Ministro do STF, que vai comandar as eleições, diz que ‘democracia é resiliente’ apesar de Jair Bolsonaro
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso é, desde maio, — por força do rodízio natural de cadeiras — o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Nesta quarta-feira, 26, participou de um encontro com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, promovido pelo instituto que leva o nome do tucano, sobre “Respostas Constitucionais a Retrocessos na Democracia” — também foi convidado o ex-ministro alemão Dieter Grimm.
O tema subliminar da conversa (um webnário em tempos de pandemia) já indica qual seria o norte: Jair Bolsonaro.
Eis que Barroso, à vontade, disparou: “A democracia brasileira tem sido bastante resiliente, embora constantemente atacada pelo próprio presidente. Uma coisa que contribui para a resiliência da democracia no Brasil é justamente a liberdade, independência e poder da imprensa brasileira”.
Sobre o papel que FHC nunca escondeu na História, a História já contou.
Mas quando Barroso traz à luz do hoje o papel da imprensa como pilar da democracia, fala o óbvio à incansável plateia antibolsonarista de plantão.
Quando Barroso diz que a democracia é atacada pelo próprio presidente, erra.
Desde a posse, não houve um único movimento real — para além dos jornais que o ministro do Supremo frequenta — que demonstre um golpe de Estado em curso.
Críticas à imprensa, sim — e muitas vezes com razão.
Como escreveu J.R.Guzzo: “O Supremo Tribunal Federal do Brasil é hoje um partido político. Abandonou, já há um bom tempo, as aparências de uma corte de Justiça, e no momento funciona praticamente em tempo integral como um escritório de despachantes que se dedica a servir os interesses ideológicos, pessoais e partidários dos seus onze ministros”.
Vou além: há uma máxima que corre há décadas na Praça dos Três Poderes, segundo a qual “acima do Supremo Tribunal Federal, só Deus.
E talvez, nem Ele”.
Fosse um país sério, ministros como Barroso ou os seus “iluminados pares” também não atuariam como comentaristas políticos e, sim, como juízes silenciosos que guardam a Carta e a Lei.
Não à toa, a Suprema Corte é o Poder mais enxovalhado pela opinião pública, algo que a cada canetada de Gilmar Mendes e Dias Toffoli nas operações contra crimes de colarinho branco configura-se um caminho quase sem volta — embora eles pareçam não se importar.
Barroso vai comandar as eleições, premissa básica da democracia que ele diz estar em risco agora.
Que atenha-se a esse dever que a toga lhe obriga.
Sem fervor político, basta juízo eleitoral.
É o mínimo que os eleitores não tão aflitos esperam dele.
No mais, é preciso ter resiliência com ele.
Revista Oeste