O Estado de São Paulo
Água era o meu foco. Revisitava o Rio Piracicaba castigado pela seca. No
passado fui a algumas reuniões do Comitê de Bacia. Já havia na época uma
preocupação com o futuro do rio, tão solicitado: abastece uma região em
crescimento e mais 8,8 milhões de pessoas em São Paulo.
Lembrei, à beira do Piracicaba, alguns autores no fim do século passado
afirmando que a água seria o petróleo do século 21, com potencial de provocar
conflitos e até guerras. Mas ao falar no petróleo como algo do passado constatei
que está na ordem do dia. Enterraram uma fortuna em Pasadena, no Texas. Outra
Pasadena, na Califórnia, é a cidade cenário da sitecom The Big Bang Theory.
Pois é, nossa Pasadena começou com um singular ponto que se expande de forma
vertiginosa. Foi uma espécie de Big Bang na consciência dos que ainda duvidavam
que a Petrobrás estivesse indo para o buraco nas mãos dos aliados PT e PMDB.
Diante dos fatos, vão-se enrolar de novo na Bandeira Nacional, sobretudo num
momento de Copa do Mundo, fulgurante de verde e amarelo.
Os críticos da Petrobrás não são bons brasileiros. Bons são os que se
apossaram dela e a fizeram perder R$ 200 bilhões nestes anos e despencar no
ranking das grandes empresas do mundo.
O líder do governo, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), disse que a perda desse
dinheiro faz parte do jogo capitalista de perde e ganha. Se fosse numa empresa
privada, dificilmente seus diretores resistiriam no cargo. Em Pasadena
enterrou-se dinheiro público. O que deveria ser mais grave em termos
políticos.
Pasadena é uma boa versão com sotaque latino para Waterloo. Dilma Rousseff
afirma que assinou a compra da refinaria no Texas sem conhecer as cláusulas.
Depois disso conheceu. Ela lançou uma nota para explicar o momento em que não
sabia. E se esqueceu de explicar todos os anos de silêncio e inação.
Os diretores que teriam omitido as cláusulas que enterram mais de US$ 1
bilhão em Pasadena continuaram no cargo. Até a coisa explodir mesmo. Tenho a
impressão de que tentaram sentar-se em cima da refinaria de Pasadena.
Sentaram-se numa baioneta, porque não se esconde um negócio desastroso de mais
de US$ 1 bilhão.
Os fatos começam a se desdobrar agora que os olhares se voltam para esse
refúgio dos nacionalistas, defensores da Pátria enriquecidos.
Uma empresa holandesa cobrou US$ 17 milhões da Petrobrás por serviços que não
constavam do contrato. A primeira parcela da compra em Pasadena foi declarada
como US$ 360 milhões, mas no documento americano ela foi registrada como uma
compra de US$ 420 milhões. Refinarias compradas no Japão têm as mesmas cláusulas
do contrato desastroso de Pasadena.
Um amigo de Brasília me disse ao telefone: "Se esse Paulo Roberto Costa,
diretor da Petrobrás, abrir a boca, a República vai estremecer". Conversa de
Brasília. Quantas vezes não se falou o mesmo de Marco Valério?! O que pode
trazer revelações são os computadores, pen drives e documentos encontrados na
casa dele. A Polícia Federal não acreditava que ele iria falar, tanto que o
prendeu com o argumento de que estava destruindo provas.
Passa, passa, Pasadena, quero ver passar. A Petrobrás da nossa juventude, dos
gritos de "o petróleo é nosso", se tornou o reduto preferido dos dois grandes
partidos que nos governam. O petróleo é deles, do PT e do PMDB. Levaram o slogan
ao pé da letra e suas pegadas na maior empresa do País demonstram que devoram
até aquilo que dizem amar.
De certa forma, isso já era evidente para mim nas discussões dos contratos do
pré-sal. Eles impuseram uma cláusula que obriga a Petrobrás a participar de
todos os projetos de exploração. Não deram a chance à empresa de recusar o que
não lhe interessava.
Tudo isso é para fortalecer a Petrobrás, isto é, fortalecer-se com ela, com
uma base de grandes negócios, influência eleitoral e, de vez em quando, uma
presepada nacionalista, tapas imundos de óleo nas costas uns dos outros,
garrafas de champanhe quebradas em cascos de navios.
Lá, no Texas, os magnatas do petróleo usavam aqueles chapéus de cowboy. Lá,
em Pasadena. Aqui, os nossos magnatas em verde e amarelo estão com poucas opções
no momento. Ou reconhecem o tremendo fracasso que é a passagem dos "muy amigos"
da Petrobrás pela direção da empresa ou se enrolam na Bandeira e acusam todos de
estarem querendo vender a Petrobrás. Diante das eleições e da Copa do Mundo,
devem optar por uma alternativa mais carnavalesca.
Mas os fatos ainda não são de todo conhecidos. Deverá haver uma intensa
guerra de bastidores para que não o sejam, especialmente os documentos nas mãos
da Polícia Federal.
Pasadena. Certos nomes me intrigam. O mensalão não seria o que foi se não
houvesse esse nome tão popular inventado por Roberto Jefferson, que no passado
apresentava programas populares de TV. Pasadena soa como algo esperto, dessas
saidinhas em que você vai e volta em cinco minutos, leve e faceiro. Mas pode ser
que Pasadena não passe e fique ressoando por muito tempo, como o mensalão. E se
tornar uma saidinha para comprar cigarros, dessas sem volta, para nunca
mais.
Criada uma comissão no Congresso Nacional, envolvidos Ministério Público e
Polícia Federal, podem sair informações que, somadas às de fontes independentes,
deem ao País a clara visão do que é a Petrobrás no período petista. Não tenho
esperança de que depois disso todos se convençam de que a Petrobrás foi
devastada. Mas será divertido vê-los brigando com os fatos, com as mãos
empapadas de óleo.
Diante do Rio Piracicaba meu foco é a água. Na semana passada, vi como na
Venezuela o uso político do petróleo deformou o país. No Brasil o alvo da
voracidade aliada é a Petrobrás.
E se a água é o petróleo do século 21, daqui a pouco vão descobri-la, quando
vierem lavar as mãos nas margens dos nossos rios.