Não se discute que é no campo econômico que o vice-presidente Michel Temer terá as mais urgentes demandas, caso o impeachment da presidente Dilma venha a ser consumado pelos senadores. Mas não se deve menosprezar, no plano político, o posicionamento que terá um possível governo Temer diante do combate à corrupção e, em especial, da Operação Lava-Jato.
E devido a fundadas razões. Pois o PMDB do vice-presidente é, ao lado do PT e do PP, partido beneficiado no petrolão, como mostra a Lava-Jato. Parte dos muitos milhões surrupiados do caixa da Petrobras por meio de um esquema em que diretores da estatal apadrinhados por políticos assinavam, com empreiteiras pré-escolhidas, contratos superfaturados foi para peemedebistas. Isso não mais se discute, consta de autos de processos que já condenam acusados pelo juiz Sérgio Moro.
Não bastasse isso, há pelo menos um peemedebista muito próximo ao vice-presidente arrolado nas investigações da Lava-Jato: senador Romero Jucá, de Roraima, atual presidente em exercício do partido, citado na delação premiada do empreiteiro da UTC, Ricardo Pessoa, o primeiro a testemunhar sobre a existência da operação de lavagem de dinheiro de propina na Petrobras com a conversão dos recursos em doações legais a candidatos e partidos.
Jucá confirmou ter pedido apoio de Pessoa à campanha do filho em Roraima, enquanto Pessoa afirmou ter entendido que aquela doação seria em troca de contratos da UTC para a construção de Angra 3, firmados com a Eletronuclear.
Constatar, enquanto se aproximava a votação da admissibilidade do impeachment na Câmara, quão próximo é o relacionamento entre Jucá e Temer fez levantar justificáveis temores com relação à autonomia que terá a Polícia Federal, peça-chave na Lava-Jato, com o vice no poder.
Michel Temer, portanto, se desejar se contrapor ao lulopetismo também na ética, como quer a sociedade, caso Dilma seja mesmo impedida, precisa se preparar para blindar a Polícia Federal contra qualquer interferência indevida.
Na guerra de informações que houve no fim de semana entre dilmistas e correligionários de Temer, pela internet, o vice-presidente, atacado exatamente por este flanco ético, divulgou declaração em apoio à Lava-Jato. Precisará fazer bem mais, com ações objetivas que garantam que a PF continuará com liberdade operacional, e, em Curitiba, trabalhando de maneira afinada com o Ministério Público e a Justiça.
Um ato simples, mas de forte poder de sinalização será manter na direção-geral da PF o delegado Leandro Daiello, há cinco anos à frente da instituição. Ele acompanha a Lava-Jato desde o início.
O sinal precisa ser bastante forte, porque não é apenas Jucá o único peemedebista implicado na Lava-Jato. Há Renan Calheiros, Edison Lobão, Eduardo Cunha, apenas para citar a bancada do partido no Congresso.