O que há de espantoso na fala de Lula é ele achar que está acima do baixo nível do Congresso, que nunca teve nada a ver com isso
Diante de uma plateia formada por doutrinadores petistas, também conhecidos como professores, e na presença do presidente da Câmara, o reto e vertical Hugo Motta, Lula desancou o Congresso Nacional.
O presidente da República disse que o Congresso “nunca teve o baixo nível como tem agora”. Discordo. O Congresso chegou faz tempo ao mais profundo dos níveis de indecência do poço brasileiro. Foi quando Lula começou a comprar votos de parlamentares, no seu primeiro mandato, naquele esquema que levou o nome de mensalão.
O Congresso lá chegou e de lá jamais saiu. Só que agora já não precisa tanto da bufunfa distribuída pelo presidente da República para chafurdar na lama, visto que passou a ter butim próprio, o das emendas de bilhões de reais sobre as quais não precisa prestar contas de verdade, e muitas vezes nem de mentira, a ninguém.
Na minha cada vez mais cansativa constatação, que anda ao par com a minha cada vez mais modesta opinião, Lula está incomodado com o baixo nível do Congresso por este motivo, primeiramente: o poder de compra do presidente da República só não diminuiu mais do que o de quem paga a conta toda, o pagador de impostos.
O segundo motivo do incômodo de Lula é ideológico-eleitoral e foi explicitado por ele próprio na sequência da frase sobre o baixo nível do Congresso: “A extrema direita que se elegeu em 2022 é o que existe de pior”
Para o presidente da República, assim como para os seus asseclas, tudo o que não é esquerda é “extrema direita”; a desqualificação é tão velha quanto a múmia de Lênin, e qualquer voz discordante deve ser calada e, por que não, aniquilada.
Seja no Congresso, na imprensa ou nas redes sociais. Lula é tão democrático quanto eu sou neurocirurgião. Embora tenha sido deputado constituinte, o chefão petista nunca teve apreço pelo Congresso.
Em 1993, já em campanha para a eleição presidencial do ano seguinte, ele disse em Rondônia que existia “uma minoria de parlamentares que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns 300 picaretas que defende apenas seus próprios interesses”. Criticado na época — da mesma forma que hoje — pela sua declaração sobre os 300 picaretas, Lula a reafirmou, dizendo que bastava “acompanhar as votações do Congresso, como a que decidiu sobre a (ampliação da) duração do mandato do ex-presidente José Sarney”.
É um homem de convicções inabaláveis. O que há de espantoso na fala do presidente da República é ele achar que está acima do baixo nível do Congresso, que nunca teve nada a ver com termos atingido o fundo do poço. É que tenho a dizer sobre assunto tão instigante. Thank God it’s Friday.
Revista Oeste