domingo, 2 de novembro de 2014

Mundo deverá quadruplicar energias renováveis até 2050 para conter mudanças climáticas

O Globo

Novo relatório do IPCC afirma também que combustíveis fósseis precisarão ser 'extintos' até 2100


Combustíveis fósseis deveriam ser 'extintos' até 2100, segundo o IPCC Foto: INA FASSBENDER / REUTERS
Combustíveis fósseis deveriam ser 'extintos' até 2100, segundo o IPCC - INA FASSBENDER / REUTERS


COPENHAGUE - Se o mundo quiser evitar que as mudanças climáticas se tornem irreversíveis, o uso irrestrito de combustíveis fósseis deve acabar o quanto antes. Essa é a mensagem central de um novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado neste domingo (02) em Copenhague, na Dinamarca.

De acordo com o estudo, sem uma ação concertada para conter a emissão de carbono, as temperaturas aumentariam nas próximas décadas e chegariam a quase 5ºC acima dos níveis pré-industriais até o final deste século. Políticos e diplomatas concordaram que um aumento de 2ºC é o limiar do perigo. Neste relatório, os autores delineiam uma série de rotas para manter esse nível até o fim do século.
Há 66% de chances de que o aumento da temperatura global seja menor do que 2ºC, caso sejam criadas imediatamente políticas de mitigação das mudanças climáticas. No entanto, este custo será muito maior se nada for feito até 2030.

Para evitar o pior, cientistas estipularam metas claras para a Humanidade ao longo deste século. O relatório sugere que as fontes de energias renováveis ​​terão de crescer a partir de sua participação atual de 30% para 80% do setor de energia até 2050. No longo prazo, o relatório afirma que "a geração de energia de combustíveis fósseis será eliminada quase totalmente por volta de 2100".

A síntese do relatório foi divulgada depois de uma semana de intenso debate entre cientistas e funcionários do governo. O estudo diz ainda que o mundo enfrenta impactos "graves, generalizadas e irreversíveis", sem ação efetiva sobre o carbono.
O presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, informou que a eletricidade mais verde é fundamental.

- Se o mundo quer ir neste caminho de manter temperaturas aumentos abaixo de 2ºC até o final do século, teremos de triplicar ou quadruplicar o uso de energia de baixo carbono ou carbono zero a partir de fontes renováveis e outras fontes, como a bioenergia.
A clareza da linguagem sobre o futuro do carvão, petróleo e gás foi saudado por ativistas.
- O que eles disseram hoje é que temos de chegar a zero de emissões, e isso é novo - disse à rede BBC Samantha Smith, do WWF.

Três relatórios anteriores do IPCC lançados nos últimos 13 meses concentraram-se nas causas, nos impactos e nas possíveis soluções para as mudanças climáticas. A síntese deste domingo compila os principais pontos desses últimos estudos e tem como objetivo oferecer subsídios para as discussões diplomáticas entre países a fim de rascunhar um novo tratado internacional sobre mudanças climáticas em 2015.

O relatório reafirma ainda posições já expressadas pelo IPCC, como a participação "inequívoca" do homem no aquecimento global. De acordo com os cientistas, o período entre 1983 e 2012 foi o mais quente dos últimos 1.400 anos. A elevação das temperaturas já teria impactos visíveis ao redor do globo, como a acidificação dos oceanos e o derretimento do gelo do Ártico.

Espera-se que na Conferência do Clima de Paris, em 2015, países desenvolvidos e em desenvolvimento consigam estabelecer metas conjuntas para redução de CO2. Até agora, porém, as nações emergentes recusam-se a “pagar a conta” dos países mais ricos, os primeiros a poluírem a atmosfera.

Brasil e União Europeia divulgaram metas voluntárias para o corte de emissões de gases-estufa nos próximos anos. A China assinalou que informará, até 2030, quando atingirá seu pico de emissões. Os EUA, por sua vez, cobram maior transparência da potência asiática, antes de adotarem compromissos mais concretos.

Cinco anos atrás, a Conferência do Clima de Copenhague produziu uma frustração mundial ao terminar sem um acordo entre os países. Segundo Ban ki-Moon, secretário-geral da ONU, os países alegaram falta de informações mais robustas sobre os efeitos das mudanças climáticas – um pretexto que, nas próximas negociações, não poderá mais ser usado.