sábado, 2 de agosto de 2014

A cidade de Quedas do Iguaçu, no Paraná, foi praticamente tomada pelo MST. A invasão tem apoio de grupo ligado ao PT

Blog Ricardo Setti - Veja


BADERNA: A cidade de Quedas do Iguaçu, no Paraná, foi praticamente tomada pelo MST. A invasão tem apoio de grupo ligado ao PT. Alguma surpresa?



(Foto: Cristiano Mariz)
Ao invadir apenas as terras mais lucrativas, os sem-terra se estabelecem e criam seus filhos — os futuros líderes do MST (Foto: Cristiano Mariz)

CIDADE SITIADA


Com o apoio de um grupo ligado ao PT, o MST resolve retomar a invasão de fazendas produtivas. No Paraná, uma indústria pode até encerrar as atividades

Reportagem de Robson Bonin, de Quedas do Iguaçu (PR), publicada em edição impressa de VEJA


As roupas, os carros e as caminhonetes estacionados ao lado das barracas construídas com toras de madeira revelam que o perfil dos militantes do MST que invadiram há duas semanas as terras de uma indústria de reflorestamento no interior do Paraná mudou radicalmente nos últimos anos. É a nova geração de invasores, que usa tênis de marca, tem celular, motos e caminhões para ajudar no trabalho pesado.

Cobertos por lonas novas, mais resistentes do que no passado, os barracos são espaçosos e estão fartamente abastecidos de suprimentos enviados pelas cooperativas ligadas ao movimento. O semblante desenganado dos desafortunados deu lugar a um ar confiante e a um discurso mais arrumado sobre o que eles entendem por reforma agrária. A maioria tem endereço fixo e a lona é nada mais que um ritual de passagem.

A ocupação é o atalho pelo qual muitos filhos de assentados esperam deixar a casa dos pais para construir o próprio patrimônio. Antes inimigos declarados do Estado, que não lhes provia condições dignas de vida no campo, os jovens sem terra agora posam na internet abraçados com lideranças políticas de Brasília. Só uma coisa não mudou: a tática e os métodos criminosos para se apossar de propriedades alheias.

Quedas do Iguaçu é um município de 33 000 habitantes a 447 quilômetros de Curitiba que estrutura sua economia na agricultura, na pecuária e no setor de beneficiamento de madeira, em que se destaca a Araupel, uma das maiores indústrias de reflorestamento da região.

A empresa emprega um quarto da força de trabalho da cidade. Além de gerar 2 000 empregos diretos e indiretos, sustenta toda uma rede de fornecedores que injeta na economia 50 milhões de reais por ano em salários e investimentos, valor equivalente ao próprio orçamento municipal. É a espinha dorsal econômica da cidade. É, também, o alvo principal do MST.


COM-CARROS — A nova geração de sem-terra que invadiu a fazenda da Araupel quer fechar a unidade da indústria de Quedas do Iguaçu, que gera 2 000 empregos diretos e indiretos, porque ela exporta peças de madeira para os Estados Unidos (Foto: Cristiano Mariz)
COM-CARROS — A nova geração de sem-terra que invadiu a fazenda da Araupel quer fechar a unidade da indústria de Quedas do Iguaçu, que gera 2 000 empregos diretos e indiretos, porque ela exporta peças de madeira para os Estados Unidos (Foto: Cristiano Mariz)


Há duas semanas, 500 sem-terra armados com foices e facões ocuparam um novo pedaço da fazenda da Araupel – que já foi uma das grandes proprietárias de terras da região, com 85 000 hectares de florestas cultivadas no estado. Nas últimas duas décadas, o MST promoveu quatro invasões nas áreas da indústria e conseguiu a desapropriação de 52 000 hectares, criando o maior assentamento da América Latina – mas, segundo os líderes do movimento, ainda insuficiente.

Uma vez assentados, os sem-terra criam os filhos para ser os invasores do amanhã. Desse modo, não importa quantas famílias o governo ampare, sempre haverá novos sem-terra e mais invasões.

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