargo, ela perderá seu Ministério, a caneta e o poder maior de negociação. O ministro da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, é um exemplo. Ele não estará mais no cargo e deverá cumprir uma quarentena, o que o tira da defesa de Dilma. Esse problema está sendo tratado por Cardozo e pelo entorno da presidente, que já busca alternativas para sua defesa jurídica.

No Senado, Dilma reforçará sua equipe de articulação, com a ministra Kátia Abreu (Agricultura), que é senadora e espera a manutenção do apoio do ministro Eduardo Braga (Minas e Energia), também senador e ex-líder de seu governo. A petista voltou a dizer que a expectativa esta semana é que o STF permita a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil, decisão pautada para amanhã. A eventual liberação de Lula é vista no Planalto como um trunfo para reaglutinar forças aliadas.