Ex-presidente concede entrevista exclusiva ao Oeste Sem Filtro, nesta sexta-feira, 21; confira
Bolsonaro concede entrevista exclusiva ao Oeste Sem Filtro | Foto: Revista Oeste
Em entrevista exclusiva ao Oeste sem Filtro desta sexta-feira, 21, o ex-presidente Jair Bolsonaro considerou a denúncia do Procurador Geral da República (PGR) Paulo Gonet “mais fantasiosa ainda” do que o relatório apresentado pela Polícia Federal.
Bolsonaro foi denunciado por suposta tentativa de golpe de Estado na última terça-feira, 18. Esta é a primeira entrevista do expresidente desde então.
Bolsonaro ressaltou que mesmo veículos que não simpatizam com seu governo destacaram as irregularidades no processo. “Tem quatro manchetes da Folha de S.Paulo favoráveis a mim, no mesmo dia”, disse. “A imprensa, como um todo, não tem como não falar a verdade”
A Polícia Federal considera que as críticas de Bolsonaro ao processo eleitoral e às urnas eletrônicas eram parte de uma estratégia de campanha para descredibilizar o resultado das eleições e, assim, justificar um golpe de Estado.
No entanto, o ex-presidente lembra que luta pelo voto impresso e auditável desde 2012, bem antes de sequer candidatar-se à Presidência. “Nos anos 2015 ou 2016, aprovei uma emenda para que tivéssemos o voto impresso”, recorda. “Até que, de repente, o Supremo Tribunal Federal diz que o voto impresso é inconstitucional.”
Bolsonaro aponta que foi instaurado um inquérito na Polícia Federal para investigar uma denúncia de fraude nas eleições presidenciais de 2018. O Inquérito 1361, distribuído publicamente na época, foi discutido pelo então presidente em uma reunião com embaixadores estrangeiros, em julho de 2022.
No dia seguinte, segundo Bolsonaro, o documento foi classificado como sigiloso. “Esse inquérito tem que ser mostrado para a opinião pública”, defende o ex-presidente.
Moraes pratica pesca probatória
Bolsonaro criticou as atitudes do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que pesa contra o ex-presidente sobre o suposto golpe de Estado, e o acusou de praticar “pesca probatória”.
“Em cima da pesca probatória, deram o telefone do [Mauro] Cid e permitiu esse leque de observações, até essa questão de golpe”, disse Bolsonaro. “Estamos nessa situação hoje em dia, com trinta e poucos denunciados.”
Bolsonaro destaca que sequer estava no Brasil quando houve a depredação da Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023. “No meu entendimento, e no entendimento do ministro da Defesa, José Múcio, ninguém quis dar um golpe”, lembra, em referência à recente declaração do ministro de Lula.
“É muito abuso em cima desse fato, parece algo pessoal do sr. ministro [Alexandre de Moraes] contra minha pessoa”, diz Bolsonaro.
O ex-presidente ainda considera que o foro adequado para julgá-lo é a primeira instância judiciária, visto que ele não possui mais cargo público e, consequentemente, não dispõe de foro privilegiado. “Eu sendo julgado, tem que ser o Plenário [do Supremo], o pessoal do 8 de janeiro está sendo julgado pelo Plenário”, enquanto Bolsonaro deve ser julgado pela Primeira Turma do STF, formado por Moraes e 4 indicados pelo PT.
Ele ainda deseja que seu julgamento não seja realizado através de vídeos, mas sim presencialmente. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), entidade máxima da advocacia brasileira, condena a sustentação oral filmada — procedimento comum no STF de hoje.
“Isso chama-se devido processo legal, amplo direito ao contraditório, legítimo direito à defesa”, enumera Bolsonaro. “Se fala o tempo todo que o Estado Democrático de Direito estava ameaçado comigo, e para restabelecê-lo, valia tudo, até a censura.”
Além disso, o ex-presidente destaca que teve atritos pessoais com outros membros da Corte, o que os tornaria suspeitos para o julgamento. “Flávio Dino, fomos deputados juntos, ele estava no PCdoB e já tivemos arranca-rabo lá dentro”, disse. “Já tive problemas com o ministro [Luís Roberto] Barroso quando ele era advogado do [Cesare] Battisti [terrorista italiano exilado no Brasil], e eu deputado federal.”
“Deveriam ser pessoas impedidas de julgar, mas nós sabemos que o Supremo Tribunal Federal toma decisões políticas”, critica Bolsonaro. Sendo assim, o ex-presidente destaca a estratégia de sua defesa para levar o julgamento a Plenário, ou seja, para todos os ministros votarem.
Bolsonaro ainda disse que sua possível condenação seria “muito ruim para o próprio Supremo Tribunal Federal”. “Não tem a mínima prova contra minha pessoa”, reforça o ex-presidente. “É comum falar ‘Bolsonaro na cadeia’ e, de vez em quando, todas as manchetes dos jornais dizem que ‘Bolsonaro vai ser preso’.”
“Qual é o crime que eu cometi?”, pergunta. “Se não tivéssemos as mídias sociais, eu já estaria preso há muito tempo.”
Mauro Cid na berlinda Bolsonaro reforçou a estratégia de sua defesa para anular a delação de Mauro Cid, uma das principais peças que baseiam o relatório da Polícia Federal e a denúncia da PGR. “Afinal de contas, na questão da Lava-Jato, por muitíssimo menos, várias delações foram anuladas e os réus postos em liberdade, e até mesmo recebendo o que devolveram.”
Perguntado por Augusto Nunes sobre a ameaça de prisão de Moraes contra Cid, Bolsonaro disse que “tem certeza” que sua defesa usará este trecho para buscar a anulação da delação.
“O sistema, o Estado profundo, me quer morto, não me quer preso”, denuncia Bolsonaro.
“Eu tenho pena do que o Cid está passando, sempre falei que ele é como um filho para mim”, disse Bolsonaro, que classificou a situação a que foi submetido como “tortura”. “Não adianta falar a verdade, eles querem outra coisa.” “É uma coisa que a gente não acredita que aconteceu na história”, disse Bolsonaro, que comparou com o nazismo. “Pegam a mulher do cara, o filho do cara, é isso que foi implantado no Brasil.”
O ex-presidente ainda destaca que sua defesa solicitou a íntegra da delação, a fim de identificar se há algum corte em seu conteúdo.
“Foi uma farsa esse 8 de janeiro”
Bolsonaro ainda questionou as razões pelas quais o militar Gonçalves Dias, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional na ocasião dos ataques, não foi denunciado.
“Ele estava no meio de terríveis conspiradores, terroristas armados, e tudo bem? Ninguém deu um tiro nele, tentou sequestrar, envenenar?”, indagou.
“Então, foi uma farsa esse 8 de janeiro.” “Eu não tenho culpa de nada e digo que os outros não tinham a mínima condição de tentar dar um golpe, zero chance”, disse Bolsonaro, que ironizou: “Que golpe é esse que o Mossad [órgão de inteligência de Israel] não estava sabendo?”
Bolsonaro destaca que a suposta “minuta do golpe” previa a hipótese de Estado de sítio e Estado de defesa, instrumentos constitucionais. “Ninguém dá golpe usando a Constituição.” O ex-presidente também reforçou que a denúncia que sofreu não interfere na luta pela anistia.
“Todo dia eu converso com parlamentares, não influenciou em nada”, disse. Bolsonaro convidou a população a fazer “um movimento monstro” em Copacabana, no Rio de Janeiro, no ato de 16 de março.
O ex-presidente garantiu a presença do pastor Silas Malafaia, do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
“A pauta mais importante é a anistia” aos presos do 8 de janeiro, destaca Bolsonaro. “Muita gente que foi condenada nem estava lá na Praça [dos Três Poderes].”
Para Bolsonaro, a ofensiva jurídica contra ele representa uma tentativa de inviabilizar a direita nas próximas eleições presidenciais, em 2026. “Eles querem tirar a direita da disputa eleitoral do ano que vem”, acredita.
“Apesar de todos os ataques que eu sofro, pancada o tempo todo, a pesquisa do Paraná Pesquisas me coloca cinco pontos à frente do Lula.” O ex-presidente ainda lembrou as restrições que teve durante as eleições de 2022.
“Não podia falar que o Lula defendia o aborto, não podia colocar imagens do Lula defendendo roubo de celular pra tomar cervejinha, não podia mostrar o Lula ao lado de Ortega, Chávez, Fidel Castro, Maduro”, recorda.
“Negar que o TSE não colocou o dedo na balança é ser cego.”
“Do outro lado, me acusavam de fascista, racista, homofóbico, até de pedófilo fui acusado, era uma mentira em cima da outra”, lembra.
“Além daquelas 1,5 milhão de inserções de rádio que não tivemos na reta final.” Bolsonaro também reforçou seu nome como “o único da direita que pode derrotar uma possível reeleição do Lula”, com base em um levantamento do Instituto Paraná Pesquisas.
“Eu aceitar a inelegibilidade passivamente porque um burocrata decidiu me
Bolsonaro ainda comparou sua situação com o que Donald Trump viveu nos Estados Unidos. “Ele passou quatro anos ameaçado de prisão, até depois das eleições continuou com a ameaça”, recorda. “O que Trump sofreu costumam chamar de lawfare, a interferência política, ativismo judicial na política. Aqui eu sofro a mesma coisa.”
Apesar disso, Bolsonaro se mostra otimista com o futuro do Brasil. “A direita veio pra ficar, os conservadores vieram pra ficar e essa onda está no mundo todo”, ressalta.
“O futuro de qualquer país passa pela capacidade de seu povo se instruir e usar de seu patrimônio para que, ao gerar, conhecimento, consiga benefício.”
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