quinta-feira, 24 de setembro de 2020

"O custo de uma eleição", revela J.R. Guzzo

 

A Justiça Eleitoral transformou-se num mamute burocrático cada vez mais caro

Todas as vezes que você ouvir alguma dessas peças de propaganda pró-virtude da “Justiça Eleitoral”, dando aulas de moral e cívica e ensinando como o eleitor deve votar nas eleições para prefeito que vêm aí, lembre-se que isso não está apenas enchendo a sua paciência — também está custando dinheiro, e esse dinheiro sai todinho do seu bolso. 

Os gestores da excelência eleitoral brasileira já devem ter tentado lhe demonstrar, em outras ocasiões, que o custo das eleições no Brasil é pouca coisa, levando-se em conta os ganhos extraordinários que elas trazem para a sociedade. 

O que se ganha, na vida real, são esses políticos que estão aí — e cada cidadão que faça o juízo que quiser sobre a sua qualidade. Mas na questão do dinheiro não há dúvida nenhuma: é mentira o que estão dizendo. 

Eleição custa uma fortuna.

A “Justiça Eleitoral”, coisa que não existe em nenhuma democracia séria do mundo — simplesmente porque se considera, ali, que um negócio desses não tem a menor utilidade —, transformou-se, no Brasil, num mamute burocrático cada vez mais caro. 

Sua influência na melhoria do nível dos políticos eleitos é igual a três vezes zero. 

Em compensação, joga para cima do contribuinte uma despesa exorbitante: 20 milhões de reais por dia, ou perto de 7,5 bilhões por ano, mesmo em anos em que não há eleição alguma. 

(Essas são as últimas cifras disponíveis; pode ser mais, é claro.)

O mais curioso é que, embora haja uma quantidade fixa de eleições — uma a cada dois anos —, as despesas não param de crescer. 

Em 2017, por exemplo, quando não foi feita nenhuma eleição, o custo do aparato eleitoral foi 50% maior que o de 2016, quando o país teve suas últimas eleições municipais — estas que vão se repetir agora em novembro de 2020. 

E onde eles conseguem gastar tanto dinheiro? 

Acertou: 90% de tudo vai para pagar a folha de funcionários.

A organização das eleições poderia, é claro, ficar nos limites de uma repartição pública modesta (sobretudo numa realidade cada vez mais digital), encarregada de expedir títulos de eleitor, convocar mesários, registrar candidatos e realizar outras tarefas de baixa complexidade. 

Nem pensar. 

Deram um jeito de criar uma estrutura XXXX-L, incluindo nela até mesmo um “Tribunal Superior Eleitoral”, uma espécie de Supremo Tribunal Federal do setor; naturalmente o TSE dispõe do seu próprio palácio-sede (aliás, já está no segundo prédio desde a construção de Brasília) e custa cerca de 2 bilhões por ano para o público pagante. 

É claro que arrumaram também 27 “tribunais regionais”, um para cada Estado — cada um com a sua sede etc. etc.

A “Justiça Eleitoral” tem grandes planos para você. Foram autorizados, neste 2020 de covid-19 e de economia em processo de destruição, concursos para contratar mais de 1.000 novos funcionários (1.002, mais exatamente) para diversos dos “Tribunais Regionais”. 

Salários? 

Estamos, aí, em pleno Brasil-Suécia. 

O salário inicial para “técnico”, o cargo mais modesto, é de R$ 8.500. 

Para funções de “segurança”, a remuneração mínima é R$ 9.600. Já um “analista” começa a vida com R$ 13.500. 

Conseguiram inventar, acredite se quiser, nada menos que um “oficial de justiça”, como os que a Justiça comum utiliza para servir notificações de despejo etc. 

Salário inicial: cerca de R$ 15.000.

Entende-se perfeitamente, aí, o medo-pânico de todo esse mundo quando ouve falar no fim do voto obrigatório.

O Estado de São Paulo