segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Secretário-geral do Ministério da Defesa fala sobre o legado das Forças Armadas na pandemia provocada pelo vírus chinês

 

Almir Garnier

O secretário-geral do Ministério da Defesa, almirante Almir Garnier

Este trecho faz parte da entrevista que o secretário-geral do Ministério da Defesa, almirante Almir Garnier, concedeu a Oeste. Acompanhe a outra parte da entrevista, publicada na última sexta-feira, 21.  

O que o senhor responderia aos críticos que dizem que o governo não tem coordenação e não combate a pandemia?

Em primeiro lugar, precisamos deixar as paixões de lado. Esse é um tema muito sério, que envolve vidas humanas. Muitas vidas estão sendo perdidas dessa forma. Então, temos que ter cuidado. Se não queremos nos levar por paixões, temos que nos pautar por dados. Quando olhamos os números, vemos que, infelizmente, passamos de 100 mil mortes com o vírus. Contudo, o que temos que fazer é olhar para o número de mortes por milhão, para ter uma referência mundial. Essa referência deixa claro que a coordenação do governo, o esforço integrado, gerenciado pela Casa Civil desde o primeiro dia, antes até que a OMS decretasse a pandemia, salvou muitas vidas. Nossos números são melhores que os de alguns países mais desenvolvidos que nós. E de fato é isso que importa, a vida dos brasileiros.

E sobre a falta de coordenação?

Bobagem, isso não ocorreu e não ocorre. Foi decretada a emergência num dia e no dia seguinte já havia reunião do gabinete de crise coordenado pela Casa Civil, que se reúne até hoje, todos os dias, às 10 horas, em que todos os ministérios — e começamos com todos os secretários-executivos — se reuniam. Nos primeiros dias fizemos reuniões duas vezes por dia, foram criados subcomitês, de logística, para controlar as doações etc. Mesmo com todo o desconhecimento mundial sobre o comportamento da doença, ninguém ficou parado. O governo atuou desde o início, integrado e em todas as frentes.

Como a Marinha, o Exército e a Aeronáutica contribuíram durante esse período?

As Forças atuaram em muitas frentes, como, por exemplo, com desinfecção de locais de grande circulação, rodoviárias, aeroportos etc. A Força Aérea já fez o equivalente a mais de 17 voltas ao mundo, transportando pessoas, fazendo distribuição, dentro do território nacional, de insumos hospitalares e de conforto para a população brasileira. A Marinha e o Exército têm equipes de descontaminação. Ajudamos na construção de alguns hospitais de campanha, construídos em vários estados. Fizemos muitas patrulhas e inspeções de toda ordem. Conjuntamente, sob coordenação do MD e com recursos do Ministério da Cidadania, distribuímos kits de alimentação às famílias das cerca de 40 mil crianças do nosso Programa Forças no Esporte. O Exército distribuiu comida para os caminhoneiros nas estradas. A Marinha produziu respiradores junto com a USP. São tantas atividades, sem falar na nossa capacidade de organização e planejamento que, tenho certeza, muito contribuiu para a eficácia das diversas medidas adotadas. Ativamos 10 comandos conjuntos no país, com mais de 35.000 homens.

Que legado fica para o Ministério da Defesa e as Forças Armadas desta pandemia?

O maior legado é a necessidade de darmos um foco maior nas questões ligadas à biossegurança. Por exemplo, as Forças Armadas se preparam para atuar em ambientes com perigo químico, nuclear, bacteriológico e radiológico e a pandemia não deixou de ser, em certo sentido, um treinamento para atuar em questões de insegurança biológica. Então, um foco maior em biossegurança é um aprendizado conceitual importante para as Forças Armadas.

Que avaliação o senhor faz sobre o trabalho do ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello?

Não labuto na área da saúde, mas trabalhamos muito em parceria com o Ministério da Saúde. Eu diria para você perguntar aos governadores, aos prefeitos, o que eles acham do ministro Pazuello. Já vi, não vou citar nomes, por questão ética, mas já vi governadores e prefeitos elogiando a atuação do Ministério da Saúde, com o ministro Pazuello à frente, pelas medidas que ele vem tomando. Tenho certeza de que a vasta experiência dele em logística e em ações humanitárias na fronteira do Brasil estão sendo de grande valia para o Ministério da Saúde.

Existe a chamada “militarização da Saúde”, ou é apenas um rótulo?

É um rótulo. O ministério da Saúde, pelo que sei, tem mais de 4 mil colaboradores. Menos de 20 são profissionais oriundos das Forças Armadas. O que isso quer dizer? Nada. Ah, mas ele é o ministro… sim, é uma figura relevante. Contudo, o ministério tem equipes, secretários, diretores, coordenadores, tem pessoas que já estavam lá fazia muito tempo, continuam lá, e que estão trabalhando junto com o ministro.

Quanto à previsão de queda na arrecadação, em que medida isso preocupa o ministério?

Preocupa a todos os brasileiros, porque pode impactar em contingenciamentos, em reduções do Orçamento previsto na LOA [Lei Orçamentária Anual], principalmente porque temos contratos nacionais e internacionais de longo prazo, já realizados, para a aquisição de submarinos, aviões, e por aí vai. Porém, não querendo ser otimista sem fundamento, creio que nós teremos um Orçamento compatível com as necessidades mínimas que precisamos, assim como os demais ministérios. Nossa economia tem reagido melhor do que muitos previam no início da pandemia e isso deve ajudar.

O ministério conversa com o ministro Paulo Guedes para mitigar os impactos?

O Orçamento do governo federal tem um rito legal. Já foi para o Congresso a Lei de Diretrizes Orçamentárias, a LDO, que é uma primeira visão de como será o Orçamento do ano seguinte, e, em seguida, vai um projeto de lei orçamentária anual, que é o PLOA. Então, ao longo desse período todo há uma intensa conversa e exposição de necessidades, e elas são sempre muito maiores do que os recursos que temos na mão — como acontece em nossa casa. O ano que vem, sim, é um ano que deixa todo mundo apreensivo, mas há possibilidades e soluções que estão sendo articuladas. O ministro Paulo Guedes e sua equipe têm sido muito sensíveis às necessidades de todos, e não é diferente com a Defesa Nacional. Há muito diálogo entre ele e o ministro da Defesa.

A despeito de supostos atritos entre militares e a agenda econômica do ministro Paulo Guedes. Os militares estão tão desalinhados com a equipe econômica como se sugere na imprensa, quando se discute o programa Pró-Brasil?

Quem fala pelos militares é o ministro Fernando, que é o titular da Defesa, mas, entendendo sua pergunta como sendo sobre o Pró-Brasil, acho que é salutar o debate. É salutar que se proponham opções. Quer ver um exemplo? Os ministérios da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional estão entregando obras em todos os lugares. Talvez seja um tipo de ideia do plano. A verdade é que há um somatório de iniciativas, e essas iniciativas são debatidas e, quando não há consenso, o presidente decide, até porque elas precisam conviver dentro de um único orçamento.

O ministro Fernando tem um jeito diplomático de atuação. Quanto essa atitude ajudou nesse período todo?

Com certeza, é muito bom trabalhar com quem constrói pontes e não muros. É o caso do ministro Fernando. Ele constrói pontes, e isso facilita o trabalho de todos. Ele tem vasta experiência militar, mas também trabalhou no Legislativo e no Judiciário. Ajuda muito!

, Revista Oeste